Na recente onda de ressurreição de franquias famosas, um pensamento recorrente pondera sobre a necessidade de tudo. Já foram 7 filmes de Harry Potter e talvez um a mais do que o necessário. A saga concluiu sua história apenas 5 anos antes de “Fantastic Beasts” sair e começar uma nova saga de cinco longas planejados. Mas a surpresa foi agradável e a história, sensata por colocar várias décadas entre as duas sagas e conseqüentemente criar um elenco inteiramente novo. “Fantastic Beasts: The Crimes of Grindelwald” promete continuar a odisséia criminosa do vilão dos últimos momentos do primeiro e desenvolver um mistério que ficou mal resolvido antes.
Gellert Grindelwald (Johnny Depp) está preso sob os cuidados do Ministério da Magia. Mesmo as mazelas mágicas poderosíssimas e a atenção constante de bruxos não impede que o criminoso faça um de seus incríveis truques e fuja de sua prisão. Seu objetivo é mais claro do que nunca: dividir os bruxos entre aqueles que preferem manter a situação atual de discrição e os que querem uma ordem em que todos vivam em conjunto, bruxos puro-sangue reinando sobre trouxas. Pego entre o extremismo fanático de Grindelwald e os métodos questionáveis do Ministério da Magia, Newt Scamander (Eddie Redmayne) recebe a tarefa de Albus Dumbledore (Jude Law) de ajudar a resolver o grande problema em construção.
Depois do primeiro se mostrar um dos melhores blockbusters de 2016, havia um pouco de empolgação por sua continuação. Para onde a história iria? Qual seria o espaço dos tais animais fantásticos do título? Como seria a participação de um Dumbledore jovem depois de ser um dos personagens mais marcantes de “Harry Potter”? Todas são questões em que os interessados provavelmente pensaram nestes dois anos desde o anterior. E todas são respondidas, como é de se esperar, só não de uma forma agradável. Dessa vez, mistérios novos se apresentam sobre aqueles que já existiam e permanecem presentes por um tempo incomodamente longo quando não-desenvolvimentos apenas prolongam a desinformação sem necessariamente manter o interesse. “The Crimes of Grindelwald” peca principalmente por uma narrativa desorganizada e confusa, pouco engajante e cansativa.
E não é só isso. Não sou de me apegar a títulos e exigir que o conteúdo da obra seja exatamente aquilo que está escrito. No entanto, é curioso ver que a história pouco tem a ver com os tais animais fantásticos, que foram destaque na primeira aventura de Newt Scamander. “The Crimes of Grindelwald” até tenta fazer algo parecido sem conseguir mesclar duas tramas organicamente. Fica claro que o foco muda, que uma parte ganha destaque sobre a outra e o equilíbrio fica afetado. A história até poderia funcionar com um novo foco, desde que a estrutura se adapte para acomodar os elementos em um grande todo orgânico e funcional, que trate ambos das criaturas amadas pelo protagonista e dos eventos maiores envolvendo o grande criminoso Grindelwald. O que se vê, porém, é apenas uma participação ocasional como se fosse obrigação do roteiro repetir as oportunidades de apresentar criaturas extravagantes, de anatomia incomum e cores intensas protagonizando os efeitos especiais. E mesmo estes últimos têm seus momentos de artificialidade extrema.
Nada disso parece que faz parte da trama ou se encaixa bem nela. Antes os monstros haviam escapado logo no começo e complicavam a situação de Newt consideravelmente enquanto o mundo dos bruxos interferia cada vez mais o dos trouxas. No mínimo, havia certo sentido de progressão de intensidade e até um pouco de desenvolvimento sobre a ocupação e gostos do protagonista. Enquanto a saga Potter envolvia diretamente os anos dentro de Hogwarts, aprendizado de magia e conhecimento do vasto universo, essa segunda saga lida mais com a descoberta da fauna mágica igualmente vasta à humana e talvez maior. Ver essa parte sendo deixada de lado como seqüências que pouco acrescentam à trama e até chegam a ser usadas como ferramentas da conveniência do roteiro. “The Crimes of Grindelwald” não peca por diminuir essa participação, e sim por utilizá-la pouco e mal.
O resto da história, que acaba tomando a maior parte de “The Crimes of Grindelwald”, está em um campo neutro. Por um lado, retoma-se a trama envolvendo Credence Barebone de forma que este fique ainda mais complexo. Sua figura passa a ser mais do que a de uma entidade mágica tão poderosa quanto enigmática. Essa característica permanece e é intensificada pela presença do vilão, que deixa suas intenções expostas a ponto do espectador conhecer suas crenças gerais ao mesmo tempo que não sabe como ele vai agir exatamente. Fica claro que Credence tem uma participação no grande plano, mas não se sabe qual é nem quem ou o que ele é exatamente. Ao mesmo tempo, Newt Scamander sofre pressão constante para escolher um lado na guerra civil entre bruxos e é impedido de fazer qualquer coisa sem sofrer reprimenda de alguém, tudo isso enquanto Dumbledore pede para que ele justamente investigue ativamente.
Em teoria, há material o bastante para honrar o clássico ditado atribuído a vários autores: “Faça-os rir, faça-os chorar, faça-os esperar”. A desinformação aliada à ameaça de um antagonista que promete fazer um estrago poderia deixar o espectador tenso, ansioso por informação em doses pontuais até finalmente entender o grande esquema e apreciar todas as forças colidindo abertamente. Bem, é isso que acontece ou uma versão distorcida disso, certamente a parte de esperar. Por um período considerável há diversas não-respostas e uma ausência de informação ou de fatos quaisquer para sustentar o interesse. Nada acontece, relativamente; nada que mantenha o ritmo em movimento, nada que deixe a trama mais atraente. É muito tempo no escuro esperando uma resolução apresentada de uma vez só e aliada a um clímax clichê, pouco inspirado.
Nem mesmo um dos pontos mais fortes do anterior tem boa participação em “The Crimes of Grindelwald”. Jacob Kowalski (Dan Fogler) foi, de longe, a maior surpresa do anterior e praticamente responsável por todos seus momentos cômicos; um ser humano carismaticamente tolo e simples envolvido em uma trama infinitamente fora de seu alcance. Já a continuação mal dá uma boa desculpa para ele estar presente e ainda falha no mais simples: criar momentos em que ele possa ser engraçado. Foi a cereja do bolo de um filme que não chega a ser terrível, apenas terrivelmente brando.