“Terminator: Genisys” foi um fracasso. Mesmo que o terceiro e o quarto filme não tenham equiparado a qualidade de “Terminator 2: Judgement Day“, que levou a série onde o original sequer tinha chegado, eles ao menos avançaram a profecia anunciada desde o começo e ainda se mostraram como bons filmes de ação, no mínimo. O quinto filme demonstrou ser uma falha nestes dois sentidos ao tentar trazer um roteiro supostamente original baseado em realidades alternativas e, na verdade, usando isso apenas como desculpa para uma reciclagem descarada de elementos clássicos; ademais, também traz ação de cunho absurdo e inaceitável, algo difícil de engolir por se mostrar ignorante ao conceito de suspensão de descrença. E então os planos de uma trilogia foram engavetados, mas não a série. “Terminator: Dark Fate” volta a brincar com realidades alternativas e ignora vários filmes ao continuar diretamente a história do segundo.
Após destruir o T-1000 enviado para assassinar John Connor junto de qualquer traço de tecnologia que poderia dar origem à Skynet no futuro, Sarah Connor (Linda Hamilton) passa seus dias em lugares remotos junto do filho. No entanto, mais de uma máquina havia sido enviada ao passado e uma delas eventualmente consegue cumprir sua missão de matar o futuro líder da resistência. Com tal mudança, surge um novo futuro em que Dani Ramos (Natalia Reyes) tem um papel elementar. Um avançado exterminador, o REV-9 (Gabriel Luna), chega para assassinar a garota e encontra resistência dupla em Grace (Mackenzie Davis), enviada do futuro, e Sarah.
Uma palavra que define bem “Terminator: Dark Fate” é fútil. Idéias do passado voltam a ter presença elementar na essência do projeto, nostalgia fornecendo a motivação narrativa que deveria existir de uma necessidade ou vontade de contar uma história a partir dos eventos passados. Isso se tornou difícil depois que o último filme se aventurou demais em viagens no tempo e futuros alternativos, deixando o próximo passo difícil de tomar. A resposta encontrada foi voltar alguns passos atrás e repetir um de sucesso dado anteriormente. Os atos de Sarah impedem o Julgamento Final e a Skynet deixa de existir, como planejado. Como pode um exterminador aparecer novamente? Outra empresa eventualmente cria uma inteligência artificial com objetivos militares chamada Legion, a qual também se revolta contra a humanidade e causa o tal destino sombrio já bem conhecido. Se não soa muito esperto é porque realmente não é. Trata-se de uma desculpa para perpetuar o mesmo ciclo narrativo, é só um de vários exemplos do mesmo artifício de dar nomes diferentes para as mesmas coisas.
Em vez do Julgamento Final ter sido apenas adiado, como em “Terminator 3: Rise of the Machines“, ele foi… adiado novamente, com uma empresa diferente fazendo a mesma coisa que a Cyberdyne. O único ponto louvável em termos de originalidade é uma cena introdutória envolvendo o assassinato de John Connor. Computação gráfica é usada para trazer os Anos 90 de volta e com isso Edward Furlong e Linda Hamilton do jeito como apareceram pela última vez. Há certa ousadia admirável em mostrar um exterminador finalmente conseguindo cumprir sua missão em vez de ser derrotado pelo T-800. Mas é só. Até então sempre foi dito que John Connor era uma peça-chave para a Resistência e a própria Skynet acreditou que matá-lo seria o caminho para a vitória. Quando ela finalmente consegue, nada muda porque outro grande líder surge em seu lugar e até a Skynet, que em teoria não deveria existir, retorna com outro nome. “Terminator: Dark Fate” muda alguns detalhes apenas para deixar tudo exatamente igual.
Sarah Connor não morreu de câncer e continua lutando com seus 60 anos contra as máquinas. Novamente se tenta usar a nostalgia como chamariz da história. E parece funcionar. Ao menos no cinema em que estava, os americanos estavam aplaudindo, suspirando e vibrando com a introdução de Linda Hamilton. É uma adição interessante, de fato, mas até ela não deixa de contribuir para o ponto de que a filosofia da obra é apenas repetir receitas. Isso é comum em Hollywood, então não deveria ser surpresa, mas nem sempre é tão explícito. Se a história funciona é porque já foi feita antes. As únicas grandes mudanças é que a aliada possui melhorias cibernéticas e o exterminador é de novo um modelo ainda mais avançado que qualquer um mostrado antes. Bem, exceto pelo T-3000 de “Terminator: Genisys“, mas quanto menos sobre ele melhor.
O que acaba sobrando para aproveitar é a ação. Com a falta de empolgação vista no enredo, resta aproveitar as constantes perseguições e as cenas de luta de máquina contra máquina, considerando que dessa vez são dois contra dois porque Grace funciona praticamente como uma ciborgue e o REV-9 tem uma sacada interessante em seu design. É o que se pode esperar na maior parte do tempo: fugas de carro, de avião e a pé com algum tipo de combate acontecendo em paralelo. É bom? Sim. Poderia ser melhor? Também. Nem todas as cenas podem ser elogiadas amplamente como alguns destaques, várias delas se colocam como apenas regulares, funcionam sem empolgar ou realizar algo impressionante. Por vezes “Terminator: Dark Fate” apela um pouco para o absurdo em sua tentativa de se exaltar e cai por terra, felizmente não tanto quanto alguns momentos ridículos de seu predecessor abusando da computação gráfica para fazer o que queria com a física e a lógica. Enfim, ao menos esse ponto funciona como um relativo porto seguro pouco prejudicado pelas tendências conservadoras da produção e pecando apenas por falta de inventividade ou problemas de execução, como no caos quase incompreensível da cena do avião.
Sendo justo, não é como se “Terminator 3: Rise of the Machines” fosse extremamente original em sua proposta por resgatar diversas idéias quase como se estivesse cumprindo uma lista. Novamente o T-800 chega nu, precisa de roupas, entra num bar e sai com jaqueta de couro e óculos escuros; sem contar outra cena atirando contra policiais sem causar mortes e tudo mais. Mesmo com tantas similaridades, ainda soa como algo relativamente novo por trazer algo à trama em conjunto com as já esperadas seqüências de ação. Não é o que se pode dizer de “Terminator: Dark Fate” e a repetição dos ingredientes do segundo com fracas desculpas para usá-los. Talvez originalidade nunca tenha sido o forte da série como um todo, pois mesmo as melhores histórias repetem conceitos e até as supostamente ousadas fazem o mesmo. Infelizmente, um tremendo fracasso acarreta nessa volta literal ao básico.