Depois de ler o título dessa postagem, devo admitir que me senti um pouco mal por ter falado do título longo de “Godzilla, Mothra and King Ghidorah: Giant Monsters All-Out Attack“. Com um título no mínimo curioso, Woody Allen faz desse filme uma paródia do livro homônimo escrito por David Reuben, um psiquiatra e autor de diversas obras. Enquanto o livro trata seriamente de assuntos sobre a sexualidade, o filme pega alguns capítulos dessa obra e as representa de maneira humorística, frequentemente usando alguma outra obra do cinema popular como referência.
A estrutura do filme é simples: sete perguntas presentes no livro original são representadas através de pequenas sequências, cada uma abordando a questão em questão. Questões à parte, tais curtas são separados por pequenas imagens de transição, cada uma contendo o título da próxima pergunta a ser abordada. Basicamente. vários curtas-metragens são postos juntos em uma montagem que se disfarça de um longa-metragem. Dentre as perguntas mostradas, se tem: “Por que algumas mulheres tem problemas para atingir o orgasmo?”, “O que são perversões sexuais?” e “O que acontece durante a ejaculação?”.
A parte interessante da decisão de montar o filme dessa maneira picotada, é que cada uma delas tem como fonte de inspiração um cineasta específico, um gênero, um filme , ou até mesmo uma vertente do cinema. Por exemplo, uma das partes faz homenagem ao cinema italiano em geral, e mais especificamente ao trabalho de Federico Fellini e Michelangelo Antonioni. As cenas são representadas de um modo não ativo, mas sim comtemplativo como as obras italianas, produzindo humor no processo. Outra sequência mostra o funcionamento fisiológico do corpo humano como se o mesmo fosse um tipo de máquina, operada por diversas equipes responsáveis pelas várias partes do corpo. Processos cotidianos não são apenas exibidos de forma criativa mas também de uma maneira que se assemelhem a trabalhos de ficção científica, com hierarquia entre os sistemas e seus trabalhadores, similar ao que acontece numa nave espacial grande, por exemplo.
Mas se por um lado a criatividade destas sequências é um lado positivo, devo dizer que o conjunto da obra não soma para formar uma experiência cinematográfica prazerosa. Tudo parece desconexo demais para ser considerado como um longa metragem de verdade, em primeiro lugar. Algumas sequências são definitivamente inovadoras com sua pegada diferenciada em assuntos do cotidiano, porém a falta de fluidez e conectividade entre eles simplesmente arruina o foco do espectador. Um assunto começa a se tornar bacana, mas acaba concluído rapidamente e logo dá lugar ao próximo curta. É difícil manter um nível de concentração estável quando nem mesmo a estrutura do filme parece estar no lugar.
Ainda que algumas sequências sejam muito boas e criativas, outras são simplesmente decepcionantes, ao não serem tão engraçadas ou criativas como o resto. Certamente não ajudando a já quebrada estrutura desta obra, tais partes fracas poderiam ter sido melhor trabalhadas, ou pelo menos excluídas completamente. Colocar sequências dispensáveis em um longa-metragem já cansativo estraga e muito a idéia inicialmente promissora. Há uma clara discrepância de qualidade entre as mencionadas seções, dissemelhança esta que deixa bem clara a falta de cuidado e carinho de tais segmentos.
Inovando e muito com algumas sequências extremamente bem executadas, este longa-metragem acaba se perdendo na sua própria estrutura defeituosa. Talvez a má impressão causada pela estrutura pudesse ter sido minimizada com uma maior quantidade de segmentos de qualidade, mas a falta destes em certos momentos acaba minando ainda mais as esporádicas conquistas desta obra de Woody Allen.