Depois de um reboot para ressuscitar uma franquia maltratada por Tim Burton, “Planeta dos Macacos” voltou ao radar do público. Gostei muito do primeiro filme dessa nova leva, principalmente por ser uma atualização apropriada para uma nova audiência. Nada espetacular ou de outro mundo, contudo. Já sua continuação, “Dawn of the Planet of the Apes“, foi uma surpresa e tanto. Um dos melhores filmes do ano e do gênero Ação em algum tempo. Aproveitou todo o potencial para entretenimento de seu predecessor e o usou ainda melhor. “War for the Planet of the Apes” fecha uma trilogia com um saldo sem filmes ruins, ainda que não alcance o sucesso dos outros dois.
Após a traição de Koba e consequente revolta entre macacos, o grupo liderado por Caesar (Andy Serkis) passa por dificuldades. Os conflitos com os humanos, cada vez mais violentos, estão mostrando-se especialmente duros para os primatas. Seus números estão menores e sua sobrevivência é ameaçada pelas investidas do Coronel (Woody Harrelson), um homem em missão obsessiva de salvar a humanidade e, consequentemente, matar qualquer tipo de macaco. Entre vontades pessoais e o melhor para seu povo, Caesar busca equilíbrio numa situação em que qualquer erro pode matar esperanças de um futuro em paz.
Entre tantos blockbusters sem sal, medianos ou até simplesmente ruins, é de se impressionar que tenham conseguido criar uma trilogia sólida como essa. Sem exageros, claro, pois não acredito que os longas serão lembrados como três partes perfeitas de uma história imperdível. São filmes de ação competentes que exploram o universo de “Planeta dos Macacos” com enfoques novos em cada obra, variando o conceito básico de forma que as continuações não fiquem parecidas demais com o que veio antes. O primeiro explorou a origem de tudo; o segundo trabalhou as consequências de um conflito interno; e agora “War for the Planet of the Apes” volta seus olhos para um problema totalmente externo, uma ameaça de fora antagonizando os primatas sem espaço para discussão. Não diria que é uma evolução perante o que veio antes, mas pelo menos é algo diferente. Quem esperar o susto de qualidade de antes provavelmente se decepcionará um pouco. Não o bastante para achar o resultado ruim, felizmente.
Com esta nova proposta vem um personagem completamente vilão. Woody Harrelson interpreta um papel no estilo dos inimigos de James Bond a ponto de sequer ter um nome. Ele é apenas chamado de Coronel, o terrível líder dos humanos odiadores de macacos. Sua missão é alimentada pelo ódio profundo, o qual define sua personalidade e sua fama. Seus amigos temem o poder de sua obsessão e o seguem sem questionar; os inimigos são relegados a presenciar essa característica da pior forma. Direto ao ponto, sem delongas e até um tanto superficial. Um pouco menos grave pelo esforço consistente de Harrelson em criar um personagem obcecado sem cruzar a linha e entregar mais um psicótico para a coleção — nem se leva a sério demais, vale dizer. Não é um vilão memorável, porém certamente ajuda a sustentar a proposta simplista de “War for the Planet of the Apes”.
O aspecto espetáculo da obra, por outro lado, não mudou tanto. Os efeitos especiais usados para representar os macacos e a fotografia geral da obra estão bons como sempre. O segundo aspecto, em especial, impressiona pela mudança de cenário para montanhas e florestas repletas de neve. Funciona perfeitamente na mencionada proposta de trazer algo diferente com cada filme e proporciona várias sequências visualmente estupendas. Não só no lado estético, pois o trabalho com as câmeras de Matt Reeves na direção é igualmente competente na entrega de imagens potentes. Na falta de mais sequências de ação, que seriam muito beneficiadas, sobra para a direção se virar com momentos mais focados no drama. Tratando de um filme de ação, não é um substituto equivalente. Esperava mais agito e menos sentimentalismo de “War for the Planet of the Apes”. Ainda que Reeves faça bom proveito do material que possui, representando até as piores cenas de uma forma que a câmera amenize seus defeitos, o roteiro faz sua pobreza ser sentida em diversos momentos.
A idéia de criar um filme baseado no surgimento de um poderoso inimigo não é forte por si ou bem introduzida pelo enredo, que já começa com os macacos sofrendo perdas pesadas. Nada disso é suave, apenas colocado como a realidade atual dos primatas — embora não totalmente gratuita por conta de um breve comentário no fim de “Dawn of the Planet of the Apes“. Assim como a presença súbita de neve, esta virada chega muito de repente e tem um impacto grande demais para ser apenas engolida como fato. Com a guerra vêm o sofrimento e as dificuldades; mortes de amigos, perda de liberdade, perturbação de espírito, entre tantas outras explicitamente e frequentemente evidenciadas pelo roteiro. Em vez de mostrar a tal guerra, como o título indica, a história está mais preocupada com o drama envolvido nos eventos. Dificilmente reclamaria do fato dessa esfera ser explorada se ela estivesse em adição ao conflito, não substituindo-o.
Personagens são introduzidos quase completamente para incrementar o lado sentimental da história; outros são mortos explicitamente para deixar tudo mais triste. Não culpo quem sair da sessão sem entender para onde foi a tal guerra, o conflito em grande escala sugerido pelo termo. É compreensível que “Battle for the Planet of the Apes” tenha pecado nesse aspecto em 1973, mas não existe mais a desculpa de orçamento baixo. Falta ação numa história que tinha tudo para tê-la como atrativo. Falta um bom roteiro em “War for the Planet of the Apes”, que pode se gabar de exatamente uma novidade boa relacionada ao vírus do primeiro filme. É a única que tem um desenvolvimento frutífero sem parecer forçado. De resto, a regra é feita de cenas com propósito óbvio — normalmente dramatizar a situação — e outras que são atalhos no mais clássico deus ex machina.
Fico triste pela terceira parte da saga de Caesar terminar abaixo das outras duas. “War for the Planet of the Apes” teria que suar bastante para chegar no nível de seu predecessor, mas esperava que o resultado seria mais próximo dele. Encontrando a fórmula do sucesso previamente, achei que seria mais fácil encontrar o caminho correto. Ou talvez minha concepção de sucesso seja diferente daquela dos envolvidos na produção, o que é mais provável. De qualquer forma, não deixa de ser frustrante ver um título ser pouco coerente com o conteúdo da obra e criar expectativas com prazo de validade.
1 comment
Tive a mesma sensação. O segundo me surpreendeu bem mais positivamente. O terceiro é sim um filme bom, mas tem falhas. Tenta ser tudo e acaba com partes em que o ritmo desacelera. Li uma análise onde exaltavam a trilha sonora quando há partes que ela se desencaixa da obra. Como a cena de fuga onde vão buscar os filhotes e colocam uma trilha sonora de comédia num filme que apela inúmeras vezes pro drama. Como diz o coronel: tão emotivo. O alívio cômico desnecessário do bad ape só não é pior pq a maior parte do tempo o personagem brilha, perdendo fôlego no final. Mesmo assim grande obra, e melhor uso de efeito especial de todos os tempos.