Já ouvi falar muito mal de “Friday the 13th”. Um amigo critica sempre que pode, dizendo que a única parte boa é o par de seios mais bonitos que ele viu na vida. Ele está errado, mas não completamente. O par realmente é o avatar da beleza de uma mulher nua; quanto ao resto, ele foi um tanto longe em criticar uma refilmagem feita com os ingredientes que fizeram a fama da série no passado, os melhores deles também. Talvez isso tenha sido uma decepção para aqueles que esperavam algo diferente vindo de uma releitura lançada 6 anos depois do lançamento prévio da série, “Freddy vs Jason”, e 20 anos após o último “Sexta-Feira 13” clássico, a “Parte VIII“. Bem, reinventar-se nunca foi um de seus fortes e mesmo em 2009 não foi muito diferente.
Certa vez, o acampamento Crystal Lake foi reaberto para receber crianças novamente depois de ficar desativado por muito tempo. Pamela Voorhees aparece e mata os jovens monitores até a única sobrevivente do massacre decapitá-la em frente ao seu filho, que assistia à cena da floresta. Décadas mais tarde, um grupo de jovens desaparece nas redondezas do antigo acampamento depois de encontrar Jason Voorhees (Derek Mears), o garotinho agora crescido em um deformado e implacável assassino. Desavisados, outro grupo de jovens chega à região para passar um final de semana na casa de lago para descobrir o mal que lá habita da pior forma possível.
Realmente não é a premissa mais original de todas. Ainda se trata da mesma história de jovens estando no lugar errado, na hora errada e sofrendo as consequências fatais por se permitirem cair na luxúria da fornicação, das drogas e do hedonismo. Ou seja, eles fazem sexo e se drogam e acabam com um facão no crânio. Isso dificilmente mudaria, ainda mais porque essa é uma refilmagem da história — se assim puder ser chamada — dos primeiros filmes, de quando era muito forte esse conceito de que basta fugir para uma cabana isolada com a namorada para encontrar o assassino lá e receber uma facada na garganta. O mais próximo da inovação que “Friday the 13th” chega é condensar os primeiros três capítulos em uma história só. Em vez de ter um filme inteiro com Pamela Voorhees sendo a assassina, outro com Jason de saco na cabeça e outro com Jason de máscara, é possível encontrar tudo isso aqui. O prólogo finalmente traz uma explicação para a existência de Jason em primeiro lugar, o que nunca existiu antes porque os produtores do original não pretendiam fazer uma continuação.
Pode não ser grande coisa. Uma pequena vitória por não seguir nenhum filme prévio à risca demais sob o risco de pecar pela preguiça. Mesmo assim, isso não vai longe demais e “Friday the 13th” acaba por trazer exatamente o que se espera. Os jovens se reúnem, querem apenas festar e curtir um final de semana juntos; o assassino aparece, começa a matar todos até sobrar apenas um ou dois que finalmente conseguem derrotar o vilão num lance de sorte. Com isso em mente, vale a pena revisar alguns dos elementos clássicos dessa fórmula para determinar o real diferencial entre essa e outras obras da série: a qualidade na execução.
Parece simples o bastante seguir a receita e esperar a mágica acontecer conforme as massas lotam as salas de cinema e enchem os bolsos dos estúdios. E é claro que não é tão simples assim. Basta ver quantas séries possuem filmes melhores, piores ou apenas ruins. A “Parte V” e a “Parte VIII” são provas disso. “Friday the 13th” é uma das boas. Começando pelo Jason de Derek Mears, ele é a primeira adição notável e, talvez, a mais perceptível porque neste ponto as pessoas assistem por causa do vilão. Elas querem ver Jason Voorhees. Ele aparecer em cena e ser visto em ação é quase o espetáculo em si, a carnificina é o prato principal. Mears empresta a brutalidade de Ted White na “Parte IV“, um vilão ainda com as características de um humano em vez de um cadáver lento e invulnerável. Ele nunca fala, a agressividade está em seus atos ferozes, um Jason que até chega a correr e ser mais natural; forte como um animal sem depender de uma colher de chá sobrenatural. É possível que ele seja forte e capaz dos feitos mostrados sendo grande e forte como é. Arrisco dizer que é um quê a mais de realismo.
E os resultados são bons. Muito bons. Há apenas exatamente uma morte ruim em toda a obra, o motivo sendo mais por conta da situação em torno dela do que do ato em si. Algumas mortes são simplesmente bárbaras, sem outra palavra para descrever melhor a ilustração da abordagem de Derek Mears. Sim, o assunto é interpretação e estilo em um filme de terror com um vilão mudo, seja lá quão sensato for isso. De qualquer forma, as mortes não mostram freios na violência e na agressividade, indo de machadadas nas costas até golpes repetidos de facão apenas para fazer mais carne moída. Uma das mortes mais satisfatórias de “Friday the 13th”, inclusive, também mostra certa esperteza por dar ao espectador o prazer de ver o personagem mais detestável ser punido com a maior brutalidade, um verdadeiro babaca colhendo sua dose de karma merecidamente.
Uma pena que nem todos os personagens sejam tão bons quanto este. Escrita de personagem raramente é algo a se procurar em um “Sexta-Feira 13”, porém às vezes os roteiristas se superam e trazem algo marcante dentro das limitações. Infelizmente, isso não é regra. Vários momentos de “Friday the 13th” soam completamente sem vida, cenas sem propósito e diálogos tão desleixados que chamar de ruim seria adjetivo forte demais para o que se vê. O clímax, principalmente, possui mais sinais desses desleixos quando se mostra indeciso a respeito de uma abordagem mais realista ou não, abusando da geografia de um modo descarado por pura conveniência ou escrevendo cenas apenas preguiçosas. A pior morte do filme é o melhor representante dos problemas da obra: envolve a personagem com a pior escrita, sem função alguma além de participar de uma longa cena de sexo — mais uns segundos e seria um pornô —, colocada numa situação burra e gratuita, quase parecendo uma paródia de um clichê do terror, só que sem graça.