Antes de qualquer coisa: sim, sou da equipe que considera “Terminator 2: Judgment Day” melhor que o original. Ambos são excelentes, mas enquanto o primeiro é considerado hoje como um dos clássicos do Sci-Fi, sua continuação se posiciona entre os melhores filmes de ação de todos os tempos. Comparada com outros clássicos, esta não é uma obra exatamente velha — está beirando os 25 anos — e ainda assim acho que é inegável dizer que o termo “clássico” é apropriado. O número de falas e cenas icônicas é muito grande para contar nos dedos, algumas destas sendo conhecidas até por quem nunca assistiu. É uma experiência tão bem cadenciada e executada que não fica velha nunca. Nem mesmo seus efeitos especiais que ainda dão um baile em muita coisa que saiu depois.
Anos após os eventos de “The Terminator”, Sarah Connor (Linda Hamilton) reside num hospital psiquiátrico enquanto um novo exterminador é enviado ao passado. Ao mesmo tempo, outro exterminador surge em outro lugar. Contudo, seus propósitos são diferentes: um quer assassinar o jovem John Connor (Edward Furlong) antes que ele se torne um grande líder da resistência, o outro veio para protegê-lo. Torna-se uma questão de tempo até que um dos dois exterminadores alcance o garoto, que agora não pode contar com sua mãe para protegê-lo.
A excelência de “Terminator 2” não precisou de muita propaganda para ganhar sua estrela na calçada da fama — com certeza não precisou deste texto para isso. Dizer que ele é bom é repetir o que virtualmente toda pessoa que gosta de cinema já disse uma vez na vida. De qualquer forma, acredito que um gigante de Hollywood merece espaço principalmente por ser uma das poucas obras que vi duas vezes em sequência sem me aborrecer. A última vez que fiz algo parecido foi com “Star Wars: The Force Awakens” por conta da versão IMAX, mas acho que por não ter gostado tanto dele acabei não aproveitando a experiência como aqui. Vale dizer que não foi uma assistida gratuita também: na primeira vez encarei a versão de diretor e seus 16 minutos a mais, na segunda voltei para a mais popular versão original. Por quê? Bem, posso dizer com segurança que ambas as versões contém o mesmo filmaço, mas algo pareceu fora do lugar na primeira vez, então voltei para ver o que havia de errado.
As duas versões têm seus méritos. Entretanto, o tal conteúdo extra da versão de diretor faz mais desfavores do que incrementa a experiência. Nela estão cenas que explicam melhor alguns pontos da trama e mostram que que faltou algo lá em 1991, ao mesmo tempo que também estão outras cenas que simplesmente deixam a experiência mais arrastada. Nunca lenta o bastante para matar o interesse, claro, embora tais adições certamente estraguem um tanto o começo explosivo do corte original. Pensando bem, acho que as adições boas não compensam a desacelerada num filme que é pura ação explosiva.
No quesito da ação, inclusive, não tenho nada a reclamar, afinal de contas é ele que faz “Terminator 2” ser a experiência épica que é. O que já era bom em “The Terminator” só melhora com um orçamento mais de 10 vezes maior, resultando nas tão queridas perseguições de caminhão, carro, helicóptero e moto. Só quem não viu não lembra da introdução do T-800 no bar de motoqueiros. A sequência de Arnold subindo numa Fat Boy e pilotando noite adentro foi tão grande que até hoje a Harley-Davidson vende o modelo por ser a moto que Arnold Schwarzenegger pilota. Não é de graça que o design do modelo tenha mudado pouco de 1991 até hoje: as pessoas ainda amam “Terminator 2”. Quem gostou do primeiro não tem motivo para não curtir sua continuação, pois quase tudo que era bom antes volta com mais dinheiro e intensidade. Este é um bom exemplo de continuação bem sucedida. Retomam o “I’ll be back”, o carro entrando pela porta, a perseguição de caminhão na rodovia e até mesmo o final na fábrica sem nunca parecer que estão copiando algo. O olho mais atento sabe que viu aquilo em algum lugar, enquanto o resto apenas aproveita os carros capotando e os tiros voando.
Todo bom herói precisa de um bom vilão, que neste caso não poderia ser ninguém menos que Robert Patrick e seu exterminador de metal líquido. Não bastou o twist de Schwarzenegger ser o bom moço da vez, seu inimigo tinha de ser alguém que desafia suas capacidades de uma maneira nova. Curiosamente, “Terminator 2” foi tão popular e teve um vilão tão icônico que muita gente não acredita que Arnold era vilão no original. Hoje em dia sua imagem como o exterminador do bem ficou melhor enraizada e não é para menos: seu papel aqui é muito mais profundo do que antes, ainda que continue limitado. Não forçam a barra em criar uma personalidade profunda, mas usam o personagem da melhor maneira que poderiam fora das cenas em que músculos falam mais alto do que palavras. Para não tornar um filme de ação explosiva em algo meloso, James Cameron aproveita justamente a incapacidade social do T-800 para dar carisma a um personagem que fala 700 palavras em mais de duas horas. Ele não sabe o que é apropriado fazer ou dizer e frequentemente cria o humor simples, mas eficiente, de “Terminator 2”. Ao mesmo tempo, John Connor tenta ensiná-lo sobre ser mais humano com seu estereotipado jeito de rebelde dos Anos 90. Nem de longe isso rouba a cena das perseguições e porrada pura entre os dois exterminadores, mas sem dúvida é um aspecto que torna a experiência mais completa e até bem divertida. Envolver-se com personagens de um filme como esse é um prazer raro e muito apreciado por ser possível aqui.
Talvez tão impressionante quanto o resto de “Terminator 2” são seus efeitos especiais revolucionários para a época e relativamente até hoje. Premiados com o Oscar, os efeitos deram um grande salto em termos de computação gráfica e até hoje são bem aceitáveis. Claro, sem exagerar e dizer que estão no mesmo nível de produções atuais, mas é evidente que o resultado está longe de feio e ainda mais longe de fazer o que faz de forma incompetente. É isso que acontece quando a computação gráfica é usada de forma inteligente. De um lado as escolhas artísticas cooperam para o aspecto técnico dos efeitos não envelhecer mal, de outro seguem seu propósito de explorar o potencial do vilão — em vez de ser algo apenas expositivo. Enquanto obras como o “Godzilla” de 1998 tentaram usar a CGI para criar uma criatura que exigia um bom senso de dimensão e profundidade, a obra de James Cameron se manteve mais humilde e com isso teve mais sucesso.
Tão bom quanto anos atrás e curiosamente também numa segunda assistida imediata, “Terminator 2” é tudo o que dizem e mais um pouco por permanecer uma experiência que envelheceu bem em quase 25 anos de existência. Ainda estou para ver alguém que diga que este é um filme de ação ruim ou que seus efeitos estragam a obra por serem ultrapassados.