Ultimamente, estive jogando a adaptação de “The Warriors” para Playstation 2 e devo dizer que revisitar o universo bizarro da série me fez querer muito ver o filme de novo. O jogo vai um pouco além da história do longa-metragem, pois conta como vários membros se juntaram ao bando e como os Warriors ganharam espaço na cidade. Depois de certo ponto, o jogo alcança a história do longa e estende o que foi visto nas telonas, reinventando um pouco a trama no processo. Em uma mídia ou outra, o segredo do sucesso continua sendo a atmosfera. Contagiante, estilizada e muito divertida.
Em uma Nova York distópica, mas não muito distante, o crime está mais presente do que muita gente gostaria. Dezenas de gangues controlam territórios da cidade e fazem mais ou menos o que querem, enquanto a lei não tem muito sucesso em pará-los. Um dia, o líder do maior bando da cidade, os Riffs, convoca membros de todas as grandes gangues da cidade para uma reunião. Ele propõe que uma trégua eterna entre em vigor, unificando todos os grupos sob um só objetivo: dominar a cidade. No entanto, as coisas dão errado nessa reunião e os Warriors, um grupo de Coney Island, são culpados pelo caos. Caçados como animais, eles são forçados a cruzar o território de várias gangues para chegar em casa.
“The Warriors” é o tipo de filme que, de começo, pode assustar o espectador. Depois de obras populares, como “Scarface” e “The Sopranos“, o termo gângster ganhou uma cara nova, passou a ser associado a riqueza, glamour e um estilo de vida sofisticado. Esse sujeito passa a ser o cara de terno, fumando charuto e pilotando um conversível, enquanto, na verdade, qualquer cara parte de uma gangue é um gângster. Um espectador que leia a premissa desse filme pode achar que o crime exibido aqui é algo como se vê em outras obras da época: gangues de italianos, latinos, negros, asiáticos… É aí que o espanto pode surgir, uma vez que o espectador logo é apresentado a uma visão de gangue que não poderia ser mais diferente da popular: toda a excentricidade dos Anos 70 e 80 — completa com cartolas, pintura de rosto e macacões jeans — é usada para dar vida aos vários bandos.
Os Warriors, os protagonistas, podem ser considerados como os mais moderados: usam coletes de couro vermelhos com bordados estilo motoclube nas costas. Já os Boppers são mais ousados e usam camisas pretas, calças bege, coletes e chapéus roxos. Os Riffs vão ainda além e vestem quimonos laranjas, além de se comportarem como um exército de Daniel-san. Se na época tivessem exposto esse figurino extravagante, tenho certeza que muitos estranhariam, quem dirá hoje em dia. São excentricidades que deixam qualquer “Saturday Night Fever” no chinelo; ternos abertos e sapatos plataforma tornam-se comuns perto de marginais que se vestem como jogadores de beisebol. Este é o tipo de idéia tão absurda e prepóstera que, de alguma forma, funciona muito bem em sua própria falta de lógica. Tudo está distante do palpável e ainda assim muito próximo de seu espectador, uma vez que tratam o conteúdo com honestidade, sem querer engrandecer a atmosfera com detalhes desnecessários. Na verdade, só a gangue principal tem algum desenvolvimento, ela é a única a apresentar uma variedade decente de personalidades dentro de um mesmo grupo. Todo o resto dos detalhes fica nas mãos da criatividade visual, aspecto tão direto e característico que torna fácil se relacionar com seu universo.
No entanto, não se deve pensar que usar os visuais dessa forma é uma forma burra de desenvolver personagens secundários, eles simplesmente não são relevantes o bastante para justificar qualquer profundidade. Mas não é a profundidade que os tornaria relevantes? Em teoria, sim. Estes personagens serem rasos, por outro lado, não se mostra problema em nenhum momento. Desse modo, a estilização pesada ganha valor, vai além de dar uma personalidade singular ao filme, pois mostra que um esforço a mais foi feito para enriquecer um elemento que poderia muito bem ter sido abordado de maneira casual. O único detalhe que continua incomodando, mesmo numa segunda assistida, é como a direção falha em criar cenas de ação realmente impactantes. Falam de um mundo dominado por gangues, mas a ação não tem o mesmo poder da estilização na hora de representar aquela realidade. A pancadaria, especialmente, não tem aquela emoção e ambição que é vista num Warrior negro que se veste como índio. Murros sem impacto resultam no único ponto em que o universo parece ter receio de explorar, transformando a ficção distante, que antes era sincera, em algo artificial.
Felizmente, boa parte do enredo não se sustenta nas cenas de luta, puxando mais para o suspense quando a incerteza do destino do grupo toma espaço. Mais do que um filme popular antigo que se destaca por sua originalidade, “The Warriors” é uma obra que pode se gabar por também ser muito boa; um daqueles filmes da infância de alguém que pode ser recomendado para audiências mais jovens sem medo.