Contando uma história baseada em fatos reais, este filme retrata a carreira de Frank Serpico na polícia da cidade de Nova York. Escrita por Peter Maas, a biografia usada como base para o roteiro deste longa-metragem acompanha os 12 anos em que Frank serviu como policial. Aparentemente a história parece ter pouco para mostrar, pelo padrão do policial bom e mau já ter sido visto várias vezes; porém o trabalho feito com a moralidade, em conjunto com uma demonstração magnífica de direção por parte de Sidney Lumet entrega mais que uma simples versão boa da velha história.
Frank Serpico (Al Pacino) é um rapaz de família ítalo-americana, agora um policial recém graduado da escola de recrutas. No entanto, mais que apenas ostentar o uniforme e o chapéu estrelado, o mesmo é dono de uma característica que o difere profundamente de muitos de seus colegas: Serpico tem uma fibra moral íntegra, sem espaço para cometer atos contra a lei nem tolerar outros que cometem tais ofensas. Após várias mudanças de departamento, o protagonista se vê sem opções na hora de se manter afastado da corrupção, decidindo assim lutar contra ela ao invés de fugir. O porém é que assim como bandidos odeiam dedos-duros, policiais também não gostam de quem se vira contra eles, para a infelicidade do herói.
Embora o protagonista tenha sido apontado mais de uma vez como um dos melhores heróis de todos os tempos, sua imagem não é necessariamente pintada aqui como um paladino imaculado, ou um deus entre tiras. A retratação de Serpico como um ser humano, apesar de sua integridade imutável, é um dos pontos que se sobressaem aqui, pois não só de sua reputação é feito um homem. Ter uma reputação e seu nome marcado na História como um exemplo de policial honesto é uma coisa, ser resumido a apenas isso é outro departamento completamente diferente. Enquanto em um filme de ação não é muito importante se aprofundar na personalidade do herói; aqui este é um aspecto relevante de exploração, pois este longa se trata da vida de uma pessoa de verdade, e no mundo real não há tantas explosões e tiroteios quanto alguns gostariam.
Felizmente, nem uma mínima explosão mostra notável sua ausência, pois a competência de Lumet como diretor se exibe de maneira explícita. Há um certo equilíbrio na demonstração de imagens apresentadas, que faz do ritmo deste filme um dos mais agradáveis de todos os tempos. Manter uma estabilidade quando se têm tão pouco movimento na tela é algo no mínimo admirável, ainda mais considerando que os diálogos não são tão complexos para roubarem a cena como o foco de cada sequência. Através de cortes suaves e uma edição competente, cenas são estendidas a não só uma simples representação de um momento isolado, mas sim como um segmento de algo muito maior, que se estende tão naturalmente que o filme todo flui como se fosse uma coisa só. Claro, tecnicamente um filme se resume a isso, mas a maneira como um evento é cortado para outro é tão orgânica que mal pode-se chamar de um corte. Sons de uma cena permanecem na outra, traços emocionais consequentes de uma situação transparecem em outra, fazendo com a semântica o que em teoria um plano-sequência faz com imagens.
No lugar da típica ação dos filmes do gênero Policial, temos um excelente desenvolvimento do protagonista, compensando toda e qualquer possível falta de conteúdo que possa ser notada. Não é muito complicado entender como um indivíduo como Serpico funciona, um homem de bem num ambiente de mal fazendo o possível. Porém o que torna as coisas mais interessantes é a maneira como o psicológico do personagem é trabalhado, similar ao que se viu em outro filme de Lumet, “Dog Day Afternoon”. As consequências dos eventos retratados falam mais alto que sua simples apresentação visual, um diálogo não é apenas impactante por si, mas mostra as consequências das raízes plantadas na mente do protagonista. O desenvolvimento é claro, e a atuação exímia de Al Pacino tem influência crítica para que a excelência seja atingida. Em mais uma demonstração excepcional de seu talento, Pacino exibe quão bom ator ele sempre foi, mesmo em seus primeiros anos de carreira.
Um interessante estudo de personagem solidamente dirigido por Sidney Lumet, este longa acabou sendo surpreendentemente muito melhor que o esperado. Caso for analisado superficialmente, poucas características parecerão realmente atraentes, porém se uma chance for dada a satisfação é garantida. Outras das ótimas atuações de Pacino, este filme mostra que querendo ou não o ambiente do Crime é onde o mesmo realmente brilha.