Assistir apenas a “Friday the 13th Part II” não pareceu o bastante para curtir a primeira de duas Sextas-Feiras 13 de 2018. Sabendo que o próximo seria “Friday the 13th: The Final Chapter”, decidi não esperar até Julho e fazer uma dobradinha com aquele que sempre foi um dos meus preferidos da série. Como se pode notar, o “Capítulo Final” do título não valeu de nada porque foram lançados quase 3 vezes mais filmes depois deste longa do que já existiam antes. A idéia era que este realmente fosse o último da série e, mesmo que não tenha sido verdade, a intenção de concluir a história traz algumas ótimas qualidades.
A segunda matança de Jason Voorhees (Ted White) em Crystal Lake termina com ele recebendo uma machadada na cabeça, o que leva todos a acreditar que ele finalmente está morto. Os corpos são embalados e a única sobrevivente, levada pela polícia para longe dali. Quanto ao próprio Jason, seu corpo é encaminhado para um hospital da região, só que ele nunca esteve realmente morto. Ainda no necrotério, ele acorda e começa sua nova onda de assassinatos até chegar em Crystal Lake e fazer os habitantes dali se arrependerem de não escolher outro lugar.
Analisar a série é um exercício interessante — por incrível que pareça — porque é possível notar como a estrutura de cada filme vai mudando dentro de um mesmo conjunto de regras ao longo dos anos. Novamente, vale reforçar que nenhuma mudança é grande ao nível de transformar a identidade e a fórmula, ao menos não quando se considera os oito primeiros. Em “Friday the 13th“, ainda existia todo o fator novidade sobre quem poderia estar matando aqueles jovens gratuitamente e sobre o próprio estilo do filme, já que ainda era muito cedo para definir algum tipo de fórmula. Com o assassino revelado e morto já no final, “Friday the 13th Part 2” renovou o mistério ao trazer um novo assassino que opera diferente do anterior, mas sem deixar de lado a contagem alta de corpos e as mortes inicialmente escondendo o assassino. Já “Friday the 13th Part III” não tinha mais nada a esconder e acabou por concretizar a fórmula por novamente ocultar Jason por um tempo até dar a ele sua icônica máscara, inovando um pouco no uso do 3D. Em teoria, “Friday the 13th: The Final Chapter” tinha tudo para ser como o anterior e ainda pior, pois já não havia nada a acrescentar na equação além de mais gente para matar. Talvez tenham decidido encerrar a série ao pensar exatamente nisso.
Mas ao contrário de “Friday the 13th Part V: A New Beginning“, que tenta capitalizar em um número alto de mortes, “Friday the 13th: The Final Chapter” consegue ser muito superior por simplesmente fazer bem a única tarefa a que se propões: trazer Jason de volta em um violento adeus. Tudo começa bem quando o próprio Jason não decepciona como personagem, ou seja, quando o ator por trás do papel traz algum tipo de contribuição visível a um personagem que nunca fala quando está esquartejando, degolando, quebrando e decepando suas vítimas. Como disse o próprio Ted White em “Crystal Lake Memories“, sua idéia era trazer agressividade a um papel que havia sido interpretado como um tipo de caipira estúpido e louco uma vez e um tanto mais normal na outra.
E faz sentido se considerar os eventos. Jason foi gravemente ferido em duas ocasiões e quase morto na última. Ao acordar dentro de um freezer de necrotério, ele começa a matar pessoas ali mesmo e em todo o trajeto até chegar Crystal Lake; está com raiva de ter sido atacado todas essas vezes e sem paciência para fazer cerimônia antes de matar suas vítimas. Basta que caia a noite para as pessoas conhecerem seu destino infeliz. Sem se esconder por um tempo antes de atacar, Jason simplesmente mata o que está em seu caminho sendo mais brutal do que nunca. Até “Friday the 13th: The Final Chapter”, ele tinha sido sutil o bastante a ponto de tentar abrir portas, ao passo que aqui ele prefere arrebentá-las em pedaços com o próprio colosso de seu corpo. Fica bem claro que o assassino está sem tempo para palhaçadas ou perfumarias na hora de matar.
Para não dizer que acontece um fenômeno inesperado de atuação em um filme de terror dos Anos 80, há outro fator em jogo que torna essa agressividade e raiva ainda mais visíveis: as mortes. É com elas que se tem certeza que “Friday the 13th: The Final Chapter” estava realmente disposto a bater de frente com a censura e trazer as mortes que mais incomodam as instituições de regulamentação, aquelas que realmente chocam pela brutalidade e barbárie do ato ao invés de encher de sangue como enfeite. É aqui que entra o melhor trabalho de Tom Savini dentro da série, que aproveita tantas ferramentas quanto possível na construção de ao menos uma dúzia de mortes fortes, como uma pessoa consciente enquanto está sendo morta. Sua ajuda é essencial para trazer à tona todo o ódio que Jason Voorhees sente por suas vítimas nessa última grande matança. Melhor ainda é o fato da maioria delas chegar de surpresa e impressionar por passarem bem longe dos clichês de cortar gargantas e facadas no torso. Os corpos voam por janelas, se arrebentam em carros e são espetados em lugares peculiares, em poucas palavras. Como bônus, o elemento humano aqui é um pouco melhor do que a média, trazendo algumas figuras interessantes em sua bidimensionalidade e tempo curto de vida.
E é isso. Dificilmente se acharia que um filme da série prestaria se apoiando apenas em um pilar da experiência como “Friday the 13th: The Final Chapter”. Contudo, ele mostra que a parte elementar da série é justamente a forma como tantas pessoas morrem, para a grande infelicidade das pessoas que criticam justamente essa dependência da alta contagem de corpos. É uma lógica simples que funciona se as mortes forem boas. De nada adianta fazer que nem “Friday the 13th Part V: A New Beginning” e somar 21 mortes, um dos números mais altos, sendo que várias delas não têm graça alguma.