Esse é apenas triste. Deprimente. Não há nada aqui que se salve além de uma dupla de cenas em que gastaram mais de 100 dólares para executar alguns efeitos práticos decentes. O resto é o que se pode esperar de uma obra cuja fama é praticamente unânime sobre o fato de ser o pior da série. E nem chega a ser uma disputa justa: do quinto filme em diante as notas variam entre 5.4 com “Inferno” até 4.2 com “Hellworld“. Já “Hellraiser: Revelations” consegue o feito único de atingir a nota 2.7 no IMDb. É tão ruim assim. E a história por trás da produção caótica dessa obra explica muito do porquê o fracasso é tão gritante.
Acontece que se passaram seis anos desde a última continuação. A situação não estava muito favorável para a série desde que ela passou a ser lançada diretamente para mídia física e pouco tempo depois assumida por Rick Bota pelas próximos três produções. As recepções que só pioravam com cada novo lançamento deixavam os fãs cada vez mais desiludidos com o futuro, então chegou finalmente um hiato depois de lançamentos mais ou menos programados. Conversas sobre um remake ou um reboot da série começaram a tomar forma ao longo dos anos, mas nunca saíam do lugar. O tempo foi passando e pela primeira vez havia um intervalo de seis anos entre filmes. Mais do que uma simples preocupação da parte dos fãs, a produtora também foi colocada numa situação particular por estar prestes a perder os direitos sobre a propriedade intelectual. De repente se tornou uma prioridade fazer algum filme de “Hellraiser”. Qualquer filme.
E fizeram qualquer coisa mesmo. Com apenas 300 mil dólares de orçamento, meia ideia e alguns atores quaisquer, “Hellraiser: Revelations” nasceu por uma questão de necessidade e foi executado em apenas três semanas. Três para gravar e já lançar para o mundo numa estreia estupenda de apenas um cinema no país todo. Isso sem contar que é a primeira vez que Doug Bradley não assume o manto de Pinhead depois de interpretá-lo oito vezes. Nem mesmo ele quis participar depois de ver quão patético era o projeto e o roteiro da obra, que iria direto para a produção sem nem mesmo um segundo rascunho. Bradley ainda acrescentou que o cachê era tão baixo que era equivalente a uma geladeira. Então nem mesmo o ator principal, que talvez ainda servisse como algum tipo de chamariz para os fãs de longa data, estava dentro do projeto. “Hellraiser: Revelations” demonstra perfeitamente como um plano mal concebido, com pouco dinheiro e apressado desde o começo pode dar muito errado e ser ainda pior que outras continuações que já eram tristes por si.
Aos 75 minutos, é também o mais curto de todos. Algo esperado, considerando a pressa de lançar qualquer coisa. A trama, por sua vez, acompanha duas famílias que se encontram à noite para um jantar em casa. Ambas perderam um membro recentemente, dois amigos que decidiram viajar para o México e tirar umas férias fora de hora, mas nunca voltaram para casa. De sua viagem sobrou apenas uma câmera de mão com alguns momentos da viagem e seus últimos momentos. Mal sabiam todos que os garotos acabaram cruzando com o infame quebra-cabeça: a Configuração do Lamento.
Eu não sei por onde começar. Não há uma crítica pontual que pode se desdobrar em outros problemas sistêmicos. Então vou apenas elogiar o que presta aqui: as cenas de violência. O elenco provavelmente trabalhou de favor ou por uma geladeira cada um, então o que sobrou foi para efeitos especiais práticos, provavelmente, o que resulta em, talvez, cinco minutos de tempo com alguma coisa minimamente interessante na tela. E é isso. E nem chego a incluir a maquiagem e caracterização de Pinhead aqui porque a troca de ator consegue também rebaixar a figura do famoso vilão para algo… menor. Ou maior, considerando que o novo ator, Stephan Smith Collins é um tanto mais corpulento que Doug Bradley. Seja pela aparência do ator que já causa uma estranheza para quem estava acostumado com Bradley ou pelas mudanças na aparência que o deixaram mais agressivo e menos elegante, por assim dizer. Ele parece mais um demônio cheio de ódio em vez de um ser frio e calmo que mata como se fosse uma transação monetária. Isso sem contar a decisão idiota de dublar o ator com um sotaque forte que com certeza não existia antes.
A falta de dinheiro, por exemplo, e o encaixe de uma câmera com gravações encontradas abre uma porta conveniente para “Hellraiser: Revelations” economizar. Uma boa parte da história é apresentada do jeito desleixado que se pode esperar de quem quer tirar vantagem do formato. Sem direção de fotografia, sem equipe técnica, sem movimentos de câmera pensados, apenas uma câmera na mão e imagens quase ininteligíveis que permitem ao diretor não ter que pensar na relação entre dois planos diferentes. É tudo pela comodidade descarada que nunca esconde a malandragem de não ter que explicar as coisas mais simples como a morte de uma garota. Ela só morre. Nunca é mostrado nem explicado como isso acontecendo, e como o roteiro precisa que isso aconteça então isso apenas ocorre magicamente sem que haja uma sugestão do que poderia ter acontecido.
Já o resto de “Hellraiser: Revelations” se passa num ambiente só. Uma casa aparentemente no meio do nada e sem ligação fácil com o resto da civilização porque também é conveniente para algumas escolhas de roteiro funcionarem. Péssimas atuações para qualquer padrão e especialmente para o de uma série que nunca teve performances muito boas desde o começo e o resultado é um dos piores que se poderia esperar. Só não digo que foi uma surpresa porque fui avisado de quão terrível ele seria. As notas estão aí e um dos poucos amigos meus que também encararam todos os “Hellraiser” falou para eu me preparar.
Por outro lado, quase me sinto mal de falar tão mal de “Hellraiser: Revelations”. Sim, ele é incompetente em tudo a que se propõe e mal tem algo positivo para ser mencionado, é um filme curto que dá vontade de desistir várias vezes, é um projeto sem vergonha sobre suas reais intenções de preservar direitos autorais. É chutar cachorro morto. Não havia como dar certo e não deu. Quem idealizou o projeto não queria fazer algo bom, e de fato foi o que conseguiram, então nem dá para dizer que a obra fracassa em seu objetivo. Às vezes parece que estou tirando sarro de alguém, só que não tem nem graça.