Um dos últimos filmes da longa carreira de John Wayne, esta obra apresenta o ator um pouco diferente do costumeiro. Dentre os modelos de personagem famosos do ator, o mais conhecido provavelmente é o vaqueiro solitário, austero e ranzinza visto em “True Grit” e “The Searchers”. Mas apesar desse modelo ter sido visto em diversos longas, outra faceta de Wayne também se mostrou popular ao longo de sua carreira: sua interpretação de figura paterna. Por conta de seus traços fortes, John Wayne ficou conhecido como uma figura sábia e severa, um símbolo de maturidade para o cinema. Em “The Cowboys”, este aspecto é explorado a fundo ao apresentar o ator de 65 anos contracenando com uma equipe de atores mirins.
Quando uma nova febre do ouro surge, toda a mão de obra de Wil Andersen (John Wayne) abandona seus trabalhos em busca de uma chance de enriquecimento rápido. Com o inverno e contas a pagar batendo na porta, Andersen se vê compelido a contratar jovens estudantes para ajudar no manuseio do gado. Sendo a grande maioria desses jovens apenas meras crianças, cabe a Wil mostrar a elas como se faz o trabalho de um homem. Entretanto, o que ninguém sabe é que há um misterioso bando acompanhando o grupo desde sua partida, e suas intenções não são nada amigáveis.
Diferente de vários filmes de Wayne, aqui sua idade e experiência são explorados pelo enredo, apresentando o ator como um cavalo velho do Velho Oeste frente a juventude do resto do elenco. Um dos pontos mais fortes desta obra é justamente a maneira como abordam este tópico. A austeridade de Andersen posta contra a jovialidade do elenco cria uma relação interessante entre pai e filhos, e talvez até mesmo avô e netos. Ao longo do filme esta dinâmica é solidamente montada, apresentando diversos momentos marcantes entre crianças que não conhecem o mundo e o pai que não teve chance de ser um. Grande parte do sucesso dessa dinâmica se dá pela direção competente de Mark Rydell e pela atuação sólida de Wayne, que como sempre não desaponta seus espectadores.
Apoiadas por uma trilha sonora inesperadamente elaborada, as sequências das crianças aprendendo a ser caubóis mostram-se muito competentes. No geral o longa não mostra nada de novo em cima do que foi visto antes, mas as tais melodias animadas e juvenis dão uma cara nova ao comum. O sentimento de inocência da juventude é transmitido com sucesso através destas inúmeras cenas simples, apresentando um ponto de vista interessante sobre como a ingenuidade se transforma no mundo cão do Velho Oeste. Aos poucos esse contraste vai se clarificando, e organicamente o processo de transformação de meninos em homens é visto.
O porém é que perto do fim deste processo um direcionamento totalmente inoportuno e desnecessário é tomado. Justamente quando a construção desse relacionamento atinge seu ápice, quando o momento mais forte do filme é apresentado e o balde de água fria é jogado, o filme erra profundamente. No clímax de tudo, no momento onde os planetas se alinham, o longa-metragem toma uma decisão no mínimo infeliz perante o sucesso do resto da história. Todo o sentimento de inocência esvanece de uma hora para outra e em seu lugar uma seriedade macabra surge. Inicialmente um Faroeste coração leve, o longa chega a se tornar um filme de terror de caubóis mirins através de uma mudança de tom prepóstera. A desproporcionalidade é tamanha que grande parte das conquistas feitas são manchadas por tamanha imprecisão. Ver um dos momentos mais marcantes da carreira de John Wayne seguidos por uma sequência de eventos tão lamentável é simplesmente triste.
Talvez com uma direção melhor tal trecho poderia ter continuado os sucessos mostrados em grande parte deste Faroeste. Infelizmente, a mudança de tonalidade mostra-se incisiva o bastante para estragar a experiência inicialmente agradável. Ainda assim, “The Cowboys” possui diversos momentos excelentes para ser conferido. Talvez não se posicione entre os grandes trabalhos de John Wayne, mas certamente uma cena em especial marcará diversos espectadores fãs do trabalho do Duke.