Em 1980, o lançamento de “Friday the 13th” causou uma modesta reviravolta no Cinema. Ainda que não tenha sido completamente original em sua proposta, pois “Halloween” havia saído dois anos antes, o filme foi uma das maiores forças por trás da explosão do Terror Slasher. Inúmeros clichês, das atuações ruins à alta contagem de corpos, começaram aqui. Nas bilheterias, um orçamento de U$550.000 rendeu mais de U$59 milhões e deu o pontapé inicial para uma série de sucessos que colocariam “Sexta-Feira 13” como a série slasher mais lucrativa da história. A crítica, por outro lado, não se mostrou tão calorosa. Ela começou aqui um padrão que se manteve em praticamente todas as continuações: destroçá-las em suas análises. Não faço o mesmo aqui. Hoje, este longa mantém a boa impressão que tinha dele: um slasher bem cadenciado, equilibrado com suspense e uma trilha sonora imbatível.
Um grupo de jovens é recrutado para reconstruir o Acampamento Crystal Lake para sua glória anterior depois de anos fechado. Décadas antes, um garoto se afogou pelo descuido de monitores que transavam, dando início a uma série de problemas que acabaram com todas as novas tentativas de reviver o acampamento nos anos seguintes. Os novos monitores trabalham duro para colocar as coisas no lugar, mas os alertas do pessoal da cidade mostram um fundo de verdade quando os jovens são atacados por um assassino desconhecido.
Admito que “Friday the 13th”, apesar de sua importância, nunca foi um dos meus favoritos da série. Prefiro esconder a razão por uma formalidade de não contar demais, então digo que é apenas pela falta de algo que os outros filmes tiveram de sobra. Não é apenas um detalhe, pois uma nova abordagem mais agressiva do modelo slasher veio com ele. Este primeiro estabelece o modelo para todo o resto, mas também é bem diferente deles. As mortes importam menos e dão lugar a um suspense sobre a identidade do assassino, o qual toma seu tempo planejando e observando as vítimas antes de começar a matança. Há menos vítimas e mortes menos mirabolantes, nada de braços arrancados ou cabeças esmagadas. Talvez eu não tenha assistido a este longa tantas vezes quanto os outros pela proposta ser mais simples e dependente de uma surpresa na história.
Hoje é mais fácil enxergar o valor de “Friday the 13th” para além de seu impacto na indústria do Terror. Ele certamente se difere dos outros que vieram depois, mas não é necessariamente pior por este motivo. Pelo contrário, ele chega a ser melhor polido e estruturado que outros que vieram depois; especialmente a “Parte V“, que reproduz a fórmula dos anteriores de uma forma visivelmente pior. O roteiro é simples o bastante: dá um breve plano de fundo e entra na história de uma vez. Não há nada definitivamente chamativo em sua execução, mas devo dizer que gostei muito do ritmo como a história se desenvolve; ou seja, introduz a má reputação de Crystal Lake, introduz os personagens e depois mata todos eles. Se isso é um desenvolvimento complexo, é assunto para outra hora. Funciona para um filme de terror que não perde tempo e sabe como equilibrar as cenas de violência com o suspense sobre quando a situação vai complicar, além de quem está matando os jovens e por quê.
É fácil dizer que estes elementos não parecem novidade quando existem quase 40 anos de cineastas copiando essa idéia. Uma boa parte dela é exclusiva de “Friday the 13th”, acredito, pois nem mesmo suas continuações chegaram a explorar idéias vistas aqui. Ao contrário de outros exemplos, este longa sabe quando começar a matar e como preparar a audiência para isso. Depois de mostrar a tragédia se escalar e o pânico tomar conta, a identidade do assassino e a virada interessante em cima dela são revelados na hora certa, abrindo caminho para as intensas sequências finais. Para que a obra não se torne uma montagem de assassinatos ou um filme de terror sem eles, é importante saber a hora de entrar em ação. Não posso reclamar da disposição das mortes, mas senti que ela foram simples demais nessa última assistida. Há apenas a trilha de Harry Manfredini estabelecendo clima sobre cenas carentes da criatividade que surgiu depois. Sim, é meio compreensível não ter algumas excentricidades por limitações do próprio enredo. Só não deixa de ser um pouco decepcionante ver gargantas cortadas mais de uma vez e Tom Savini deixando a desejar com prostéticos explicitamente em cores diferentes do tom de pele dos atores — embora volte a impressionar no final.
Tais acertos não poderiam estar destacados da influência que tiveram no gênero ao longo da década. Tudo começa com flashes de um passado distante. Jovens se reúnem para cantar uma música de acampamento e logo saem dali para fazer sexo escondido. Eles acham que estão sozinhos, mas uma presença os acompanha. A câmera representa o ponto de vista do intruso que se aproxima para acabar com o momento e com a vida dos dois. Mais tarde, depois de anos de acampamento fechado, uma nova equipe volta para reviver o lugar. Tudo parece estar nos conformes até que a presença peculiar surge novamente. Será que os cineastas estão brincando com a audiência ou o assassino voltou de fato? E quem é ele? Adolescentes desavisados, que mal podem ser culpados por querer aproveitar a vida, se tornaram o estereótipo de vítima no Terror. Em contrapartida, como não poderiam repetir a fórmula de esconder a identidade do assassino, brincadeiras foram feitas em torno disso. Personagens brincalhões pregando peças nos outros tomam o lugar do suspense, enganando a audiência sobre o assassino de fato estar em cena. Esses e outros elementos deram início a uma nova era do Slasher, que dominou os Anos 80 e teve variações, menores e maiores, da fórmula introduzida por “Halloween” e “Friday the 13th”. Podem até não gostar da franquia, porém não há como negar sua influência no mercado do Terror.
Até o momento, “Sexta-Feira 13” totaliza 12 filmes lançados. Foram 8 produções entre 1980 e 1989, uma nos Anos 90 e outras 3 nos Anos 2000. A série logo cresceu das origens modestas de “Friday the 13th” através de um assassino que entrou para a história por seu visual icônico, longevidade e mortes brutais. Por outro lado, este primeiro filme traça um caminho diferente ao aproveitar o mistério da identidade do assassino como um elemento maior da história. Infelizmente, a execução da violência deixa um pouco a desejar por não sair do arroz com feijão. Curiosamente, foi justamente o “Sexta-Feira 13” com menos violência que causou polêmica e instaurou um novo padrão de violência no Cinema. Apenas mais um sinal de que o efeito da franquia na indústria supera as conquistas individuais da obra.