Seguindo mais ou menos nas trilhas deixadas por “Easy Rider” em 1969, este filme mantém de uma maneira diferente a mesma boa vibração de sua contraparte motociclística. Baseado em um livro de sucesso escrito por Jon Krakauer, este filme reconta os eventos da vida de um jovem que decide mudar a direção de sua vida drasticamente. Com base em uma história real, o livro traça os eventos da vida do rapaz baseado em diários e notas feito pelo mesmo.
Christopher McCandless (Emile Hirsch) é um rapaz como qualquer outro, de uma família que o ama e o sustenta da melhor maneira que pode. Tudo acontece como de costume e finalmente Christopher se vê graduando da Universidade. Com a vida praticamente ganha e uma quantia considerável de dinheiro à sua disposição, o jovem joga tudo para o alto quando decide doar todo o dinheiro para a caridade e viajar o país em busca de aventura. Abandonando família, amigos, bens materiais e tudo que o ligava ao seu passado, o rapaz adota o nome de Alex Supertramp e se dirige ao Alasca para experimentar a natureza selvagem. Embora possa parecer uma base de um filme de aventura descompromissada, há um belo amontoado de mensagens a serem extraídas desta interessante jornada.
Embora tenha traçado uma comparação com “Easy Rider” anteriormente, há uma diferença crítica entre o modo como os dois contam sua história: “Into the Wild” não é contado de maneira linear. O período temporal da trama é de cerca de dois anos, mas o filme constantemente vai e volta na linha do tempo para contar melhor a aventura de seu protagonista. Inicialmente se tem apenas o personagem e sua viagem, sem explicação do porquê e nem do como. Aos poucos, flashbacks do passado vão iluminando o plano de fundo da grande jornada de Alex Supertramp ao Alasca. Por fim, passado e futuro finalmente se conectam a história segue em frente. A trajetória contada aqui é cativante e rica de conteúdo, é muito fácil se identificar com o herói principal e assim entender melhor suas motivações. Entretanto há algo nesse modo incomum de contar a mesma aventura que dá um charme a mais aos eventos retratados, como um suspense de como tudo se conecta ou chega até aquele ponto que paira sobre quase o filme todo.
Enquanto outros filmes não tão bem dirigidos simplesmente parariam de contar sua história para entregar um flashback imenso, este longa-metragem faz basicamente a mesma coisa de maneira muito mais fluída. A história não depende criticamente de seu plano de fundo para continuar, por isso independente de qualquer coisa não mostrada ainda se tem uma história concreta. Mesmo assim, o passado do protagonista está ali para ser contado e consegue ser encaixado perfeitamente no meio da narrativa, enriquecendo o enredo sem que o ritmo seja quebrado. Os lugares visitados são muitos e por conta da variedade ser tão excêntrica, pode-se ter uma noção do que se passa na cabeça de Supertramp. Mas isso é apenas parte do que faz do personagem interessante, a atuação orgânica de Emile Hirsch em conjunto com diversos diálogos bem escritos definem bem quem é aquela pessoa com espírito viajante.
Pessoas novas são encontradas no caminho e com elas o protagonista aprende um pouco sobre a vida, até mesmo ensinando alguns no meio do caminho. Some isso a paisagens extraordinárias e uma trilha sonora espetacular, com diversas composições de Eddie Vedder, que aquela sensação de feel good movie será sentida imediatamente. O terreno está posto e os ingredientes estão na mão, porém algo ainda parece fora do lugar. Se por um lado o desenvolvimento tem tudo para ser solidamente executado, por outro lado há uma certa insistência em bater em algumas teclas desnecessariamente. A atuação em conjunto junto da ambientação e dos diálogos já passam uma mensagem clara sobre quem é a pessoa sendo estudada, mas isso não impede que diversas frases e citações sejam inseridas aleatoriamente numa tentativa de aumentar a profundidade já satisfatória. Claramente se expondo como um excesso, alguns momentos acabam manchados por esta demonstração falha de conhecimento acadêmico direto da universidade dos posers. Há ainda o argumento de que citar as coisas é característica de Christopher, e se este for o caso não faz dessa escolha menos estúpida, de qualquer forma não fazendo nenhum favor para o filme.
Mudando o ambiente, tirando as motocicletas, e alterando o modo de progressão da narrativa, este filme mostra que ainda assim consegue manter o espírito da liberdade contido no clássico de 1969, “Easy Rider“. Somando isso aos traços interessantes do desenvolvimento da personalidade de Christopher, temos uma curiosa história recheada de conteúdos interessantes. Talvez com um pouco menos de pretensão este filme poderia ser mais feliz em sua jornada, mas independente disso se tem aqui uma aventura instigante.
1 comment
Um filme fantastico, com uma trilha sonora espetacular, é o tipo de filme que te faz esquecer o que tem ao redor e te coloca dentro do mundinho do filme, prestando atenção em cada detalhe.