Até poucos minutos atrás estava pensando em começar este texto dizendo que as obras do reboot foram polêmicas, mas acho que elas não são a grande questão. Os fãs de “Star Trek”, exigentes e peculiares, podem responder melhor as controvérsias. A implicância deles com algumas decisões de J.J. Abrams nesta última leva de filmes é enorme, mas nem por isso é inteiramente razoável, podendo confundir espectadores com opiniões tão agressivas. Eu mesmo não consigo entender como “Star Trek” é tão amado e “Star Trek Into Darkness” acaba eleito como o pior de todos numa convenção Trekkie.
Uma expedição da Enterprise num planeta primitivo dá mais errado que certo e força James Kirk (Chris Pine) a tomar algumas decisões difíceis. Na Terra, isso não ajuda muito seu currículo já manchado, colocando em perigo seu comando da nave. No entanto, um ataque ao coração da Frota Estelar pede por medidas drásticas e Kirk volta à ativa numa missão que envia a tripulação da Enterprise atrás de um perigoso inimigo. Tudo indica para uma missão direta ao ponto: ir até o planeta Klingon e eliminar o terrorista. A verdade é que motivos pessoais, manipulações e mentiras estão ali para dificultar a vida de um capitão dividido entre seu coração e seu dever.
Para falar a verdade, nunca achei que fosse gostar mais de “Star Trek Into Darkness” do que de seu predecessor. As críticas em cima dele eram claramente mais duras e apontavam para outra continuação que não chega no mesmo nível de antes, mas não aqui. Com uma parte respeitável dos erros de antes consertados, esta obra mostra que talvez a opinião dos fãs mais assíduos não deva ser levada ao pé da letra. Não vi o que veio antes nos seriados, mas dá para dizer com segurança que J.J. Abrams procura fazer diferente em seus filmes; é quase universal o comentário de que a franquia sempre foi mais personagem e filosofia do que ação e efeitos especiais. Não há nenhum absurdo em dizer que há diferenças, mas qual o problema nisso? Fidelidade de lado, esta é uma experiência muito mais agradável e completa que seu predecessor, que melhora os defeitos e até o que já havia sido bem executado antes. Exceto pelo lens flare, que continua assassinando a estética de uma obra que poderia ser muito melhor nesse quesito.
Os primeiros segundos já revelam a tendência de ir para o lado da Ação com uma sequência pré-créditos que se encaixaria perfeitamente num 007. Antes mesmo de introduzir qualquer tipo de trama já temos Kirk e Bones correndo numa floresta vermelha enquanto Spock (Zachary Quinto) está dentro de um vulcão. Já é um salto considerável de ambição e fantasia se comparado ao que foi feito em 2009, e o melhor de tudo é que as coisas só melhoram dali em diante. Explosões grandes foram mostradas antes, mas nada supera o que é mostrado aqui em termos de escala. “Star Trek Into Darkness” parece estar finalmente livre de qualquer tipo de amarras do legado da franquia de Gene Roddenberry, seguindo seu próprio caminho como uma história que procura ser divertida e competente sem perder a identidade no processo. Talvez seja essa a principal razão pela qual os fãs criticam este longa — ter sua própria personalidade longe do que veio no passado — mas eu francamente prefiro que seja assim se o resultado for consistente. Não é aqui nem em filmes de super-heróis que elogiarei fidelidade em negligência de qualidade; se ser fiel é ser menos, então é melhor que as coisas sejam diferentes mesmo.
Para começo de conversa, “Star Trek Into Darkness” não tem um, mas dois grandes vilões, os quais são mais do que um título por contarem com grandes atores. Um deles não vou mencionar para não estragar a experiência, mas o outro é interpretado por ninguém menos que Benedict Cumberbatch. O nome por si pode não ser muito chamativo para alguns, ao passo que para outros é automático lembrar dele por seu trabalho em “Sherlock”. Curiosamente, é daí que vem um dos pontos mais positivos de sua performance aqui: ele é muito bom em parecer inteligente, superior. Sendo um personagem que se orienta muito por esses dois adjetivos, não é muita surpresa que o resultado seja um bom vilão. É com gosto que digo que ele e o elenco, em geral, estão melhores, a maioria estando mais confortável sem a pressão de reviver personagens clássicos depois de sabe-se lá quantos anos.
Como um esforço colaborativo, não é do nada que o elenco aparece em melhor forma, afinal os conflitos e desafios enfrentados pelos personagens são oferecidos pelo roteiro. Kirk e Spock travavam um embate de lógica contra emoção em “Star Trek“, mas a falta de sintonia desse tema com o enredo acabava limitando o atrito aos envolvidos e transformando os dois em personalidade estereotipadas. Expandem esse conceito aqui quando surge alguém para intimidar os lados fortes dos dois protagonistas. Não é mais uma batalha de egos engessados, surge uma relação orgânica entre dois indivíduos muito diferentes, também refletida no sentimento de companheirismo e união do indivíduo com sua tripulação. A dualidade é mantida sem que os valores sejam rigidamente os mesmos do começo ao fim. Há um embate de filosofias entre os protagonistas, o previsível clichê do bem contra o mal, ética e moral e até mesmo o verdadeiro propósito da missão — militarismo ou acerto de contas pontual. Minha única crítica em cima disso é quando vão além dos elogios dados aqui e tornam essa dinâmica de camaradagem em um verdadeiro show de sentimentalismo pobre; uma sequência lamentável que dura apenas o bastante para incomodar. Talvez não seja para menos que este mesmo trecho tenho sido feito com uma cena icônica dos primeiros filmes em mente, está simplesmente destoante do resto da obra. Existem ainda alguns outros eventos que prometem muito e entregam pouco quando uma saída conveniente revela o passeio não tão empolgante criado pelos roteiristas ali. Nada que não seja eventualmente compensado por uma bela troca de murros e tiros, claro.
É difícil dizer com exatidão se a verdadeira razão de “Star Trek Into Darkness” funcionar melhor é manter uma distância maior do legado da franquia, mas se a reclamação dos fãs sugere alguma coisa, acredito que seja exatamente este ponto. Uma série dos anos 60 vendeu sua alma par Hollywood? Talvez. Só sei que a troca não foi negativa como alguns pintam. Há menos lens flare, mais efeitos especiais em cenas de ações gigantescas e um elenco mais aconchegado. É uma mudança de tom certeira, que muda as coisas para melhor em praticamente tudo.
1 comment
Achei uma ótima sinopse!Ele está demais em Star Trek! Eu adoro o Cumberbatch e todos os filmes com ele. Ele é um excelente ator e, não sei você viu que vai estrear um novo filme dele, o Brexit. Ele está diferente demais. Este filme me parece ser um dos melhores e mais aguardados do gênero de drama que está pra estrear. Só pelo trailer, é impossível não se deixar levar pelo ritmo da historia. A maioria dos filme sobre política são cansativos e este parece estar longe de ser, só pelo assunto e pelos atores. Eu estou ansiosa para assistir e, com toda certeza, verei na estreia.