De todos os vários filmes dramáticos existentes por aí, acredito que posso chamar este de o Drama dos Dramas. Mesmo não sendo o filme do gênero Drama que mais gostei, de certa forma ele é único o bastante para deixar uma marca positivamente singular. Não ter um enredo complexo e focar muito nos personagens é comum em diversas obras do gênero, entretanto a composição sólida de atuação e direção faz este longa se exaltar até mais que as grandes obras de Nicholas Ray. Por exemplo, sua estrutura teatral colocar em evidência a atuação dos atores é uma das qualidade que faz deste filme o Drama definitivo.
Como dito, não há muita história para se contar. Os eventos vão simplesmente acontecendo a partir de um simples plano de fundo. Um amargo casal de meia idade convida um par de amigos para passar uma noite supostamente agradável em sua residência. Em meio a várias dúzias de drinques, o casal vê no inocente par a oportunidade perfeita para alimentar as angústias que um tem com o outro. O resultado é uma guerra de farpas voando para todo os lados, e drinque após drinque cada um dos personagens mostra que não é o que realmente aparentava ser.
Por ser baseado em uma peça de teatro, muito do filme se parece com teatro de verdade, principalmente pela pouca variedade de cenários e no foco fortíssimo nos personagens. A partir do simples plano de fundo de dois casais e muita bebida uma explosão de sentimentos e ótimas interpretações surge, engolindo o espectador vorazmente e não soltando até os minutos finais de filme. Os responsáveis por isso são a dupla Martha (Elizabeth Taylor) e George (Richard Burton), que entregam atuações de alto nível e basicamente carregam o longa nas costas. A insolência de Martha contra a severidade de George rende mais do que bons momentos por si, pois ao arrastar o casal jovem no meio são criadas situações no mínimo intrigantes.
Casada com Richard Burton na época, Elizabeth Taylor demonstra uma química ímpar com seu marido, deixando bem claro que apesar das atuações exacerbadas há um claro toque de realidade. Seu turbulento casamento com Burton dificilmente ficava longe dos noticiários, o que novamente remete a clássica sensação de autenticidade nas interpretações. Mas o que impressiona de verdade é como a luta entre os cônjuges se mantém relativamente controlada durante o filme inteiro, característica principalmente alimentada pelas atuações esplêndidas de Burton e Taylor. Ver um duelo entre dois espadachins é uma coisa, pois ambos estão no mesmo nível por usarem espada e armadura. Quando a luta acontece entre duas figuras divergentes, como um bárbaro contra um arqueiro, se tem um embate no mínimo curioso. Martha não possui escrúpulos, sua vulgaridade e indelicadeza mostra-se tão distante da frieza e austeridade de George que quando a guerra é declarada entre os dois é muito difícil não se sentir compelido a descobrir o que vem à seguir.
Posicionando-se no núcleo do filme como os pilares de onde todo o resto se sustenta, as interpretações e os diálogos afiados não são a única peça que compõe esta obra prima. Complementando o que o teatro tem de melhor está a ferramenta mágica do cinema: capturar situações através de uma câmera, mostrar o que quiser da maneira que quiser. Embora em muitas obras este seja um mecanismo mal aproveitado, aqui ele é usado para fazer o que os palcos não podem. Ângulos inusitados e planos-sequência são empregados nessa manipulação da captura dos momentos, fazendo muito mais que simplesmente registrar em filme o que o teatro poderia mostrar no palco. As situações inquietas de uma peça são melhor desenvolvidas por uma direção fina, transformando a bomba atômica de emoções em um canhão de dano controlado comandado pelo diretor Mike Nichols.
Minha única curiosidade quanto ao filme em si é a capacidade dos personagens de aguentar tanto álcool sem desmaiar, pois ao longo do filme algumas boas dúzias de drinques são colocados goela abaixo. Brincadeiras à parte, este filme se exibe como uma das jóias mais preciosas da história do Drama. “Quem Tem Medo de Virginia Woolf?” pode não ter muito a ver com a autora britânica, mas independente de nomenclaturas se sustenta como um sensacional longa-metragem.