Como se repetir a premissa de um ataque de tubarão branco gigante não fosse o bastante, isso foi feito de novo. A justificativa? O retorno breve da tecnologia de projeção 3D nos Anos 80. A oportunidade pareceu boa demais para deixar passar quando filmes como “Friday the 13th Part III” e “Amityville 3D” trouxeram popularidade renovada para o formato com seu sucesso na bilheteria. Que bela razão. Sem esquecer, é claro, da chance de emplacar um trocadilho conveniente com o nome “Jaws 3-D”. As audiências reencontravam o predador aquático mais popular do cinema em três dimensões depois de cinco anos longe, dessa vez provavelmente desejando que tivessem ficado o resto da vida.
Os dois irmãos Brody dessa vez se encontram na Flórida. Mike (Dennis Quaid) trabalha com sua namorada Kathryn (Bess Armstrong) em um parque SeaWorld que está para ser inaugurado para o público. Sean (John Putch) aparece para uma visita e se envolve com uma esquiadora do parque enquanto equipe se prepara para a abertura do lugar, desavisados de um enorme tubarão branco que invadiu o lugar por um portão problemático. As pessoas começam a desaparecer e logo fica evidente que há algo de errado. Os irmãos Brody novamente têm de lidar com um inimigo familiar.
Já sabia da fama das continuações de “Jaws” desde o começo e provavelmente não fui atrás delas porque já temia o pior. “Jaws 2” foi uma demonstração suavizada de quão pior as coisas ficariam depois do original. Ele é bem inferior ao primeiro e isso fica evidente em mais de um aspecto, principalmente na direção sem Steven Spielberg, a qual executa o mesmo conceito sem cuidado e rapidamente estraga o material delicado. Mesmo assim, nunca diria que todos os defeitos servem de alerta suficiente para o que estava por vir. Nada sugeria que os próximos filmes cariam ainda mais baixo, muito mais. “Jaws 3-D” é um soco no estômago que pode ser terrível, se esperado for o nível do segundo, ou hediondo, se esperar o do primeiro. É um mergulho de ponta em um poço de fracasso.
Se “Jaws 2” demonstrou não ter aprendido as lições com o anterior, “Jaws 3-D” é como o aluno que erra de propósito, mastiga o papel, defeca em cima da mesa e entrega para a professora. Seria até mais fácil dizer que tudo dá errado e encerrar a análise por aqui, pois apenas algumas cenas que sequer têm a ver com a trama principal têm algum tipo de aproveitamento, cenas que seriam vistas num SeaWorld de verdade servindo de consolo em um filme de tubarão homicida. Que coisa. Ninguém do elenco clássico retorna, outros atores interpretam os dois filhos do Chefe Brody com um extraordinário surto de envelhecimento ao parecerem 15 anos mais velhos depois de 5 anos dos eventos do anterior. A idéia de transformar crianças em adultos do nada é uma besteira que imbeciliza o roteiro e poderia ser evitada se não fosse a insistência em fazer a mesma família ser um imã de tragédias. E isso é o menor dos problemas.
Na ausência de personagens cativantes como os do passado, o espectador deve se contentar com um nome mais ou menos familiar em um rosto completamente novo e com atuações pavorosas do elenco. Sem exceção. Dennis Quaid estar aqui é mais uma vergonha em sua carreira do que um ponto positivo para “Jaws 3-D”. Com diálogos mais apropriados a produções de crianças brincando de fazer cinema, prestar atenção no desenrolar dos eventos a despeito dos personagens se torna o próximo passo lógico. E então fica claro como a idéia do roteiro é apenas uma idéia sem história alguma por trás. Não há nada. São cenas de morte mal filmadas e aleatórias soltas com interações falsas e efeitos especiais horríveis.
Ah, os efeitos especiais. Eles são pavorosos, cem vezes pior do que o pecado mais grotesco dos antecessores. É melhor dizer que a estética é um crime e seu lema é um atentado contra o dom da visão. Gravado usando um sistema em que as duas imagens responsáveis pelo efeito 3D são registradas no mesmo fotograma, “Jaws 3-D” de cara perde metade da resolução de imagem e vira um festival de granulado nas apresentações em 2D, ou seja, a maior parte das cópias disponíveis hoje. O resto do desastre vem dos efeitos especiais com fotogramas recortados e sobrepostos sobre a imagem enquanto mudam de tamanho para dar impressão de profundidade. Só que é ruim. É feio. Não funciona. O incrível feito do diretor é mostrar pouco e mostrar demais o tubarão ao mesmo tempo. Isso coroa a dura situação com uma criatura ausente em boa parte do tempo e exposta sem cuidado quando finalmente aparece e revela a falsidade do modelo, fazendo o espectador desejar que pudesse ver menos do animal. Essa é sua versão mais feia, de longe.
Mas a culpa não é só dos efeitos ou da tecnologia. Joe Alves demonstra uma inaptidão absoluta como diretor. Sua experiência trabalhando no design de produção de “Jaws” e como diretor de segunda unidade em “Jaws 2” não resulta em grande coisa em “Jaws 3-D”. Sem cenas marcantes, o espectador é deixado com assassinatos breves em cortes rápidos e nenhuma noção do que acontece. A ação, então, faz pior por sequer respeitar uma lógica básica e praticamente chamar o espectador de idiota quando pede para que ele aceite certas coisas. Destaque para a morte do tubarão, essa é direto para o hall da vergonha das artes. Não há como culpar só os efeitos especiais quando as cenas são mau concebidas desde o começo.
Por fim, fica a indignação de alguém que sem sombra de dúvida não acha “Jaws: The Revenge” pior que esse. Impossível. É freqüente demais e deve ser até automático o rotular como uma das piores continuações de todos os tempos, se não um dos piores filmes da história, enquanto o terceiro passa quase despercebido debaixo da sombra projetada por seu sucessor. A não ser que as pessoas considerem o fator comédia involuntária como um diferencial de “Jaws 3-D”, é difícil conceber ele como melhor que o quarto, sendo tão ruim que é involuntariamente engraçado, tão ruim que chega a ser bom. Não vou negar: algumas cenas tiram algumas risadas mesmo. Risadas por pena, o famoso rindo de nervoso em ação, e isso não é mérito algum.