O terceiro filme da série encerra a recente maratona instigada pelo sucesso enorme de “Fallout“. Assim como os dois primeiros, fazia muito tempo que não assistia a ele, talvez desde a época de seu lançamento, quando aluguei o DVD para ver a então mais nova missão de Ethan Hunt. Contudo, diferente de filmes que vi há tempos e continuaram lembrados como referência de qualidade sem que a trama em si seja recordada, “Mission: Impossible III” não marcou nesse sentido. Seria porque é de mau gosto como “Mission: Impossible II“? Não exatamente. Está mais para um caso de esquecimento por falta de conteúdo marcante, mesmo que não exatamente ruim.
Ethan Hunt (Tom Cruise) se aposentou do serviço em campo para a IMF. Desde que conheceu sua atual noiva, Julia Meade (Michelle Monaghan), ele decidiu se manter ativo apenas treinando novos recrutas sem necessariamente participar de missões. Uma de suas festas casuais com Julia é subitamente interrompida por um convite difícil de recusar: sua aluna mais brilhante foi seqüestrada e uma equipe será enviada para resgatá-la. Ethan aceita e acaba se colocando diretamente no caminho de Owen Davian (Philip Seymour Hoffman), inescrupuloso comerciante de armas sem problemas com ferir seus inimigos e todas as pessoas queridas a eles.
Qual a primeira coisa de que se lembra quando se fala em “Mission: Impossible III”? O vilão provavelmente é a resposta mais popular. Para mim, não resta dúvida de que é também a melhor parte de toda a experiência, a qual sofre por não ter muita coisa marcante além deste detalhe. Nenhum dos filmes de antes nem dos posteriores conseguiu introduzir alguém para realmente rivalizar Ethan Hunt num cenário mais clássico de antagonismo de filmes de ação, como James Bond fez uma dúzia de vezes ao longo dos anos. Há uma missão, como sempre, e uma figura para bater de frente com o agente e ser responsável por qualquer que seja a aflição sofrida pelo mundo. Em “The Spy Who Loved Me“, Bond investiga o seqüestro de submarinos atômicos e impede que a sociedade deixe de existir para dar lugar à nova ordem mundial idealizada por Karl Stromberg. Aqui é quase o mesmo esquema, com alguns poréns lá e cá.
As primeiras cenas já introduzem Philip Seymour Hoffman como o ponto alto da experiência. Longe de soar como discurso pronto e ensaiado, Davian faz o peso de cada ameaça ser sentido com a seriedade que deveria. O personagem demonstra não estar interpretando um papel de malvado nem fazendo pose para parecer mais sério ou algo do tipo. Seymour Hoffman domina o papel e provavelmente é o indivíduo que mais leva “Mission: Impossible III” a sério, mais até que o próprio Tom Cruise ou J.J. Abrams, o diretor. Não de um jeito forçado ou ridículo, como se a obra tivesse um tom leve e o vilão não combinasse. A maior diferença entre o vilão e o resto do longa é justamente este resto não estar no mesmo nível de qualidade.
Ademais, chega a ser infeliz como “Mission: Impossible III” poderia ter aproveitado mais tal antagonista. Suas primeiras cenas o estabelecem como uma força a ser notada mais adiante e, bem, isso não acontece. Nenhum outro momento além do clímax colocam Davian em um momento tão bom e proeminente. Não se aproveita tanto este bom personagem apoiado por uma performance forte e rara num filme do tipo. Assim, por conta do resto do tempo ser utilizado em cenas de ação típicas e outra trama envolvendo traição dentro do próprio círculo de aliados, é difícil não sentir falta da parte impressionante da obra, especialmente quando o vilão de “Mission: Impossible II” foi tão patético.
De certa forma, “Mission: Impossible III” sofre do mesmo mal que seu sucessor direto, “Ghost Protocol“: tirando os trechos que se exaltam com facilidade dentre tanto conteúdo genérico no gênero Ação, todo o resto é um tanto raso. Ruim ou medíocre não chegam a serem patamares atingidos; a experiência cumpre seu trabalho sem agradar nem ofender, apenas funciona da forma mais direta ao ponto possível. É mais do que se pode exigir de muitos filmes, vários dos quais não conseguem nem fazer algo ao menos decente, tal como o próprio predecessor deste longa, que se mostra mais preocupado com estilização e exagero do que coerência. J.J. Abrams deixa de lado as perseguições de carro retardadas e sem sentido por cenas que se encaixam bem no formato de uma missão secreta envolvendo perigos reais. Não há mais Tom Cruise dando mortais para trás para nocautear guardas ou deslizando pelo chão enquanto descarrega um pente de pistola e estoura ambos inimigos e cenário.
Mas não é como se essa terceira missão não tivesse seus próprios deslizes. O maior problema aqui é o aparente fascínio de J.J. Abrams com certos artifícios. Em “Star Trek“, foi o comentadíssimo lens flare usado à exaustão. “Mission: Impossible III”, por sua vez, transborda câmera instável e movimentos de câmera gratuitos. Tudo bem usar o primeiro quando se deseja um efeito de atordoamento e tensão, assim como usar o segundo quando o diálogo envolve mais que uma troca de informação e busca revelar algo além do ponto de vista de um close ou um plano sobre o ombro. Usar constantemente ambas essas técnicas é outra história, dificilmente justificável e de razão invisível aqui.
No lugar de besteiras como sexualizar personagens femininas porque sim, a trama prefere colocar uma moça qualquer na equipe de Ethan e lhe dar uma noiva, alguém que recebe do roteiro um tratamento muito mais digno. Mas comparar “Mission: Impossible III” com seu predecessor invariavelmente vai deixá-lo parecendo muito melhor do que é realmente. A execução, embora não desaponte, segue as regras demais sem ousar tentar algo inventivo ou novo, apenas se contenta em ver as coisas irem do ponto A ao ponto B e depois ao C. Há uma motivação para Ethan voltar à ativa, ele se envolve com os problemas da IMF de novo e encontra um vilão que ameaça fazer isso e isso, o faz sem variação alguma de seu plano original e depois é frustrado. Nada de novo ou impressionante no front.