Junto de “Godzilla Against Mechagodzilla“, este é o único filme da Era Millenium que dá continuidade aos eventos de uma obra anterior. Dirigido pelo mesmo diretor de “Godzilla vs. Megaguirus“, Masaaki Tezuka não só ficou responsável pela direção como também acabou escrevendo a base para o roteiro. A Toho havia selecionado quatro rascunhos de história para o diretor escolher, mas recusando todos ele acabou inventando a sua própria história ao longo de uma noite, que subsequentemente foi aceita.
Aqui a história segue os eventos do último filme diretamente, escolha sábia quando o resultado do grand finale entre Godzilla e Kiryu acabou com um seco empate. Pouco tempo depois da grande batalha, as já conhecidas fadas de Mothra aparecem para alertar a humanidade sobre o uso dos ossos de Godzilla como arma, e alerta que Mothra declarará guerra ao Japão caso não devolvam a ossada. Não muito tempo depois, Godzilla volta a atacar o país enquanto Kiryu está sob reparos, mas Mothra entra na jogada e acaba sendo a defesa do Japão contra o Grande G.
Ao incluir Mothra no repertório de monstros, também acabam trazendo personagens relacionados ao passado do kaiju. Nessa linha do tempo, fazem do filme solo de Mothra, lançado em 1961, uma parte dos eventos prévios dessa história. Mais do que isso, trazem o ator principal do longa 52 anos após seu lançamento. Aqui ele participa como um dos coadjuvantes do filme, trazendo riqueza ao elenco além de uma interessante dose de nostalgia, pois o mesmo ator participou de outros filmes do Rei dos Monstros. Junto de seu neto e filho, o personagem de Hiroshi Koizumi faz parte do círculo de personagens principais da trama, protagonizando vários eventos-chave como quando os mesmos são contatados pelas fadas de Mothra para avisar o governo japonês do ultimato dado.
Se por um lado os personagens novos são interessantes o bastantes para criarmos afeto por eles; pelo outro lado, a exclusão quase total do elenco protagonista do filme anterior é desnecessária e infeliz. Ainda mais quando se leva em conta que este é a única entrada da Era Millenium que continua os eventos de uma trama anterior, e muito mais quando consideramos que o foco do filme anterior foi extensivamente colocado na história humana e no desenvolvimento de seus personagens. Alguns outros indivíduos menos importantes aparecem ao longo da trama inteira, como o Primeiro Ministro japonês, mas os mais importantes fazem apenas uma pequena aparição, como a protagonista de “Godzilla Against Mechagodzilla”.
Felizmente o rumo tomado por esse longa é muito diferente do anterior, e apenas o tempo necessário é usado para desenvolver os personagens humanos. Os atores escolhidos para interpretar os substitutos dos personagens principais de “Godzilla Against Mechagodzilla“, no contexto da trama, são obviamente inferiores às suas contrapartes, que tiveram quase um filme todo para se desenvolverem. Deixo claro que não me refiro aos novos protagonistas, mas sim àqueles personagens que têm as mesmas funções que o elenco original possuía na trama original. Neste ponto nota-se a real falta que estes personagens fazem, pois aqui eles seriam queridos pelo público apear do pouco tempo de tela dedicado a eles. Ao contrário do que acontece com o dispensável elenco novo, que só introduz personagens genéricos e sem carisma nenhum.
Obviamente, menos tempo trabalhando com humanos significa mais pancadaria entre monstros, e aqui fazem isso muito bem. Neste longa não há tanto do exagero visto no filme anterior, as lutas são mais coesas e melhor executadas. Mothra inclusive aparece e faz uma de suas melhores aparições de toda a franquia, atingindo um nível de qualidade de luta muito similar ao de “Giant Monsters All-Out Attack“, onde a mesma finalmente bate suas asas para voar. Infelizmente, de herança de seu predecessor a bizarra fantasia de Godzilla volta novamente, e das coisas que precisavam ser consertadas, essa foi uma que não deram muita atenção. Mesmo com um design bacana, a impressão que se tem é que o ator dentro da fantasia tem seus movimentos extremamente limitados pelo design da roupa, deixando o comportamento do Grande G bem travado e assim limitando também o potencial das lutas.
Consertando várias das decisões de rumo de “Godzilla Against Mechagodzilla“, esta entrada da Era Millenium conclui bem o que foi começado com o mencionado filme. Incluem até mesmo uma série de elementos que trazem uma bem vinda dose de nostalgia à trama, referente a parte de qualidade da Era Shōwa do kaiju.