Meu interesse por “Jaws 2” e as outras continuações não era tanto sobre as obras em si, mas sobre o que diabos deu na cabeça dos produtores em forçar a mesma premissa mais vezes. Quais as chances de um tubarão com gosto por carne humana atacar quatro vezes? Aliás, tubarões diferentes, já que nem dá para dizer que é uma síndrome de Godzilla voltando para atacar o Japão vez após vez. Fica ainda mais improvável. A explicação é a mesma para muitas coisas no mundo: dinheiro. É claro que a maior bilheteria de todos os tempos não poderia ficar sem um repeteco. E deu certo. Mesmo com as recepções críticas das continuações entre mau e pior, todas conseguiram lucrar na bilheteria.
Após o incidente com o tubarão branco em Amity Island, o Chefe de Polícia Martin Brody (Roy Scheider) é premiado por sua bravura e volta a gozar de uma vida mais tranqüila ao lado de sua família. Um empreendimento milionário inaugura um hotel na cidade para incentivar o turismo, tirando a atenção de todos do desaparecimento de um grupo de mergulhadores que fotografavam o náufrago da Orca, a embarcação do incidente. Quando outros jovens da área somem, Brody suspeita que um novo tubarão é o responsável, mas não consegue provar ou convencer outras autoridades a fazer algo a respeito.
Como era de se esperar, a falta de Steven Spielberg é sentida. O começo de “Jaws 2”, ou melhor ainda, sua proposta já é mais fraca porque já não há o mesmo suspense de antes. Claro, o título sempre entregou que é um tubarão o responsável pelas mortes, porém há muito mais além disso que torna a história mais engajante. Ambos começam com uma morte em que não é possível ver muita coisa: no primeiro, uma dupla de jovens dá uma escapadinha de um luau para nadar sozinhos e a garota é devorada sozinha porque seu parceiro cai de bêbado na areia e não vê nada; no segundo, a primeira cena literalmente envolve mergulhadores morrendo. Já não tem a mesma graça. Toda a enrolação envolvendo a primeira caça ao predador e a morte de um tubarão tigre falsamente considerado culpado são clássicos desvios de rota para enganar o espectador e atrapalhar o protagonista. Demora um tempo até que o vilão real seja visto de fato e apreciado finalmente pela sua grandeza: três toneladas, quase oito metros e algumas fileiras de dentes. Quando essa segunda parte começa, não há mais nada; já se sabe que é outro animal enorme e inteligente matando banhistas.
É frustrante ver como “Jaws 2” parece desaprender muitas das lições do primeiro. É como se não fosse claro o bastante um produto pronto, finalizado e lançado com sucesso confirmado. Parece que seguir a mesma filosofia seria simples o bastante como “Sexta-Feira 13” e outras séries extensas fizeram. Começa pelo erro crasso de mostrar o tubarão demais enquanto antes o suspense nascia justamente da ausência sugestiva de perigo, além de revelar as limitações dos esfeitos práticos da fera. E vai mais longe, a primeira aparição explícita é quase produto de um trash tosco, sendo por si uma cena mais exagerada do que qualquer outra do anterior, só que logo no começo. Longe de ser um pé na porta demonstrando intensidade, é um anticlímax que denuncia a falta de sutileza na construção de uma atmosfera de temor adequada a esse tipo de história.
Quanto a isso, poderia-se argumentar que a presença de um elenco majoritariamente de adolescentes pedia por uma mudança de estilo, talvez algo mais dinâmico e explosivo para agradar um público diferente. Bem, também é possível dizer que a troca de elenco não é uma idéia das melhores. Nenhum personagem novo iguala os antigos e a quantidade bem maior até dificulta uma conexão mais profunda. O retorno de Roy Scheider, Lorraine Gary e alguns outros atores ameniza esse quesito com rostos familiares e performances acima da média, enquanto o grupo de jovens carece de qualquer profundidade digna de menção. Curiosamente, o retorno de John Williams é menos celebrado do que o esperado. O tema clássico retorna, mas sem o apoio de uma direção sólida, assim a relação interdependente se afeta e já não funciona mais tão bem. Se o diretor não sabe gerar suspense ou o que fazer com uma cena de ação, criando caos espontaneamente por necessidade do roteiro, fica difícil para a música acompanhar uma unidade narrativa fraca.
A surpresa foi encontrar alguns feitos impressionantes de fato, cuja presença sem dúvida alguma serve como diferencial das continuações inferiores e coloca a segunda parte numa posição mais alta. “Jaws 2” não é um filme chato. Não é um filme bom também, porém consegue fazer seus 116 minutos voarem. Não há um momento de cansaço ou tédio, há uma fluidez que poucas obras de qualquer gênero alcançam, mesmo com o enredo não sendo dos mais ricos em termos de eventos engajantes. Passa uma hora, uma hora e meia, duas e os créditos rolam. É até inacreditável que algo medíocre não seja um pé no saco como tantos outros trabalhos de qualidade similar, normalmente um filme ruim acaba sendo chato também. Outro aspecto louvável, talvez o único equiparável ao original, é a fotografia trazendo de volta todos as belezas paradisíacas da pequena ilha na costa leste americana. A remasterização faz milagres ao trazer uma imagem cristalina uma segunda vez para o espectador ter algo mais para gostar.
Outro motivo para ver as continuações é puramente uma sensação de colecionismo. Só ver o primeiro parece insuficiente quando há tantos outros disponíveis, como assistir apenas ao primeiro episódio de um seriado, por pior que seja, e ir até o final nem que seja para descobrir se é possível ficar ainda pior ou se melhora por algum milagre. Só sobra isso, já que a perspectiva de uma história continuada era nula. A série “Godzilla” trouxe uma segunda fera na continuação e a manteve por catorze filmes como o monstro principal, diferente de da série “Jaws” e seu novo predador a cada continuação. O mínimo que posso dizer de que “Jaws 2” é que poderia ser pior. Foi decepcionante e provavelmente seria de qualquer forma, já que superar ou igualar o original seria muito difícil, então resta o consolo de que essa é a menos pior das continuações.