Após uma leva de cinco longas-metragens e um seriado de televisão, a franquia ficou em stand by por alguns anos até o aguardado remake de Tim Burton. Em vez de renovar o interesse, o filme apenas ajudou a enterrar ainda mais a franquia no limbo existencial. Cerca de 10 anos se passaram e “Rise of the Planet of the Apes”, o reboot da franquia que teve sucesso onde o filme de 2001 falhou, foi lançado. Provavelmente parte do sucesso do reboot de 2011 se deu pela pouca fé colocada em cima dele, ainda mais considerando o declínio das últimas entradas. “Planeta dos Macacos: O Confronto” corresponde a empolgação gerada por seu predecessor e até a multiplica, entregando um dos melhores filmes da franquia até hoje.
Cerca de 15 anos depois do longa anterior. o vírus símio dizimou grande parte da população humana, com apenas 0.2% restando do número pré-pandemia. Com isso, um grande número de primatas infectados faz sua casa em uma floresta perto de São Francisco, enquanto humanos se abrigam no que restou da cidade. Só que, ao contrário dos seres humanos quase extintos, os primatas evoluíram intelectualmente com o efeito do vírus. Cada um dos grupos evita contato ao máximo, primatas e humanos limitando a interação a seres da mesma espécie. Mas quando a falta de energia elétrica mostra-se iminente, os humanos são forçados a fazer contato com seus vizinhos.
A trama tem pontos muito parecidos com o quinto filme da franquia antiga, envolvendo rebeldia e motim dentro da sociedade primata; ao mesmo tempo que retrata o vilão sendo um tanto similar a Aldo, de “Battle for the Planet of the Apes”. Longe de ser um remake e certamente superior em qualidade, o longa usa vários artifícios da primeira série de filmes de maneira inteligente. Assim como na primeira franquia, primatas têm funções separadas de acordo com sua espécie: gorilas eram responsáveis pela segurança, pela parte militar, pelos trabalhos braçais, e pela caça; orangotangos eram os administradores, políticos, advogados e padres; e chimpanzés ficavam encarregados da parte científica e intelectual. Mais ou menos seguindo o mesmo modelo, mas de maneira mais plausível e natural, este longa mantém Orangotangos nas funções intelectuais e usa a força dos gorilas quando convém nos conflitos, mas não limitando-os a apenas isso. Por mais que o modelo original seja muito interessante, o sistema apresentado aqui é mais apropriado para o ambiente mais realista, repetindo o ciclo de renovar elementos clássicos da série de uma maneira moderna e bem executada.
Ambição é certamente uma palavra que está fortemente associada a este longa, tomando como partido o que fez do predecessor um sucesso e expandindo-os a uma grandeza que poucos imaginariam que pudesse ser alcançada. Seja através de elementos de Drama ou de Ação, o longa explora essas esferas solidamente ao longo de seus 130 minutos, criando um clima de tensão crescente, que dura até o conflito final nos minutos que fecham o filme. Raros são os momentos em que o que está para acontecer é previsível, pois instância após instância de cenas fortes mostram que esta obra não está de brincadeira e que sua trama não tem limites, nem escrúpulos para alcançar o que deseja.
Explorando fortemente as relações turbulentas entre os macacos e os humanos, não só o aspecto conflituoso é abordado mas também a questão moral que divide as duas raças. Humanos não são os vilões completamente maus, nem os macacos são a irmandade inocente e pura. Não só ambos os lados são retratados como moralmente falhos, mas diferenças entre os sujeitos de um mesmo grupo mostram-se presentes. Há pontos estranhos nos dois lados do jogo, que contribuem para essa variedade de princípios e tornam as coisas mais interessantes. Ambas as facetas dessa exploração moral são bem definidas, não sendo tanto o foco principal do enredo, mas certamente enriquecendo o mesmo.
Outro ponto forte, talvez o mais, são as cenas de ação, que tomam um bom tempo de tela e compensam cada segundo de morte, explosão e destruição. Por mais Arnold Schwarzenegger que tudo possa parecer, as sequências são bem superiores a muitos filmes de ação atuais. Infelizmente, o título brasileiro já revela que haverá um confronto, pois por algum motivo “Dawn of” corresponde a “O Confronto” no Brasil. Todas as cenas de luta são bem montadas, sem colocar elementos em demasia para exagerar as dimensões da batalha desnecessariamente. Uma sequência de batalha, em especial, chama muito a atenção por usar do adjetivo “Schwarzenegger” no melhor sentido, sendo o tipo de luta maior que a vida. A escala é gigantesca e o entretenimento é garantido, ainda mais quando não cometem o erro de encher de explosões e outros artifícios batidos numa tentativa de aumentar o impacto da sequência.
Talvez um ponto desnecessário e até um pouco irrelevante de se comentar atualmente é a estética dos efeitos especiais de um filme. É difícil um trabalho de CGI se destacar diante de obras como “Transformers” e “Prometheus”, mas os efeitos especiais entregues aqui chegam lá. Mesmo que em alguns momentos a tonalidade de cores seja um pouco cinza demais, extraindo um pouco da vida de certos ambientes, a qualidade é alta o bastante para fazer deste um dos longas mais visualmente bonitos dos últimos anos. entre os aspectos antigos modernizados há também a capacidade de fala dos primatas, que é mais rústica e primitiva aqui e mostra coma voz rouca as cordas vocais pouco desenvolvidas dos macacos. Como os mesmos falam pouco, há um uso constante de linguagem de sinais, que são traduzidos através de legendas na tela. Às vezes é um pouco absurdo acreditar que dois ou três sinais possam significar uma frase tão complexa, mas como não sou adepto de Libras, vou me abster de mais comentários. Ainda assim, alguns gestos são óbvios o bastante para dispensar legendas, que acabam desnecessariamente esfregando na cara do espectador o que está havendo.
Sem a mínima dúvida, “Planeta dos Macacos: O Confronto” é uma obra completa em muitos sentidos e certamente uma surpresa por ser proveniente de uma franquia tão grande. Recomendo fortemente para os fãs e até para quem não conhece a franquia, que após esta excelente demonstração de entretenimento certamente passará a gostar.