O mais novo ataque dos títulos pessimamente traduzidos vem na forma de “Good Time”. Ou “Bom Comportamento” na tradução brasileira. Se não tivesse ido pesquisar sobre a premissa, com certeza não assistiria por suspeitar que se tratasse de algo desinteressante. De jeito nenhum é uma escolha atraente para o público ou sequer condizente com a proposta da história. Depois de ver, ainda não sei ao certo o que bom comportamento tem a ver com roubos, trapaças e fugas da lei. Contanto que o título brasileiro não seja levado muito a sério, uma experiência enérgica poderá ser encontrada aqui, ainda que o resultado final não seja dos melhores.
O plano de Connie (Robert Pattinson) era simples: chamar Nick (Benny Safdie), seu irmão, para assaltar um banco e aproveitar os benefícios do dinheiro. Mas as coisas começam a dar errado. Nick tem problemas mentais e nunca sabe direito o que faz, situação que se torna ainda mais grave quando ele falha em fugir da polícia que o persegue pelo assalto. Com Nick encarcerado junto de outras pessoas que não fazem idéia de sua condição, Connie deve fazer tudo que estiver em seu poder para tirá-lo da cadeia sem ser preso no meio do caminho.
Quando se fala em um filme bom, é bem comum falar que, do começo ao fim, ele é aterrorizante, tenso, explosivo, engraçado… tudo dependendo do gênero e do estilo. Mas isso não é verdade. Nem a melhor comédia da história faz o espectador rir o tempo todo ou sequer na grande maioria dele. Até “Mad Max: Fury Road“, considerado amplamente como um dos filmes de ação mais intensos de todos os tempos, reconhece o valor de pausar um pouco as explosões, os tiros e as perseguições para recuperar o fôlego. Cenas de diálogo ou sem muita coisa acontecendo na tela têm sua importância na construção de uma narrativa equilibrada. “Good Time” mostra que este bom comportamento não foi aprendido.
O grande problema resultante disso é ser monótono. Não no sentido frequentemente e erroneamente atribuído à palavra, como se monótono significasse devagar ou chato — como a aula chata do estereótipo de professor de universidade. O termo se aplica também nos casos em que as coisas se movem rápido, atropelando tudo em seu caminho, sem variar essa rotina. “Good Time” até começa parado em uma consulta de Nick ao psicólogo, que aplica um teste e faz perguntas. Em seguida, Connie entra no consultório quase arrombando a porta e sai coom o irmão praticamente a caminho de seu roubo a banco. Deste ponto em diante, o filme não para mais. Sempre há algum novo problema ou complicação a ser resolvida, fazendo a tarefa direta ao ponto de salvar Nick ser muito mais difícil.
Não é como se não houvessem cenas de diálogo, dentro de carros, assistindo TV ou sem música intensa. Elas estão ali e até com certa frequência para supostamente garantir uma quantidade de momentos tranquilos. Supostamente. Quando a trilha sonora carregada não define o tom vibrante, diálogos envolvendo brigas e xingamentos acabam tornando qualquer bate papo num atrito. A direção pouco sutil de Benny Safdie e Josh Safdie não ajuda, carregando momentos aparentemente menos agitados com a tensão presente no resto de “Good Time”. Caminhar por um corredor, que seria uma atividade comum o bastante, ganha um novo destaque quando closes extremos são usados para exacerbar a expressão preocupada do protagonista. Ele já não está de passagem, tem algo em mente contaminando a cena com sua preocupação. O mesmo acontece em cenas de diálogo, nas quais muitas tomadas de reação são representadas com estes planos muito aproximados agregando intensidade ao momento. O resultado de tentar tornar todas as cenas tensas, novamente, é que nenhuma delas acaba sendo.
Por mais que não goste muito do produto final, respeito a capacidade dos roteiristas de sempre renovar o conflito com alguma reviravolta. O objetivo principal permanece constante enquanto obstáculos forçam o protagonista a tomar um caminho sinuoso e confuso, passando por lugares que ele nunca esperou visitar. Seria fácil demais ir lá e resolver a situação com um plano bolado improvisadamente. “Good Time”, sabendo disso, mostra-se bem recursivo na criação da maior coleção de imprevistos da vida dos personagens, talvez o pior dia de suas vidas. Existem mil poréns nas menores coisas. O próprio assalto a banco do início reflete a filosofia seguida mais adiante: Connie precisa de um parceiro e escolhe seu irmão, porém este tem retardo mental; assalto começa, mas o atendente não tem muito dinheiro em caixa; eles saem do lugar e o motorista não está no lugar combinado… Daí em diante, a situação só piora para os dois e a trama, que poderia ser considerada rasa e sem graça, renova-se com cada obstáculo novo. Mesmo que se percam na administração de um ritmo bem estruturado, a história faz um esforço para não se tornar outra fonte de frustração.
Nunca soube bem o que esperar de “Good Time” para poder dizer que me decepcionei. Foi uma experiência de simplesmente entrar na sessão sem nenhuma idéia do que o longa se tratava e sair sem uma impressão muito positiva. É um filme decente? Sem dúvida. Porém as conquistas não vão além disso. De coisas boas, destaque vai para a forma como o roteiro recria-se com cada nova virada, transformando a missão de resgate, uma meta bem objetiva, em algo extremamente trabalhoso. Outro ponto chamativo é a atuação de Robert Pattinson. Embora não seja o avatar da genialidade incompreendida no passado, como alguns críticos apontaram, merece menção por cumprir os requisitos do papel e estar longe de atrapalhar a obra. “Good Time” certamente não precisava de outro rostinho bonito agregando ao lado negativo, o qual fica a cargo da invariabilidade de tom. Independentemente do momento e de sua natureza, o clima ser sempre inquietante e enérgico acaba minando o impacto que o filme teria se fosse mais variado. É uma obra da qual não vou falar mal nem bem, apenas esperar semana que vem chegar para cair no esquecimento.