Depois de revolucionar o gênero Ação com uma trilogia de sucesso, a série Bourne retorna para uma quinta rodada com “Jason Bourne”, dessa vez trazendo Matt Damon e Paul Greengrass de volta. Devo admitir que as memórias que ficaram dos três primeiros filmes não foram lá espetacularmente positivas para criar alguma expectativa. Para piorar, a recepção mais ou menos de “The Bourne Legacy” também não foi muito encorajadora. Desde “O Ultimato Bourne”, de 2007, os gigantes do gênero soltaram vários longas novos — houveram 3 novos “007”, 2 “Missão: Impossível” e até o grande “Mad Max: Fury Road“. Mesmo assim, não falta entretenimento aqui para os que esperam um filme de ação recheado de bons momentos.
Após virar a CIA de ponta cabeça no passado, Jason Bourne (Matt Damon) ressurge de seu esconderijo procurando respostas para seu passado, que agora não é mais tão desconhecido. Essencialmente, essa é a história do filme. Todo o resto pode muito bem ser considerado como desculpas dos produtores para fazer um novo filme. De qualquer forma, o ex-agente sai novamente em busca de sua história quando uma colega consegue informações confidenciais. O que se segue é um grande conflito de interesses entre um agente que quer saber sobre si mesmo, uma agência que o quer morto e uma terceira parte com seus próprios planos.
Seguindo mais ou menos a linha de “Mission: Impossible – Rogue Nation“, este é um bom filme de ação com uma história estranhamente similar ao que se viu antes. O lado ruim dela é que, no fundo, a premissa não passa de uma desculpa para contar a mesma história de novo. Podem trazer personagens da trilogia original e fingir que é algo inédito, no fim é a mesma coisa de antes. A diferença é que agora Jason Bourne sabe sua própria identidade, ainda que o gatilho para o enredo se desenvolver tenha saído do absoluto nada. Novamente similar ao “Mission: Impossible” do ano passado, a ação e uns detalhes a mais compensam a falta de criatividade do roteiro, resultando em algo melhor do que era sugerido pela premissa rasa.
A ação resgata o melhor da adrenalina sem perfumarias e coloca na tela alguns dos melhores momentos do agente Bourne. Não são apenas cenas de magnitude absurda soltas ao longo de um enredo comum, pois ao menos a parte de ser um filme de espionagem relativamente realista é visivelmente bem administrada. Começa com a escolha de ambientes tensos, que segue com a construção do suspense e finalmente explode em ação caótica. Aqui isso se traduz mais ou menos como uma caçada de rotina da CIA contando com uma manifestação tensa ao fundo. No começo é apenas um detalhe que dificulta a localização dos alvos, mas conforme o conflito se escala a violência toma conta e todos entram em ação ao mesmo tempo; uns com pedras e molotovs, outros com armas de fogo. Com o diretor Paul Greengrass de volta era de esperar que o resultado seria satisfatório. Volta a ação realista, mas voltam também a câmera instável e a edição hiperativa. A primeira delas parece ter amadurecido um pouco e já não atrapalha a compreensão de quem arrebenta quem como antes, ao passo que a edição dificilmente poderia ser apropriada. Exceto nos momentos em que o diretor propositalmente usaria essa ferramenta para deixar o espectador de fora, não há porquê para ela aparecer. Com certeza não durante uma luta corpo a corpo, pelo menos.
Para não ficar tão descaradamente uma reciclagem da premissa que engatilhou a primeira trilogia, “Jason Bourne” explora temas mais modernos que, para mim, pareceram relevantes da forma como foram usados. Em vez de apenas apresentar a CIA como os vilões — e Tommy Lee Jones numa interpretação preguiçosa como o diretor da agência — criam uma subtrama envolvendo o embate entre segurança e privacidade. Considerando toda a recente loucura envolvendo os atentados pelo mundo e a dificuldade de combater esses movimentos terroristas, debate-se muito quão longe o Estado deve ir a fim de proteger seus indivíduos. O que se vê aqui não é exatamente um debate, até porque não há argumentação forte de nenhum dos dois lados, mas ainda é uma boa adição por dar atenção a um assunto importante ao mesmo tempo que melhora um pouco o roteiro. Na pior das hipóteses esse tema faz sua parte num filme de ação: cria plano de fundo para outra espetacular demonstração de adrenalina.
Como filme de ação, “Jason Bourne” faz sua parte e entrega perseguições, tiroteios, lutas e caçadas solidamente executadas. O retorno de Paul Greengrass, diretor da trilogia original, e Matt Damon mostram seus benefícios ao colocar no holofote um personagem icônico em sequências bem administradas de ponta a ponta. De resto, considerar esta obra como um “mais do mesmo” bom ou ruim depende muito do quanto o espectador releva a premissa reciclada. Passadas as desculpas esfarrapadas, ainda há um pingo de originalidade quando abordam temas modernos na história.