Nessa temporada de Oscars uma boa quantidade de figuras históricas foram exploradas, desde veteranos de guerra e cientistas pioneiros até equipes olímpicas e ativistas lendários. Pouca coisa passou pelo pente fino dos cineastas em 2014. Embora não seja adaptação de uma pessoa em específico, este filme conta a história de muita gente ao mesmo tempo. Portadora do Mal de Alzheimer, a protagonista desse filme de certa forma representa não só uma pessoa, mas várias que portam a doença.
Alice Howland (Julianne Moore) é uma mulher de sucesso: com um relacionamento estável, três filhos, e um emprego satisfatório há pouca coisa para colocar defeito. Em uma palestra de rotina, Alice se encontra perdida quando as palavras começam a ficar longe de seu alcance. Preocupada com o ocorrido, a protagonista procura ajuda médica e descobre que sofre de Mal de Alzheimer aos 50 anos de idade, um início precoce para a doença. Com o apoio do marido e dos filhos, Alice é retratada lutando contra a progressão da doença ao longo de seus árduos estágios.
Enquanto os diretores tratam do assunto delicado que é o Mal de Alzheimer com o cuidado que o mesmo exige, alguns efeitos da doença ficam sem a atenção que merecem. Não dizendo que as esferas da doença mostradas aqui são medíocres ou até ruins, mas sim que existem mais áreas dignas de atenção. O foco em cima do que a doença causa à protagonista é explícito, as diretrizes são dadas a Julianne Moore e a mesma as executa da melhor maneira que pode. Mas essa mesma falta de um escopo maior, que também reflete o maior defeito do filme inteiro, acaba trazendo não só falhas como também um desperdício de oportunidades de melhorar o caráter dramático e informativo deste longa-metragem. O filme não foi produzido em nenhum momento com um jeito de Documentário, mas acredito que mesmo involuntariamente sirva como um meio de transmitir ao público a realidade da doença. Neste sentido, uma exploração mais abrangente dos abalos do Alzheimer em cima dos familiares e pessoas próximas do paciente seria mais que bem vinda.
Como dito, Moore mais que cumpre seu papel como a figura central da história em uma interpretação digna de atenção. Por sorte os produtores conseguiram uma performance tão satisfatória da atriz, pois de outra forma este filme certamente cairia ainda mais fundo no poço da mediocridade. Como a portadora da doença, Alice é colocada o tempo todo sob o holofote do enredo, tendo cada movimento e comportamento capturados à exaustão para exacerbar a progressão da evolução da condição. Por vezes este foco acaba se mostrando um pouco excessivo, não por faltar em qualidade, mas sim por tomar o lugar de outros personagens carentes de um desenvolvimento mais profundo. Tal desequilíbrio pode ser facilmente notado no resto de sua família, onde os membros não conseguem entregar atuações acima da média por sua falta de espaço na trama. Ao invés de se mostrar impactada pela doença, a família age muito comportadamente, como se soubessem que não há espaço para eles nos 101 minutos de filme.
Não só em desenvolvimento este filme peca, mas o manejo de quase tudo se mostra frustrante. Começando pelas dosagens de drama e sua distribuição ao longo da trama, pode-se notar um claro erro ao ver que os diretores não sabem bem o que fazer com o material dramático que têm em mãos. Sendo um filme de Drama sobre o sofrimento e luta de uma mulher, há muito sentimentalismo e várias oportunidades para usá-lo apropriadamente. Infelizmente, o que se vê é um mau uso não muito diferente do que se vê no desenvolvimento dos personagens. Cenas grandes e relevantes perdem lugar para cenas menores, recebendo menos atenção e drama do que outras que não entregam um impacto tão significativo. O resultado não é uma melhora de tais momentos mais modestos, mas sim uma demonstração desnecessária de emoção nestas sequências agora explicitamente piegas.
No fim das contas, a única coisa realmente positiva que “Still Alice” tem a oferecer é a performance satisfatória de Julianne Moore, definitivamente merecedora do Oscar que recebeu. Um mau manuseio de elementos dramáticos e do foco do longa acabam estragando a experiência, fazendo de uma obra com potencial se tornar uma dupla decepção por sua mediocridade e por sua ignorância ao desperdiçar oportunidades interessantes.