Ainda em 2014 eu não estava empolgado por um novo filme das Tartarugas Ninja, especialmente quando revelaram que Michael Bay estaria envolvido no processo como produtor. Depois que o visual das tartarugas foi divulgado, então, realmente não sobrou um pingo de empolgação. Assistindo ao filme confirmei que não havia motivo para empolgação, pois toda a qualquer expectativa por um bom resultado ficaria perdida numa história nada mais que mediana. Logicamente, o interesse por “Teenage Mutant Ninja Turtles: Out of the Shadows” não poderia ser menor. Porém pelo menos ele superou alguma expectativa: é ainda pior do que o esperado.
Derrotar o Destruidor não foi tão bom para as tartarugas quanto foi para o resto da cidade. Enquanto elas operam nas sombras sem ninguém saber, Vernon Fenwick (Will Arnett) ganha o amor dos nova iorquinos por supostamente ter salvo a cidade. Não demora para o Destruidor fugir de sua prisão e voltar a tocar seu reino de terror na cidade, só que dessa vez há mais alguém na jogada: o misterioso Krang aparece com seus próprios planos. Novamente o quarteto de heróis deve juntar-se para derrotar um inimigo que ameaça não só sua cidade, como o planeta inteiro.
Se existe uma coisa que “Teenage Mutant Ninja Turtles: Out of the Shadows” faz muito bem é mostrar que a Lei de Murphy está certa: realmente as coisas poderiam ficar piores. Até agora considero este o pior filme do ano por ele simplesmente falhar em basicamente tudo o que se propõe. O primeiro trouxe uma história de origem rasa com alguns momentos de ação divertida e até criativa, que aqui é substituída por tartarugas de bermuda quebrando as leis da gravidade, ou falando de maneira mais clara, surfando na superfície de prédios sem fazer muito sentido. Na falta da parte boa de “Teenage Mutant Ninja Turtles” não sobra muito para se aproveitar, ainda menos quando destroem completamente qualquer imagem de nostalgia que os visuais poderiam trazer consigo. Talvez a intenção seja algo tipo criar um novo design para um novo público, mas vão além de entregar tartarugas feias, apostam inteiramente nessa caracterização terrível para desenvolver seus personagens. E fica pior quando tentam dar personalidade às tartarugas no meio da história com um atrito entre elas próprias. Uma boa idéia, mas que tem tanto impacto quanto qualquer outro conflito do roteiro.
Não saber estabelecer e resolver problemas é o primeiro grande defeito do roteiro. Do começo ao fim o enredo se baseia em um simples ciclo: os heróis têm um objetivo; aparece um obstáculo; este é rapidamente tirado do caminho por uma solução conveniente. Como um verdadeiro festival de deus ex machina, “Teenage Mutant Ninja Turtles: Out of the Shadows” segue livrando-se de qualquer problema com a mesma dificuldade de um engenheiro fazendo a tabuada. Nesta caso com alguma descoberta mirabolante de Donatello, com o poder da amizade de Leonardo ou com algum conhecido de April O’Neil (Megan Fox). Não é surpresa nenhuma que o longa falhe em trazer justamente isso: uma surpresa. Com essa falta morre qualquer senso de perigo. A tensão e empolgação que vêm com uma história inédita não aparecem, dando lugar a um sentimento de que o filme é uma grande reunião de clichês com estereótipos em forma de tartaruga como protagonistas.
O outro grande defeito do roteiro é ir além do clichê, praticamente chamando o espectador de estúpido quando traz alguns aspectos elementares da série Transformers para sua trama. Até “Transformers: Dark of the Moon” havia um personagem do governo cuja função era apenas ser um grande pé no saco dos protagonistas. No primeiro este era o Agente Simmons, no terceiro era a Secretária de Defesa e aqui é uma chefe de polícia. Há também a meia dúzia de cenas da personagem de Megan Fox, as quais têm essencialmente três propósitos: fazer dela um símbolo sexual, providenciar um deus ex machina ou nada de muito essencial. Por fim, retomam o mesmo conceito do terceiro Tranformers de abrir um portal no céu que pode destruir o planeta. Coisas como essas até poderiam passar batido, como aconteceu em “Os Vingadores”, caso houvesse uma boa maquiagem em cima desses empréstimos, se posso dizer. No entanto, um portal que ameaça a integridade planetária não faz sua parte minimamente. Falta uma solução no mesmo nível de tal perigo ou um agrado para os sentidos, como cenas de destruição em massa e ação satisfatória.
Talvez a única coisa relativamente boa que eu tenho para apontar em “Teenage Mutant Ninja Turtles: Out of the Shadows” é a introdução de alguns elementos clássicos dos desenhos. Entre eles o rinoceronte Rocksteady e o javali Bebop, o caminhão das tartarugas e o vigilante Casey Jones. De sua forma todos são boas adições, embora também falhem em alcançar todo seu potencial por sofrerem de um humor bobalhão que não faz serviço algum. De resto, este é um filme com diversos defeitos, algumas adições legais e apenas uma coisa inegavelmente boa: os créditos no estilo quadrinho com o tema clássico de 1987.