A expectativa por “Star Wars: Episode VIII – The Last Jedi” estava altíssima. Não tanto quanto “The Force Awakens“, claro, pois um filme novo da série já não é tão novidade quanto era em 2015. Naquela época, “Revenge of the Sith” tinha sido a última obra de George Lucas nos cinemas. Quando finalmente lançado, o sétimo episódio foi muito criticado por suas similaridades com “A New Hope“, mas, curiosamente, parte da minha expectativa pelo futuro surgiu daí: será que sua continuação seguiria o mesmo caminho pouco inspirado e usaria “The Empire Strikes Back” exageradamente? Ou aproveitaria a oportunidade para corrigir erros do passado e finalmente voltar à originalidade? Surpreendentemente, fui recebido com a segunda alternativa e surpreendido por novos problemas surgirem.
A Resistência conseguiu uma grande vitória contra a Primeira Ordem com a destruição da Base Starkiller, mas o sucesso mostra ter vida curta. De um lado da galáxia, Rey (Daisy Ridley) encontra Luke Skywalker (Mark Hamill) para buscar treinamento e recrutar sua ajuda. Em outro canto, o grupo liderado por Leia Organa (Carrie Fisher) sofre perdas catastróficas e se vê batendo em retirada constantemente. Estando numa situação delicada, a Resistência deposita suas expectativas nas vitórias de poucos para continuar existindo.
Sim, esta premissa realmente lembra muito “The Empire Strikes Back“. Ele começa já com uma grande batalha entre o Império e os Rebeldes, que se encontram encurralados e numa situação apertada. Pouco depois do grande conflito em Hoth, Luke Skywalker busca o conselho e o treinamento do Mestre Yoda em Dagobah, um planeta remoto e aparentemente inabitado. No entanto, “The Last Jedi” não comete o mesmo erro de seu predecessor e consegue conservar referências aos antigos sem apoiar-se demais neles. Alguns momentos ainda poderiam ser um pouco menos explícitos ou diretos em relação a homenagem que prestam — como alguns diálogos, ângulos de câmera, cenas e cenários retirados diretamente de “Return of the Jedi” — porém o longa, no geral, consegue erguer-se com suas próprias pernas. Os maiores momentos não são emprestados do passado.
Poderia dizer que as cenas de ação foram um dos grandes acertos que salvaram “The Force Awakens”. Similarmente, “The Last Jedi” também pode gabar-se de ter a ação como um de seus pontos fortes. Começa com uma batalha espacial que não deve nada às melhores da série, dirigida de forma clara e consciente da importância de representar bem o espaço para as cenas não ficarem caóticas. Levando em conta a quantidade de naves voando ao mesmo tempo que coisas explodem e tiros voam pelo espaço, é importante estabelecer o que acontece com certa clareza. Não posso reclamar desse aspecto de forma alguma. Sempre que o longa se propõe a apresentar algum tipo de ação, ela consolida o entretenimento como uma constante por ser bem dirigida.
O longa ainda traz uma das lutas de sabres de luz mais ferozes de toda a série. Inclusive, diria que esta é uma característica definitiva dos duelos vistos nesta nova trilogia. Enquanto a Trilogia Original trazia movimentos precisos e baseados em técnicas olímpicas reais, a Segunda Trilogia mudou o estilo para algo mais teatral e acrobático, incorporando novos poderes da Força ao estilo de luta. “The Last Jedi” concretiza a agressividade crua como sua característica do combate de sabre. Ambos Rey e Kylo Ren (Adam Driver) são descritos como forças brutas sem polimento algum, poder sem foco ou disciplina. Além de bem encenada e carregada com sua própria identidade, a grande luta de sabre é acompanhada de uma interessantíssima virada na trama, um momento mais potente que qualquer um visto em seu predecessor.
Por si, já foi um grande passo. Depois de um filme feito essencialmente de uma reciclagem de conceitos antigos, finalmente parece terem aberto mão de algumas convenções criadas pela série para abraçar possibilidades originais. Não pretendo especificar quais foram estas mudanças porque elas estão conectadas às maiores revelações da trama, mas acredito que não haja problema em dizer que me senti tranquilizado ao ver que não seguiram o caminho mais óbvio e mais seguro nessa continuação. Se essas mudanças são blefes ou se serão desconsideradas mais adiante, já não é mais responsabilidade deste longa. Pelo menos no que cabe a “The Last Jedi”, alguns momentos críticos da história são produtos da originalidade do roteiro de Rian Johnson. Além de impactantes, não possuem nenhum tipo de previsibilidade. Já é muito mais do que posso dizer da morte de Han Solo, o grande choque de “The Force Awakens“. Por conta do personagem ter um papel parecido com o de Obi Wan Kenobi em “A New Hope“, era só uma questão de tempo até que ele morresse.
Ao mesmo tempo que o roteiro traz os pontos mais fortes de “The Last Jedi”, é com ele que vêm vários dos mais fracos. De fato ele evita apoiar-se descaradamente em filmes do passado, porém abre portas para outros problemas que sinceramente me surpreenderam por existirem junto de acertos tão grandes. A questão imediatamente mais aparente está ligada à duração. Com 152 minutos, este é o mais longo da série. Mas será que tal duração é justificada? Não exatamente. Vale dizer que não é uma experiência cansativa ou com problemas de ritmo, pois, como dito anteriormente, a direção garante que os momentos mais inúteis sejam acompanhados do fator entretenimento. Por mais que seja extenso demais, esta é uma noção que surge só depois que os créditos começam a rolar, quando coloca-se na balança o tempo investido e o conteúdo relevante do enredo.
Há um desequilíbrio nessa equação. Passei um bom tempo dentro do cinema; achei que o filme iria acabar quando ainda havia 25 minutos pela frente e, ao final, ponderei se realmente houve necessidade para tanto sem chegar numa conclusão satisfatória. Foi aí que comecei a lembrar de algumas características que não ficam evidentes enquanto se assiste. “The Last Jedi” possui uma barriga. Entre os incríveis começo e conclusão, há um desenvolvimento que se arrasta. Essa lentidão, embora mais evidente no meio do caminho, não é exclusivamente responsável pela duração estendida ou pela falta de valor de várias sequências.
Existem vários momentos que não deveriam existir ou que se estendem muito mais do que deveriam. Algumas sequências sem propósito reforçam a burrice ocasional do roteiro em criar destinos sem sentido para os personagens, arcos vazios e planos mau concebidos. Quanto a isso, não se trata de tentar racionalizar um filme de fantasia, como um cientista que desmerece a obra porque há explosões e som no espaço sideral; é uma questão pura e simples de lógica, de um espectador que vê a estupidez estampada em algumas idéias e não consegue ignorá-la. Já outras sequências são estendidas desnecessariamente. Se a idéia é chegar num lugar, encontrar uma pessoa e levá-la de volta para a base — um objetivo direto ao ponto — delonga-se em exposições de cenário e personagens, piadinhas com BB-8 e viradas que resultam em ramificações desnecessárias. Aos poucos, os excessos de cada cena somam para uma experiência longa e sem propósito por trás de tais delongas.
Muitos desses problemas surgem por conta da trama girar em torno da fuga desesperada da Resistência. As tentativas de torná-la possível e os infinitos desdobramentos tomam mais da metade de “The Last Jedi” tranquilamente. Entre decisões idiotas, perdas de tempo, arcos sem propósito e extensões de idéias simples, existem pouquíssimos momentos de tédio, curiosamente. “The Last Jedi” garante que até a cena mais boba seja divertida através da ação, do humor ou da competência visual. Mas quando a relevância deste entretenimento é medida, a obra perde um pouco do brilho tão aparente enquanto se assistia. Basta comparar os maiores momentos com estes outros menos importantes: os primeiros combinam todo o poder do espetáculo com um propósito dentro da história. Somando isso a uma redução na inspiração em outras obras — ainda exageradamente presente, mas de forma mais esparsa — os pontos altos da obra dificilmente serão esquecidos, ainda que a obra como um todo não compartilhe de seu sucesso.