A única coisa que posso dizer de positiva sobre “Hellraiser: Deader” é que ele consegue ser menos pior que seu predecessor, “Hellraiser: Hellseeker“. E só isso. Se fosse um filme qualquer, que não fosse parte de nenhuma grande franquia ou uma continuação, diria que é apenas bem ruim. E não foi um que me deixou com raiva nem nada do tipo. Seria o pior da série até o momento caso o anterior não existisse, mas como existe e é ainda pior, acaba não ofendendo tanto assim. É engraçado, até diria que minha lembrança desse foi até agradável, o oposto da raiva que senti antes. Talvez seja mais o alívio de não ser algo tão ruim ao invés de um reflexo da qualidade vista aqui.
Esse é mais um daqueles feitos a partir de um roteiro originalmente sem nada a ver com “Hellraiser”, e que foi adaptado para que os Cenobites tivessem algum tipo de papel. Leia-se: qualquer desculpa rasa para que eles apareçam em uma ou duas cenas perto do final para tentar justificar o nome no título. A tendência dos dois predecessores continua e essa é apenas mais uma história sobre alguma coisa em que os famosos demônios aparecem para fazer uma ponta. Basta dar uma olhada na sinopse para ver que em momento algum parece haver alguma conexão com o entidades infernais com tendências sadomasoquistas e que buscam hedonistas como presa. Novamente com Rick Bota na direção, “Hellraiser: Deader” traz mais um motivo para desistir de continuar assistindo à série.
A história acompanha a Amy Klein (Kari Wuhrer), uma respeitada jornalista gonzo de métodos não tradicionais, mas sempre com resultados substanciais. Seu próximo trabalho é um tanto diferente de tudo que ela já investigou antes, contudo, e ela deve partir para Bucareste para encontrar a fonte de um VHS em que uma pessoa é assassinada e volta à vida durante o vídeo, sem edições. As pistas a levam ao rastro do que parece um culto secreto no submundo da cidade, e suas intenções não parecem nada melhores do que pareciam de início.
Parece mais a premissa de um filme de terror barato que talvez teria uma capa interessante e chamasse a atenção numa locadora, sendo levado para o fim de semana para frustrar as expectativas de algum curioso desavisado. Sendo justo, a série sempre foi de orçamentos mais baixos com uma ou outra exceção, porém mesmo quando tinha pouco dinheiro conseguia ostentar certo charme artesanal de algo que claramente não custou muito dinheiro e ainda tem uma apresentação boa. A partir de “Hellraiser: Inferno“, além de um Filme B por questões de orçamento, ele se torna um produto de segunda categoria também. Ou de quinta, dependendo do nível de ódio. Ao menos “Hellraiser: Deader” traz algum tipo de melhora em cima do que foi visto anteriormente, mesmo que em pequenas doses ainda insuficientes para resgatar a série do limbo infernal em que entrou.
Começando pela protagonista, Kari Wuhrer traz uma personagem muito mais relacionável e fácil de gostar por meio de uma performance que ao menos tem algum chamariz. Claro, nada que vá fazer o espectador se apaixonar ou encontrar aqui um novo ícone do cinema de Terror ou mesmo alguém relevante como Ashley Laurence foi nos primeiros. Ela só faz seu trabalho e faz de forma decente, o que já é dizer muito em comparação com o último protagonista que, sim, foi escrito como alguém detestável e corrompido moralmente, porém nunca se apresentou como alguém cativante. A idéia de uma jornalista gonzo que vai para o leste europeu investigar um culto sobrenatural por si já é uma premissa mais criativa e com maior potencial de entretenimento, por mais que pareça uma história sem ligação com “Hellraiser”. Qualquer coisa já é melhor que os dez primeiros e horríveis minutos de “Hellraiser: Hellseeker“.
E “Hellraiser: Deader” tem seus momentos. Mesmo que não planejada, foi bom encontrar uma leve expansão de universo em um lado diferente do sobrenatural para além de demônios, inferno e uma entidade demoníaca com poder de fazer e desfazer servos que regozijam em dor. Tudo isso era fonte de outro roteiro que só travava da jornalista e do culto que traz pessoas de volta à vida, claro, o qual no fim acabou sendo parte do universo de qualquer forma e deve ser tratado como tal. O filme tem pontos altos ou, no mínimo, pontualmente interessantes como as cenas do metrô e o tom investigativo e sobrenatural que permeia trama inteira. Há um número grande de idiotices e uma narrativa que pode ser apenas descrita como crua, deselegante, muito perto de incompetente, e que termina numa aparição menor que coadjuvante dos Cenobites e um clímax apressado e tosco.
Se em algum momento parece que “Hellraiser: Deader” vai deslanchar e ao menos ser um filme decente, já que nunca mostra potencial para algo incrível, essa expectativa morre rapidamente e é posta para descanso definitivamente ao final de tudo. Se o final ao menos tivesse alguma virada de chave surpresa que deixasse um gosto bom para o espectador ter uma lembrança melhor ou algo do tipo. Mas não, o que se encontra é apenas mais uma prova de que essa é uma fase horrível para a série e que essa é outro roteiro adaptado de forma leviana para encaixar num plano de extrair dinheiro do nome “Hellraiser” até a fonte secar. E não só isso: o roteiro mesmo não devia ser dos melhores desde o começo.