Quando anunciaram que a série de jogos Borderlands seria adaptada para o cinema, fiquei na dúvida se seria realmente uma boa idéia. Primeiramente porque qualquer adaptação de videogame já vem acompanhada do estigma de vários fracassos do passado, então é difícil se animar. Em segundo lugar, a série de jogos nunca foi muito conhecida por uma história forte. O foco desde sempre foi o gameplay muito divertido e dinâmico e a constante troca de armas e equipamentos com resultados sempre caóticos. O universo é outro ponto forte, fornecendo cenários insanamente exóticos para a constante troca de tiros e explosões exageradas. Não é a receita perfeita para um filmaço, mas algo bom poderia sair dessa combinação. Poderia.
A história acompanha Lilith (Cate Blanchett), uma caçadora de recompensas amplamente conhecida na galáxia e recentemente contratada para um trabalho diferenciado. O grande magnata da indústria bélica, Atlas (Edgar Ramírez), precisa que ela encontre sua filha recém raptada de uma estação espacial. A garota em questão é Tina (Ariana Greenblatt), que pode ser o segredo para abrir o lendário cofre do planeta Pandora. Quem quer que consiga encontrar as chaves e abrir o cofre pode descobrir segredos inimagináveis de uma civilização antiga. O problema é que a garota não quer ser encontrada. E tem gente perigosa que vai fazer o possível para impedir que isso aconteça.
A solução é simples o bastante: aproveitar o caos absoluto para entregar cenas de ação de cunho absurdo para preencher os espaços não ocupados por um enredo denso. O jogo sempre foi sobre arranjar armas novas, entrar num veículo e dirigir até algum ponto para atirar em todo mundo que atira em você. Isto é, explodir barris inflamáveis, testar um revólver de projéteis exageradamente explosivos, lançar umas granadas de fumaça tóxica e só encher de chumbo os inimigos que tentarem vir brigar no mano-a mano antes de chegarem perto. Missão cumprida, o próximo passo é entrar no carro e ir até a próxima destinação num canto bizarro do deserto para uma nova rodada de balbúrdia bélica. E então veio a primeira notícia péssima da adaptação: “Borderlands” seria PG-13.
Isso já mataria parte do entusiasmo se eu tivesse descoberto antes, descobrir na hora foi ainda pior porque experimentei a ação e percebi que tinha alguma coisa errada. Tudo parecia… incompleto. As cenas não chegavam a ser totalmente incompetentes — não todas — porém sua qualidade sanitizada rouba o espectador de uma satisfação completa. E é estranho um projeto assim cair nas mãos de um diretor conhecido por dirigir violência explícita, até porque os jogos nunca tiveram medo de transformar os inimigos em uma massa carbonizada crocante quando necessário. O resultado é previsível e o mesmo que se viu no passado com filmes que tiveram as presas removidas para encaixar numa classificação etária para jovens. Parece que falta algo ou que os limites não foram explorados de forma criativa justamente para que essa impressão não seja passada.
A pior parte é que parecia que “Borderlands” seria melhor do que foi pelo trailer. Em alguma sessão qualquer, lembro de ver o trailer e até ter uma impressão positiva pensando: “Bem, parece que não vão errar outra vez num filme de jogo”. Estava errado. No começo, até começa decente o suficiente. Não incrível, apenas funcional, o que não é dizer muito. Parecia já que havia um ar genérico permeando a execução, a falta de uma estética que ocupa o espaço entre o caricato e o explícito. Ou se não isso, algo que apenas soe original em vez de básico.
O triste é que havia potencial para algo pelo menos decente ali no meio. Assim como os jogos, não seria o enredo algo de grande destaque, caberia à caracterização dos personagens e ambientação ajudar a alavancar as cenas de ação. Com a falha dessa última, o projeto cai por terra, mas não é como se errassem completamente na escolha de elenco da trupe principal. Cate Blanchett está estranhamente bem no papel principal e parece levar mais a sério do que seria esperado para um projeto do gênero. Kevin Hart não é ofensivo e o ator gigante escolhido para interpretar o Psycho também funciona. Mais na aparência do que na prática, novamente, pois sua função deveria ser abrir pelo menos uma dúzia de inimigos ao meio. Já Ariana Greenblatt como Tiny Tina é… triste. A personagem em nenhum momento consegue ser carismática como tenta ou pelo menos cativante de alguma forma, acaba sendo apenas chata e entregando a pior performance do filme.
A infelicidade é ver que “Borderlands” até chegou perto de conseguir criar algo. Minha impressão não foi agressivamente negativa como a de alguns críticos que absolutamente detestaram o filme, porém também não foi positiva. Ao mesmo tempo que a estética geral do universo é fiel ao que se vê nos jogos e a caracterização de personagens como Lilith é tão certeira quanto poderia, a essência é muito mais do que isso e não é honrada igualmente. Falta mais caos e uma direção um pouco menos preguiçosa na hora de executar a violência estilizada que sempre foi um dos pontos altos de jogar a série. No fim foi algo até agradável aos olhos e insosso para os gostos.