“The Running Man” é um filme de ação dos anos 80 e todas as características que o compõem gritam isso com vontade. Só para ilustrar melhor, temos Arnold Schwarzenegger de collant colorido, bordões icônicos, muita violência, porrada e uma protagonista feminina num papel irrelevante. Sem dúvida fazendo parte dos filmes de ação que ajudaram a fazer a fama dos anos 80, este longa-metragem é parte da fatia boa do gênero.
A trama se passa num futuro pós-apocalíptico, entre 2017 e 2019. A economia entrou em colapso e o país passou a ser governado por um sistema totalitário e opressor. Em um mundo onde programas de TV são usados para maquiar os crimes do Estado, criminosos condenados são colocados para lutar por suas vidas em reality shows. Enquanto isso, uma pequena parcela da população tenta montar uma força organizada para combater a tirania do sistema. Ben Richards, piloto de helicóptero da polícia local, se recusa a cometer o massacre de uma multidão de civis e é usado como bode expiatório. Outros policiais cometem o ato apesar da resistência de Richards e ele acaba condenado por um crime que não cometeu.
Após uma série de eventos, Richards é forçado a participar do programa “The Running Man”: um dos tais reality shows que dão a chance de liberdade para os que vencerem o programa. Com um cenário relativamente simples, este longa tinha tudo para ser outro filme de ação genérico no qual o herói deve derrotar todos os malvados até conseguir fugir com a garota principal. Porém o que faz “The Running Man” se destacar são pequenos detalhes, que juntos fazem a diferença evitam que este seja apenas mais um filme de ação de Schwarzenegger.
Cada sequência é tematizada de acordo com o inimigo enfrentado pelo protagonista e conta com cenários e cenas de ação bem montadas para representá-la. Tudo é tematizado. Os oponentes usam fantasias espalhafatosas, cheias de cor e luzes, ao paso que o ambiente é montado para que seja favorável ao seu estilo de combate e às suas habilidades. Isso não só parece uma idéia bizarra, ela com certeza é. Inimigos pilotam motocicletas empunhando serras elétricas, outros usam trajes com lâmpadas de natal e, assim como a atuação de Schwarzenegger, acabam sendo cômicos sem intenção. Tudo isso torna os bordões do ator clássicos instantâneos e dá singularidade a este obra perante outros lançamentos da época.
Outros pequenos detalhes, como os elaborados números de dança, também dão um ar de autenticidade e originalidade à atmosfera do filme, embora sejam irrelevantes para a trama. Até mesmo a escolha da protagonista feminina e seu papel irrelevante tem seu lado positivo, pois proporciona um alívio cômico satisfatório entre as cenas de ação enquanto a personagem se esforça para permanecer atraente o tempo todo.
Entretanto, o que mantém o filme do lado aceitável do ridículo é a atmosfera de programa de TV apresentada, uma variação interessante que dá um toque de fantasia e justifica muitos absurdos vistos aqui. Ao intercalar a ação com pedaços do programa — como a narração do anfitrião, sua interação com a plateia e até as danças com o melhor da música dos anos 80 — a experiência se torna dinâmica, acelerada e em nenhum momento entediante.
Sendo essa a base do filme, no final das contas quem realmente se destaca é o anfitrião do programa, Damon Killiam. Curiosamente, o personagem é interpretado por um apresentador de TV da vida real, Richard Dawson. Com uma personalidade egoísta e manipuladora, o anfitrião é mostrado sempre maquinando um novo esquema a fim de incrementar seu programa e animar seus espectadores. Não só isso, essas qualidades estão no ápice da sátira, pois Killiam não se difere muito de apresentadores de TV da vida real. O resultado é uma crítica — ainda que singela — à indústria do entretenimento e mostra que ao menos um pouco de cérebro existe no enredo, o que não é nem um pouco ruim.