Perto do fim dos Anos 80, a fórmula do Terror Slasher se mostrava um tanto cansada. Em menos de 10 anos franquias como Sexta-Feira 13 já possuíam 8 filmes lançados, enquanto outras séries não se mantinham longe. Perto do fim da década, o boneco assassino Chucky surge para dar uma revitalizada no gênero com seu sucesso de bilheteria. Entretanto, em menos de três anos de existência o mesmo prova ter menos do que o necessário para sustentar o gênero Slasher inteiro nas costas. Sete anos depois da última entrada, uma das mais inteligentes idéias de como salvar o gênero foi aplicada: transformar tudo o que já estava manjado e ultrapassado no gênero em um humor auto-consciente. Há algo ridículo em um assassino que permanece vivo apesar de aparentemente morrer várias vezes? Sem problemas, os produtores sabem disso e agora os personagens do filme sabem também.
Levando em conta que o terceiro filme da série se passa em 1998, apesar de ter sido lançado em 1991, este longa-metragem começa pouco tempo dos eventos do último filme. Com Chucky (Brad Dourif) morto pela terceira vez, dessa vez triturado por um ventilador gigante, cabe a Tiffany (Jennifer Tilly) trazer o boneco de volta à vida. Namorada de Chucky da época em que ele ainda era humano, Tiffany procura salvar seu amado em busca de um amor perdido há anos. O problema é que onde ela procurava amor apenas encontrou prisão em forma de boneca, tornando-se assim a famosa noiva do brinquedo assassino.
Relativamente desconhecido no cinema Hollywoodiano, Ronny Yu ganhou grande parte da sua limitada popularidade com sua direção em “Bride of Chucky”. Ao contrário do que aconteceu com outras franquias de Terror, que tomaram direções duvidosas na década de 90, este filme se aproxima do que foi feito com “Sexta-Feira 13 Parte VI: Jason Vive”. Uma abordagem cômica em cima dos clichês da franquia e do gênero pode ser vista aqui, com diversas referências aos filmes antigos encaixadas perfeitamente no humor negro característico dos outros filmes. Curiosamente, apesar da idéia de auto-sátira ser inteligente de um ponto de vista inovador, poucos foram os filmes que abriram mão de suas origens para abraçar a nova abordagem. Por conta disso, enquanto franquias como “Sexta-Feira 13” e “Halloween” insistiam em limitar as mudanças de sua fórmula original, séries como “Pânico” e “Chucky” estouravam como nunca.
Obviamente, a mudança existir por si só não indica algo automaticamente positivo. Se a mudança é intensa o bastante para desvirtuar as características definitivas da franquia, então algo está errado. As mudanças são bem vindas aqui pelo fikme não se definir apenas pelas novas diretrizes, mas sim pelos conceitos antigos serem executados de uma forma nova. Junto das auto-sátiras e das referências está o clássico humor visto nos últimos filmes. Chucky continua com suas obscenidades, marcantes para gerações não se esquecerem tão cedo de quem é o brinquedo assassino. Sempre apoiado pela dublagem monstra de Brad Dourif, Chucky se vê atualizado com a inovação tecnológica no manejo dos bonecos, que não só melhora os movimentos como também dá uma boa atualizada estética. Melhor do que simplesmente trazer Chucky de volta com uma desculpa conveniente, dão uma boa revisada no design já macabro do boneco. Sua versão costurada foi tão boa que hoje em dia é considerada tão icônica quanto a encarnação clássica.
Embora o diretor Ronny Yu tenha admitido em dado momento que dirigiu este filme e “Freddy vs. Jason” sem ser um fã de qualquer uma das séries, é admirável seu esforço como diretor aqui. A dosagem de humor negro, auto-sátira, ação e violência é no minimo eficaz. O modo como o diretor toma as rédeas pode parecer inicialmente o de um pretensioso novato querendo causar boa impressão, pois apresentar seu filme com referências gratuitas a outras franquias de terror é no mínimo questionável. Felizmente, Ronny Yu logo mostra que não veio para ficar repetindo as mesmas piadinhas sobre genitália alheia. Incluindo diversas cenas de ação inesperadas, o ritmo acaba apimentado por outra fonte de agitação além das próprias cenas de morte. Em sua maioria, estas cenas de morte demonstram a criatividade que todo fã de Terror busca em tais filmes. Explosões, pregos, tiros, facadas, esquartejamento, atropelamento… o que não falta é variedade para os olhos famintos por sangue. O problema, e provavelmente o mais grave de todos, é uma cena de morte onde os limites da estupidez ultrapassam a quinta dimensão da pretensiosidade. Com um orçamento moderado, talvez o diretor achou que pudesse realizar algum tipo de marco criativo e técnico com essa cena horrorosa. Começando com o reflexo invertido da boneca no espelho de motel, a cena parece promissora até o momento que uma garrafa de espumante voa em direção à câmera e quebra o tal espelho. O resultado é uma chuva de cacos de vidro e de computação gráfica de quinta categoria, que nada fazem pelo filme além de proporcionar um momento ordinário.
No final das contas, mesmo com as mudanças tudo se resume a uma experiência slasher renovada por um humor auto-consciente e uma direção agressiva. Dificilmente alguém que não apreciou os três primeiros filmes gostará desse filme, então como fã da franquia devo dizer que estou bem satisfeito com o direcionamento tomado aqui. Infelizmente a boa dosagem de humor vista aqui se perderia na próxima continuação, mas isso é outra história.