A série Sexta-Feira 13 é imediatamente associada a Jason Voorhees atualmente, mas nem sempre foi assim. Depois que Sean S. Cunningham conseguiu transformar “Friday the 13th” em um fenômeno de baixo orçamento, não restou muita dúvida do que fazer: continuar a fazer filmes. O problema é que Jason era apenas um personagem brevemente mencionado no primeiro filme, sendo sua mãe a verdadeira assassina que, para ajudar, teve a cabeça decepada no fim do filme. Sobrava vontade para retornar a Crystal Lake e fazer dinheiro ao mesmo tempo que faltava um assassino. Então surgiu a bizarramente genial idéia de transformar a lenda de Jason em algo real. E se ele não tivesse se afogado 30 anos antes? “Friday the 13th Part II” reinventa uma série usando uma desculpa esfarrapada que acabou dando muito certo.
Cinco anos se passaram depois do massacre de nove pessoas na reabertura do acampamento Crystal Lake. Sem se abalar, um grupo de jovens decide colocar estas tragédias no passado e montar um acampamento nas redondezas. Em conjunto com sua namorada Ginny (Amy Steel), Paul (John Furey) reúne um grupo de pessoas para fazer treinamento de monitor para a temporada de verão, nenhum deles muito preocupado com o que aconteceu anos antes porque a assassina acabou morrendo também. No entanto, ninguém esperava que um novo assassino fosse surgir para mais uma rodada de assassinatos.
Foi com este filme que teve início a falta de explicações lógicas que retornaria diversas vezes ao longo dos anos. Como Jason sequer existe? Teria ele sobrevivido na selva em torno de Crystal Lake durante décadas sem que ninguém tivesse encontrado ele? Nunca se explica exatamente o que aconteceu no meio tempo entre o suposto afogamento e o primeiro banho de sangue do assassino, mas pelo menos “Friday the 13th Part II” faz um mínimo esforço para ponderar sobre essas questões em certo ponto da história. O fato é que ele está vivo e pronto para continuar o trabalho que sua mãe começou quando chacinou aqueles que tentaram reabrir o acampamento anos atrás. É então que inicia a dinâmica clássica de aumentar o número de corpos usando jeitos criativos de mandar as vítimas dessa para a melhor, neste caso de um jeito visivelmente diferente do que foi mostrado antes.
Em primeiro lugar, o estilo do assassino muda. Jason é um tanto menos sutil e mais bruto em sua abordagem, abusando mais da força física para pegar suas vítimas. Bem diferente de sua mãe, que se aproximava sorrateiramente e às vezes até enganando suas vítimas, já que era mais frágil fisicamente. No entanto, “Friday the 13th Part II”, apesar de estar mais ou menos no mesmo nível que os outros filmes da série, nunca foi um dos meus favoritos. Esta encarnação de Jason, particularmente, está abaixo de outras que vieram mais tarde. E, tudo bem, foi um resultado bom para uma primeira tentativa. Não é como se essa versão fosse um fracasso ou algo do tipo, ela é apenas um tanto desajeitada e carente das qualidades que viriam a imortalizar o personagem mais tarde. É um conjunto de características mais humana que traz um homem vulnerável e desastrado; fraco quando luta contra suas vitimas, batendo nas coisas, tropeçando e caindo no caminho. Nada do assassino que dominava facilmente aqueles que tentavam enfrentá-lo diretamente, como já se vê na “Parte III“.
Já quanto a história, ela tem seus únicos pontos baixos localizados no começo e no fim, exatamente. Apoiando-se demais no que restou do filme anterior, como flashbacks extensos e desnecessários e uma repetição de técnicas que já não têm o mesmo impacto numa segunda vez, o longa começa e termina morno. Tudo o que está no meio, em contrapartida, mostra como “Friday the 13th Part II” muda e aprimora algumas das coisas que vieram antes. As mortes, por exemplo, são muito melhores que as do original. Mesmo Jason não sendo sua melhor persona, ele tem alguns momentos que facilmente se colocam entre os melhores da séries, mortes memoráveis que aproveitam qualidades individuais de certas vítimas, como um cadeirante ou dois amantes que dividem uma cama na pior noite possível. Outras características antigas retornam, como os corpos escondidos estrategicamente para assustar os sobreviventes, só que tudo é mais brutal, mais criativo e mais dinâmico do que um assassino que se esconde.
A própria trama chega a ser melhor que vários outros exemplos posteriores, os quais se contentariam com reunir vários jovens num mesmo lugar e matar todos eles até uma garota sobrar no final. De certa forma, “Friday the 13th Part II” é exatamente isso junto de outras pequenas mudanças que fazem ele ser um produto diferente. Claro, nada de mudança transformadora que recrie a essência toda e faça até os maiores críticos enxergar o longa com outros olhos. É apenas um daqueles detalhes que fazem a diferença numa série estritamente formular, pequenas variações na história que enriquecem ao menos um pouco o que se vê. Existe um pouco de valor que seja numa estrutura que prepara a reapresentação de um assassino e define uma boa hora para começar a empilhar os corpos, numa protagonista que pela primeira vez na série demonstra ambas coragem e vulnerabilidade contra um medo bem concreto — o traço de humanidade no lugar em que deveria estar. Pode parecer forçar a barra nos elogios e talvez soe exatamente assim para quem não gosta destes filmes, então este é um elemento estritamente relevante para aqueles que já são fãs.
Outro destes bônus sutis pode ser encontrado na direção de Steve Miner, sendo este o primeiro dos dois filmes da série que dirigiria. É notável a evolução diante do esforço de Sean S. Cunningham e seus cortes bruscos e pouco fluídos no original, pois Miner mostra segurança a ponto de aproveitar oportunidades para brincar com a justaposição de imagens e sons de cenas bem diferentes, casando bem contextos distintos; além de fazer um bom trabalho na representação visual geral e especialmente das mortes bem mais complexas que as gargantas cortadas e simples facadas de antes. Como um todo, “Friday the 13th Part II” é exatamente o que se espera de um Sexta-Feira 13, embora não tenha sido assim em seu lançamento. Deve ter sido uma experiência e tanto entrar no cinema sem conhecer a fórmula e a própria existência de Jason.