Baseado em eventos reais, este filme entra no mundo do wrestling ao explorar tanto os bastidores quanto o próprio esporte em ação. A entonação desta obra puxa mais para o lado biográfico que para o lado romantizado do gênero Esporte, tratando dos eventos de uma maneira mais séria e realista. Os acontecimentos retratados giram em torno da vida dos irmãos lutadores de wrestling, Dave Schultz (Mark Ruffalo) e Mark Schultz (Channing Tatum). Ambos vencedores da medalha de ouro nas Olimpíadas, a dupla mantém uma convivência próxima na Califórnia, onde treinam em conjunto. Chamando a atenção de John E. du Pont (Steve Carell), os irmãos se vêem convidados pelo milionário para treinar nas instalações da fazenda Foxcatcher, onde os fatos principais da história tomam lugar.
Embora seja famoso por inúmeros papéis marcantes na Comédia, Steve Carell mostra-se magnífico neste Drama. Em uma interpretação de ápice de carreira, Carell deixa de lado seu notório ar engraçado em prol de uma personalidade austera. O ator consegue entregar uma atuação tão esplêndida que traços de sua célebre persona não são encontrados em lugar algum, nem mesmo nos momentos em que seu personagem tenta criar algum tipo de humor. Quando o único traço identificável do ator é sua voz, pode-se afirmar com certa tranquilidade que o trabalho exibido por Carell é no mínimo excepcional. Parte desse não reconhecimento também deve muito ao ótimo trabalho do departamento de maquiagem, que por um momento engana o espectador ao transformar completamente a feição do ator na figura de John Du Pont. Curiosamente, uma porção da audiência não conseguiu compreender que o ator estava em um filme de Drama, pois em toda e qualquer cena em que o mesmo estava presente ouvia-se gargalhadas. Isto é simplesmente lamentável, pois o trabalho visto aqui é claramente singular perante o resto da carreira do ator.
Seguindo com boas atuações, Mark Ruffalo atua esplendidamente como Dave Schultz, o irmão de Mark Schultz. Seu desempenho não chega a roubar o holofote de Steve Carell, mas é competente o bastante para ser respeitado. Agindo de maneira complementar à atuação de Tatum, Ruffalo completa os vazios da interpretação de seu parceiro através da relação entre seus personagens. Onde Mark deixa um vácuo de ação e emoção, Dave chega e preenche esses espaços com suas demonstrações de companheirismo e irmandade.
Em contraposição se tem a interpretação de Channing Tatum, que embora não possa ser considerada ruim, definitivamente não está a par de seus dois companheiros atores. Mark Schultz é retratado como um indivíduo introvertido e fechado, focado em seu trabalho e totalmente vulnerável à pressão psicológica. Sendo um indivíduo de poucas palavras, acredito que o problema maior esteja na maneira como escreveram o personagem, não tanto em Tatum. De qualquer forma, mesmo que o desempenho do ator seja fidedigno ao roteiro, seus esforços não são destaque nenhum. Interpretar bem um boneco de plástico pode ser bom o bastante para a trama, mas não é nem de longe digno de nota. Pelo menos ele conta com Ruffalo como suporte a sua interpretação, pois as cenas de treinamento entre eles comunicam o que Tatum falha em transmitir com palavras. Inclusive, essa demonstração constante de atos e gestos fala muito sobre a maneira como o enredo é contado aqui.
Usando aplicadamente gestos e atos físicos como método principal de contar a história, “Foxcatcher” tem muito de seus mistérios explicados nas ações de seus personagens. Um ponto crítico da história, que poderia ser clarificado através de diálogos, tem seu significado inserido nas ações e pequenos gestos dos envolvidos. Levando em conta a maneira física como o conteúdo é transmitido, pode-se notar uma relação um tanto genial entre esse método narrativo e o próprio wrestling. Por ambos tratarem especialmente de um teatro de figuras e movimentos, forma-se uma relação inteligente entre temática e narrativa. O único problema está nas sequências onde não há tanto dessa magia de atuações. Cenas paradas ou cenas sem atores acabam quebrando vigorosamente o ritmo do filme. Nestas partes há simplesmente um vazio, uma imensidão de nada, apenas um cenário bonito ou uma ocasião sem ação de sujeito nenhum.
Em tais cenas uma trilha sonora faria muito pelo andamento do longa, que é empobrecido por essas sequências vazias. Por conta da falta excessiva de conteúdo, a experiência se torna entediante às vezes. Em tais momentos não há um Dave para complementar a falta em Mark, não há o movimento para transmitir conteúdo; é como se a cena de treinamento de Rocky fosse colocada sem a característica melodia. Apesar de tais falhas, a experiência de “Foxcatcher” é sem dúvida singular entre os filmes indicados ao Oscar, e até mesmo entre os lançados em 2014. Longe de “Os Vingadores” e de “The Office”, as atuações magníficas de Mark Ruffalo e Steve Carell fazem toda a diferença no aproveitamento deste ótimo longa-metragem.