A primeira pergunta que surge quando este filme começa é uma que está presente desde “Diary of the Dead“: onde diabos está Tom Savini quando se precisa dele? As consequências de sua falta já se mostraram presentes, ainda mais quando se fala em uma franquia que deve tanto ao seu trabalho. “Survival of the Dead” é, até o momento, a última entrada da franquia de George A. Romero, sequência da desastrosa entrada de 2007. Levando em consideração que este filme não chegou a faturar nem 10% de seu pequeno orçamento, algo perto de 4 milhões de dólares, esta provavelmente é a última vez que veremos os zumbis de Romero.
Seguindo no mesmo universo quase alternativo de seu predecessor — onde o apocalipse recém começou, apesar da tecnologia moderna — esta obra acompanha um grupo de soldados na estrada, um deles sendo o mesmo que roubou os jovens do filme anterior. Quando o grupo descobre a existência de uma ilha com promessa de segurança e conforto, o destino é alterado para o oceano atlântico em busca de tal lugar. Só que segurança não é bem o que encontram lá quando duas famílias brigam pela hegemonia do local. A rixa entre os dois lados vem desde décadas antes, mas agora a briga é sobre deixar os zumbis vivos, com esperança de uma futura cura, ou exterminar todos de uma vez.
A volta ao estilo convencional de fazer cinema, por si, já é motivo para comemoração, uma vez que o filme deixa de sofrer com a infeliz decisão de mostrar a história como se fosse uma gravação amadora. O roteiro deixa de ser mal estruturado por conta do formato incomum e assim temos uma volta aos bons e velhos zumbis de Romero. Não exatamente, pois algumas decisões ruins permanecem e ferem o longa tal como feriram antes. A decisão de fazer as mortes com computação gráfica ainda é tão prejudicial quanto antes, talvez chegando a ser ainda pior aqui. Criatividade nas mortes e na violência é algo valorizado em filmes de terror, tendo em vista que surpresas são bem vindas em qualquer gênero. Mas ter uma idéia criativa não é por si uma conquista se a execução for ruim, como acontece várias vezes aqui.
Em um momento um zumbi é atingido no tórax por uma arma sinalizadora, apenas para sua cabeça começar a flamejar e pegar fogo. Para completar, o protagonista ainda acende seu cigarro nas chamas antes de chutar a criatura na água. Em um cenário com toques de Savini, teríamos um modelo real encharcado de combustível e aí este seria acendido pelo sinalizador. Ainda assim, existem momentos bons, uns com efeitos práticos e outros não. Um deles ocorre quando um morto-vivo cai do andar de cima de um celeiro e prende a si e sua vítima nas cordas, resultando numa briga desesperada; outros mais exagerados também chegam a brilhar, como o zumbi da dinamite. Mas para todo momento bom, existe uma explosão de cabeça por ingestão de pó químico de extintor. Quanto menos comentários de tal evento, melhor; a quantidade de besteiras feitas com CGI aqui é apenas deprimente, resumindo em uma palavra.
Ainda que a execução da parte violenta seja um tanto vacilante, temos no geral uma experiência muito mais aproveitável. Os zumbis, por sua vez, estão mais solidamente representados aqui, que no predecessor de 2007. Não existem mais mudanças súbitas de velocidade, as criaturas começam lentas e terminam lentas. Até mesmo a questão do aprendizado — ou resgate de habilidades em vida — é trazida de volta ao jogo. A maneira como utilizam ainda permanece um tanto inferior ao que foi visto em “Day of the Dead“, mas no geral a adição é positiva por singularizar a obra de Romero novamente. Os personagens também mostram melhoras, desta vez sendo muito mais fácil simpatizar com qualquer um deles por eles serem minimamente desenvolvidos. Ainda não é neste filme de zumbi que um ser humano vai ser representado fielmente, mas um irlandês teimoso já está muito mais perto que um cinegrafista que mal fala 50 palavras em 90 minutos.
Essencialmente um “Hatfields & McCoys” no apocalipse zumbi, este longa-metragem faz um trabalho muito melhor que o terrível “Diary of the Dead” por ao menos se esforçar para fazer algo decente. Não se chega nem perto do sucesso dos três, e talvez quatro, primeiros filmes, mas o que se tem aqui pode ser definido como uma experiência bem aproveitável. Isto é, caso a expectativa não passe muito longe de um Terror descompromissado com zumbis e alguns toques do velho Romero na fórmula.