“Insidious” chamou minha atenção uma vez por ter sido chamado de um dos filmes de terror mais traumatizantes da história. Decidi conferir um dia e fui desmotivado por um amigo que disse que não era nada de mais, o que me desanimou no momento e causou um atraso que durou até essa semana, alguns anos depois. Infelizmente, a verdade se mostrou mais próxima da descrição menos empolgada, sendo este um filme competente e de alguns pontos altos ao mesmo tempo que tem tantas qualidades que conferem um ar de banalidade e pouca inspiração. O resultado é um filme de terror normal. Sem mais nem menos, uma obra que apenas passa de ano, como diria o jargão popular.
A família Lambert se muda para uma nova casa. Josh (Patrick Wilson) e Renai (Rose Byrne) ainda estão acomodando as coisas, abrindo as caixas e tentando organizar a bagunça para poder chamar o novo lugar de lar e deixar as crianças confortáveis. No entanto, algumas coisas estranhas passam a acontecer quando eventos estranhos passam a acontecer e pioram quando Dalton (Ty Simpkins) entra em um coma sem nenhuma causa identificável. Logo fica claro que o problema não tem nada a ver com uma condição médica, forçando a família a buscar uma alternativa para lidar com a situação sobrenatural e salvar a vida do filho.
“Insidious” tem poucos elementos que podem ser apontados diretamente como um problema, vários nunca chegam a ser ofensivos em sua competência e por isso nunca se destacam como algo negativo da experiência. Por exemplo, não há uma atuação tão ruim que prejudica a ilusão da narrativa e tira o espectador de sua imersão ao mostrar que é só um filme mal atuado. Os problemas são de natureza bem mais modesta, somando para conferir ao todo uma identidade de impacto reduzido. O julgamento a respeito da obra está diretamente ligado ao mesmo nível de sucesso compartilhado por quase todos os elementos relevantes, ou seja, não é tanto uma coleção de altos e baixos por quase tudo estar no mesmo nível.
Isso é bom e ruim ao mesmo tempo. Certamente é menos empolgante. Pode também limitar o espectro de opiniões porque cada um julga um aspecto como mais ou menos importante que outra pessoa; como sustos serem necessários para um e atuações ruins serem toleráveis para outro. Com tudo mais ou menos no lugar certo, é difícil apontar o dedo para algo e falar bem ou falar mal de algo. “Insidious” exige um pouco mais de esforço para identificar o que funciona e o que não tanto, então faz sentido uma análise da trama para identificar o que acontece exatamente.
“Insidous” começa como todo filme de terror: uma situação normal sem nenhum sinal de problemas, a família chegando na nova casa, feliz com a mudança de cenário. Então algumas coisas estranhas acontecem, deixando primeiro os indivíduos se questionando para mais tarde dar a certeza de que tem algo errado mesmo, ainda que sem saber o que exatamente. É aí que começam a ser introduzidos os elementos sobrenaturais, o antagonismo da obra e aquilo que se mostrará o maior problema dos personagens no resto do tempo. A apresentação é decente o bastante. Há um pouco do clichê no conceito de usar sustos para estabelecer atmosfera e, sem surpresa, as aparições aparecem sem muito peso.
Eventualmente o conceito fica mais complexo e interessante por duas razões. Existe criatividade, ao menos, na aparência e na variedade dos vilões, tão diversos que não se pode atribuir a qualidade de que são pouco inspirados como outros aspectos de “Insidious”. Mais tarde a trama cresce e abraça o vazio inicial de antagonistas aparecendo sem cerimônia, dando um pouco mais de propósito e direcionamento ao que antes era apenas uma insossa apresentação seqüencial de assombrações. Com a chegada de novos personagens, a história ganha substância e cresce acima do conceito genérico de família em apuros numa casa mal-assombrada. É o que se pode chamar de descobrir que o buraco é mais embaixo, que as aparências não são tão claras como pareceu antes.
Então, em teoria, o começo pouco inspirado seria proposital para enganar o espectador e o conduzir ao inesperado que vem na seqüência. Talvez. Isso não significa que funciona bem, pois há mais em desenvolvimento narrativo do que um contraste entre um trecho bom e outro não tanto. Felizmente, o filme continua melhorando até chegar num final que pode ser considerado o ponto mais alto da experiência por ser um momento de surpresa genuína, com a inspiração que parece faltar em tantos outros momentos de “Insidious”. Foi o bastante para me deixar interessado pelos outros filmes da série, uma conquista não tão freqüente, considerando que faz quase 10 anos que me enrolo para assistir às continuações de “Hellraiser” e “The Texas Chainsaw Massacre”.
Em contraponto ao excelente final, o destaque negativo da experiência é o personagem de Patrick Wilson, o pai da família. Talvez seja um pouco pela escrita do personagem, que preenche o clássico posto do cético que duvida das suspeitas dos outros e fala que não existe bobagem sobrenatural; talvez seja também a interpretação de Wilson que desincentiva qualquer tipo de simpatia por ele, tornando-o um indivíduo muito pouco relacionável. O resto funciona mais ou menos como descrito anteriormente: são acertos sem muita margem para crítica ao mesmo tempo que possuem um impacto modesto, cumprindo os requisitos para dar certo sem ir além. Que venham os outros três da série.