Pensando em outra continuação para fechar a semana de comemoração dos 2 anos de Cine Grandiose, achei que um slasher seria uma boa escolha. Então esbarrei em algumas críticas sobre “A Nightmare on Elm Street 2: Freddy’s Revenge” e decidi que o assistiria, afinal meu último encontro com Freddy Krueger havia sido há anos. Na memória o longa não era tão ruim como apontava a opinião que li e até tinha sido uma decente continuação ao que é considerado um clássico do gênero. Novamente o tempo me enganou e o resultado não foi tão positivo quanto antes. Os pontos positivos continuam os mesmos, eles só não mais têm o mesmo peso.
Depois dos eventos de “A Nightmare on Elm Street”, a casa dos Thompson ganhou má reputação pelos boatos do que aconteceu lá. Achando que fez bom negócio, a família de Jesse (Mark Patton) muda-se para lá 5 anos depois e enfrenta problemas quando o garoto acorda todos os dias aos gritos. Ele tem sonhos bizarros envolvendo morte e o infame Freddy Krueger (Robert Englund), que deseja colocar seus planos em atividade possuindo o garoto e fazendo ele matar em seu nome. No mundo real, Jesse tenta manter a sanidade enquanto um maníaco brinca com sua cabeça.
Da mesma forma que o problema de “Sexta Feira 13 Parte V” não é a falta de Jason Voorhees, não acho que Freddy tentar possuir alguém para fazer suas maldades é um defeito. Sem chegar no nível “Jason Vai Para o Inferno” de sumir com o vilão principal, “A Nightmare on Elm Street 2: Freddy’s Revenge” merece um pouco de respeito por ao menos conseguir se sustentar com um personagem diferente. Mas não é como se Freddy estivesse totalmente ausente também. Ele tem aparições ocasionais que deixam sua sombra sempre presente, tanto literalmente como na atuação de Mark Patton, o ator principal. Por sua vez, sua decente interpretação é um caso raro num gênero em que adolescentes poderiam muito bem ser chamados de afiadores de facas. Indefeso perante os avanços do assassino em sua mente, o protagonista reflete sua falha em digerir o indigerível com traços de loucura. Ele torna-se o tipo de pessoa que está sempre a um triz de fazer uma grande besteira, como tirar a própria vida ou a dos outros em uma psicose súbita.
Outro ponto que chama a atenção é o departamento visual; fotografia e efeitos especiais, especificamente. O primeiro apresenta cenas que capturam bem o ar sinistro de Freddy Krueger, potencializando os momentos em que ele está em cena. Vale notar que neste ponto a franquia ainda não tinha o humor negro das continuações, então qualquer coisa que afaste o personagem da galhofa é válida. Já os efeitos especiais estão em toda sua glória de efeitos práticos bem feitos. Enquanto a fotografia dá um ar sombrio às imagens, os efeitos completam com uma mistura de violência e um senso de fantasia distorcida — ou melhor, pesadelo. A maquiagem de Freddy inclusive teve de ser refeita do zero por terem trocado o artista de maquiagem, que não desapontou mesmo sendo um pouco diferente da original. Infelizmente, não posso citar outros momentos que se destacam para não estragar nada, mas posso dizer que não saí desapontado com o que vi. Ao menos não nesses quesitos.
Queria estar exagerando, mas “A Nightmare on Elm Street 2: Freddy’s Revenge” sai dos trilhos em todo o resto. Primeiramente, os poderes de Freddy Krueger não fazem sentido nenhum. Quase todo mundo sabe que seu poder está no mundo dos sonhos controlado por ele, onde seus atos têm repercussão no mundo real, ou seja, quem ele matar nos sonhos morrerá na vida real também. Pois bem, é difícil olhar com bons olhos para um filme que não mostra isso acontecendo uma vez sequer. Em vez disso, mostram no mundo real o poder que Freddy só teria no mundo dos sonhos, sendo que o vilão não está exatamente presente nessas situações. Feita a besteira, ao menos poderiam ter ido até o fim com ela e usado a criatividade dos pesadelos para entregar uma boa carnificina. Não sei o que pretendiam e nem me esforçando consegui dar sentido a tudo isso, só sei que o roteiro é um grande erro. Melhor dizendo, a produção inteira foi um desastre. Não usaram nenhuma vez o tema original, continuaram sem Wes Craven e quiseram filmar sem Robert Englund, chegando a começar as gravações com outro ator. O resultado ainda assim rendeu dinheiro o bastante para salvar a New Line e possibilitar que essa e outras franquias de Terror continuassem.
Quebrar as regras, ou melhor, ignorar sua existência sem dar uma boa explicação é ruim; ficar sem explorar o potencial de tal decisão é simplesmente revoltante. Tal vacilo passou batido anos atrás, de alguma forma, mas não hoje. Quem quer que tenha criticado “A Nightmare on Elm Street 2: Freddy’s Revenge” — não me recordo agora — tinha toda a razão: é um filme que simplesmente desrespeita o material que tornou sua existência possível. Só não concordo que colocar o assassino em segundo seja uma decisão ruim. O ator faz um bom trabalho, ainda mais se tratando de um slasher.