Inicialmente planejado como um projeto composto por 2 filmes, a série “O Hobbit” acabou sendo estendida para 3 longas-metragens. A primeira parte manteria o nome usado no primeiro filme “Uma Jornada Inesperada”, enquanto a segunda parte seria chamada “Lá e de Volta Outra Vez”. O “lá” se referia à Montanha Solitária, lugar onde Bilbo chegaria e de onde voltaria para o Condado. Por Bilbo chegar na Montanha no segundo filme, não faria muito sentido dizer que ele chegou e voltou no mesmo filme sendo que ele começa o longa na própria montanha. Por esse motivo, a terceira e última parte foi renomeada “A Batalha dos Cinco Exércitos”.
Incrivelmente, este longa-metragem começa com o fim do segundo filme! Não estou dizendo que os eventos anteriores simplesmente são retomados, e sim que o final que era pra estar nos minutos finais do segundo filme está inserido no começo deste. Peter Jackson provavelmente esqueceu completamente que as cenas do começo pertenciam ao filme anterior, mas ao menos esta terceira parte tem um início recheado de ação. Há também a possibilidade de terem inserido tal evento neste longa propositalmente, mas aí seria simplesmente uma manobra burra por ajudar a destruir “A Desolação de Smaug” mais um pouco.
É nesta parte da trilogia que as coisas realmente esquentam: Smaug toca os nove infernos na cidade do lago; a tal doença do dragão passa a afligir Thorin Escudo-de-Carvalho (Richard Armitage), adulterando seus pensamentos e o levando a guerra; os elfos chegam para reclamar as jóias de seu povo; os humanos querem que Thorin honre sua palavra e entregue o ouro devido; e os exércitos de Orcs se aproximam para aniquilar todos. É aqui que as cabeças rolam e que a encrenca passa a tomar forma. Apesar de ter mais conteúdo que os dois primeiros filmes, ainda não se tem aquela impressão que justifique um filme inteiro para a quantidade de material base usada.
Tudo o que não aconteceu em “A Desolação de Smaug” acontece aqui, fato que comprova ainda mais a afirmação de que 3 filmes na verdade eram para ter sido 2. A falta de eventos é compensada aqui com muitos acontecimentos relevantes, que neste caso puxam mais para o lado da Ação que para a Aventura vista nos primeiros longas. Isso quer dizer que as cenas de aventura, que ilustram a companhia superando os obstáculos, estão bem longe de vista. Nesta terceira parte temos uma entonação mais “Senhor dos Anéis” que “O Hobbit” propriamente dito, mesmo que isso não signifique que a execução de um seja tão excelente quanto a do outro.
Não tive a oportunidade de ler o livro que originou esta trilogia, mas pelo que ouvi de outras pessoas que leram, o livro é um tanto mais leve que a Trilogia do Anel. Ao contrário da seriedade presente na mencionada trilogia, o conteúdo de “O Hobbit” é direcionado a crianças. A ingenuidade e senso de aventura dos primeiros filmes se mostra ausente aqui, substituída por temas maduros como corrupção, poder, guerra e morte. Uma mudança, que em muitas obras poderia ser tratada como anti-climática, se exibe aqui como uma mudança de tonalidade bem agradável. O que começa como uma aventura termina com uma batalha gigantesca, um bem vindo clímax, porém estendido à exaustão.
As sequências de guerra são muito legais em sua grande parte. Mesmo usando computação gráfica para sua execução, as cenas parecem bem reais e pouco sintéticas. Mas se por um lado a representação das batalhas seja boa, a execução delas ficou muito manjada e óbvia. Por exemplo, em partes onde um exército deve superar outro, vemos em demasia cenas de um dos lados sofrendo perdas, como se de uma hora para outra eles esquecessem como se luta. O mesmo acontece na situação oposta, como quando a companhia dos anões entra na batalha e surpreendentemente todos seus aliados recebem um bônus de +10 no modificador de ataque, destroçando seus inimigos no processo. Por conta disso, muito da batalha em si ficou parecendo batida, sem que nenhum dos lados aparente estar em perigo.
Melhorando muitos dos erros cometidos pelo seu predecessor, “A Batalha dos Cinco Exércitos” compensa boa parte da falta de conteúdo com as inúmeras cenas de ação presentes, assim substituindo as já conhecidas sequências de aventura. Também se vê aqui uma entonação menos leve que o resto da trilogia, abordando assuntos mais sérios e maduros do que coisas engraçadinhas e coração leve. Mesmo assim, o manuseio da guerra em geral é um pouco frustrante ao se mostrar óbvio e manjado, o que finalmente impede que este longa-metragem seja melhor que é.