Nem preciso ressaltar que “Guardians of the Galaxy Vol. 2” foi o filme mais aguardado da Marvel desde o primeiro “Avengers”. A estréia do primeiro foi um sucesso: uma equipe de heróis que quase ninguém ouviu falar conseguiu ser mais cativante que muitos heróis populares. Justamente pelos protagonistas não serem tão conhecidos, veio a oportunidade de tentar algo novo. Apesar da tendência da Marvel sempre pender para o lado da Comédia, nunca aconteceu do jeito descontraído de “Guardians of the Galaxy“, com músicas populares e pouca preocupação com os dilemas clássicos de super-heróis. Bordões ao som de Marvin Gaye e Jackson 5 pediram por mais e esta continuação atendeu, ainda que sem o mesmo sucesso de antes.
Depois de seus feitos heróicos na batalha contra Ronan, os Guardiões da Galáxia são perdoados e reconhecidos galáxia afora. Sua próxima missão os coloca no serviço dos Soberanos para proteger um objeto importante, mas as coisas não dão muito certo e eles logo entram em apuros. Aqueles que os contrataram agora estão em seu encalço. Não demora para que outros problemas apareçam para complicar ainda mais a situação: a delicada questão da família biológica de Peter Quill (Chris Pratt) ressurge.
Escrever esse último parágrafo só reforçou como “Guardians of the Galaxy Vol. 2” se sai mal na execução de seu assunto principal. Pode parecer que estou escondendo informações da trama para não revelar demais sendo que, na verdade, ela se resume a essa premissa. Me incomoda ser relembrado de como sua história decepciona por não ser muito mais do que dar voltinhas em torno desse tema. Dele, de humor e da aguardada “Awesome Mix Vol. 2”, para não ser injusto. Entre o revezamento destes três polos existem acertos e erros, alguns que superam o original e outros que certamente estão abaixo dele. O resultado de tudo isso, no fim das contas, ainda carece do sentimento de inovação que veio em 2014. Uma opinião comum ditou que o problema foi se prender a fórmulas, eu já acho que foi o contrário. Se esta continuação tivesse seguido a fórmula do primeiro, o filme poderia ter sido menos original, mas com certeza seria melhor do que é.
Acertam e muito dando destaque aos personagens que ficaram um pouco de lado no primeiro. Se a intenção dessa produção foi equilibrar o apreço da audiência pela equipe, então dá para dizer “missão cumprida”. O primeiro focou mais em Groot, Peter Quill e Gamora (Zoe Saldana), já “Guardians of the Galaxy Vol. 2” aproveita para dar destaque a Drax, Yondu (Michael Rooker) e novos membros do elenco. Sim, a trama está centrada numa questão de Quill, mas não é por isso que ela seja boa. Quando digo destaque, não me refiro tanto ao tempo de tela ou importância do personagem no enredo, e sim aos momentos bons que resultam de sua presença. Posso dizer com segurança que não liguei muito para Drax antes. Ele era o genérico brutamontes mau humorado, o fortão do grupo que resolve as coisas com força bruta. Esse modelo deixa de existir, pois Drax não poderia estar mais longe dessa descrição aqui. Parece que Dave Bautista, o ator que o interpreta, está se divertindo no papel, menos preso a um modelo rígido do roteiro. O personagem reforça isso com sua nova postura dentro da equipe, a qual se mostra melhor entrosada e mais carismática desta vez. Sua barbárie e falta de sutileza trazem as melhores e mais fortes risadas do filme. Trocam sua função principal de uma ferramenta de batalha, ser o bruto nas lutas, para um hilário desajustamento social.
Posso dizer o mesmo para Yondu e uma nova personagem que prefiro não mencionar. Ambos trazem momentos engraçados e são desenvolvidos mais além do que no passado, incrementando a equipe como um todo no processo. Fazem bem de economizar em outros personagens também — Groot e Rocky, mais especificamente. Depois de morrer e renascer antes mesmo de “Guardians of the Galaxy” acabar, Groot foi reduzido a uma participação mais sutil, exceto pelos demasiados longos créditos iniciais. Mais sutil, não menos presente, pois nenhum personagem fica muito mais de fora do que outros em termos de participação. A diferença é melhor notada entre filmes por alguns ganharem ou perderem ênfase comparativamente.
O grande problema deste filme não são seus personagens, e sim seu roteiro. O primeiro claramente subverte convenções de filmes de super-herói com sua postura informal. A própria história se porta quase como um passeio pela galáxia que ganha proporções enormes. “Guardians of the Galaxy Vol. 2” tenta seguir esta mesma idéia, mas a única coisa que subverte é si mesmo. A história é tão descontraída que se empolga demais com alguns pontos fortes do primeiro, esquece que antes havia uma estrutura amarrando-os numa narrativa simples, mas existente. Numa suposta tentativa de expandir o conceito de informalidade do primeiro, James Gunn se perde em uma roteiro mal estruturado e sem foco. No começo, parece que o filme está se esforçando demais para ser engraçado. A trama é deixada de lado para lançar o espectador na primeira de várias sequências de piadinhas intercaladas com as músicas de Sam Cooke e George Harrison. Eu senti que quando a trama finalmente surge e Peter Quill começa a lidar com sua família, ela é vomitada de uma vez; ou talvez eu tenha me sentido vomitado numa trama mal introduzida, que ainda carece de desenvolvimento em seguida. O humor, a música e a descontração são mais usados como muletas de uma obra carente dos elementos básicos de uma história: um ponto de partida forte, a sensação de que as coisas estão indo para algum lugar e uma confirmação disso na forma de um clímax decente. Estilização ganha preferência sobre estrutura e, assim, esta continuação se porta como um conceito super-estendido. Idéias boas, que no passado complementaram um longa com bases melhor definidas, são salpicadas em cima disso.
Vendo por cima, “Guardians of the Galaxy Vol. 2” tem os ingredientes certos: piadas engraçadas, a participação mais ativa de personagens deixados de lado no passado, outro conjunto de ótimas canções e a exploração do passado do protagonista. Foi fácil esperar que o sucesso seria repetido, visto que a Marvel tem uma tendência de seguir fórmulas que dão certo. No entanto, o que encontrei foram todos esses elementos mal organizados. Pontos fortes chamando a atenção sozinhos num roteiro vazio, a exploração excessiva e recorrente dos temas de família e companheirismo sem se aprofundar neles e um clímax cheio de clichês visíveis de muito longe. Talvez tivesse sido melhor ficar na segurança da fórmula do anterior mesmo.