“A View to a Kill” costuma ser colocado entre os piores filme de James Bond. Junto de “Diamonds are Forever”, “Die Another Day“, “Quantum of Solace” e “Moonraker“, sua reputação sempre foi mais ou menos consistente e dificilmente se via alguém colocá-lo nas primeiras posições ao lado de “Goldfinger” ou “Casino Royale“. E há motivo para isso, relativamente. Por mais que não seja um resultado pavoroso e uma falha em níveis extraordinários, é possível enxergar as razões que fazem as pessoas desgostar da obra. A idade de Roger Moore costuma ser o padrão, com a Bondgirl de Tanya Roberts seguindo logo atrás gritando e pedindo ajuda incessantemente. Abaixo dos melhores e nem por isso um desastre.
Após recuperar um microchip de um agente abatido na Sibéria, James Bond (Roger Moore) volta para a Inglaterra e já é enviado para investigar o fabricante do objeto, o misterioso Max Zorin (Christopher Walken). O milionário excêntrico está sob a suspeita de trabalhar com o governo soviético na distribuição do produto exclusivo, imune ao pulso eletromagnético de uma bomba nuclear. Bond começa investigando o sucesso incomum de Zorin nas corridas de cavalo vencidas a despeito de seus animais serem de uma linhagem inferior. Logo, o agente descobre que os planos do industrialista são bem mais sinistros do que se imaginava.
Em alguns sentidos, “A View to a Kill” é muito parecido com “Moonraker“: ambos compartilham acertos pontuais impressionantes que perdem a força quando considerados num contexto geral. É possível encontrar cenas de ação incríveis nos dois em vários momentos. Se vistas isoladamente, é fácil imaginar que o filme aos quais pertencem são tão bons quanto, reflexos do bom gosto demonstrado. O encontro de Bond com um informante na Torre Eiffel, a escalada dela e a perseguição resultante pelas ruas de Paris num pequeno Renault é um ótimo começo e sequer dá um traço de pista sobre o filme ruim tão comentado. Acontece o mesmo com a briga em queda livre no começo de “Moonraker“, uma cena impressionante a cada revisita. Mas não se pode esquecer do contexto mais amplo. Depois de uma cena vem outra cena, logicamente, e aí jaz o perigo. A próxima faz parte da construção da identidade da obra como um todo e pode muito bem estragar tudo.
Enquanto “Moonraker” faz isso com repetidas demonstrações bestas de humor, a maioria delas sendo uma ridicularização do vilão Jaws, acontece diferente com “A View to a Kill”. Talvez a única ocasião semelhante seja quando “California Girls”, dos “Beach Boys”, toca quase aleatoriamente numa seqüência pré-créditos excelente apesar disso. Os problemas estão em aspectos diferentes, um deles encontrado justamente ao final desta mesma seqüência quando Bond encontra seu primeiro par amoroso e a diferença de idade entre os atores fica extremamente gritante. “Octopussy” havia sido mais inteligente nesse aspecto por trazer Maud Adams, então perto dos 40 anos, como a Bondgirl principal, uma idéia melhor do que trazer a Tanya Roberts de 29 anos e cara de 25.
Pode-se dizer que o ponto mais fraco de “A View to a Kill” é o elenco feminino. A questão de Roberts não é parecer muito mais jovem que seu parceiro de cena porque isso sequer é culpa dela. Sua personagem ser uma das Bondgirls mais chatas, desinteressantes, passivas e mal escritas de toda série, sim, é um grande problema. Aparecendo na história brevemente na primeira hora e novamente apenas bem mais tarde, sua personagem sequer demonstra uma razão bem justificada para ela acompanhar o protagonista. Para aparentemente solucionar isso, o roteiro faz dela uma dama precisando de resgate que berra constantemente, pede ajuda e tem o nome de Bond como a palavra número um de seu vocabulário. E não melhora com Grace Jones, que interpreta a capanga do vilão principal quase constantemente calada até abrir a boca e demonstrar sua total inaptidão como atriz, incapaz de proferir as mais simples frases sem estragá-las. E há quem reclame da participação de 2 minutos de Madonna em “Die Another Day“. Ela certamente não é a pior cantora pop a participar de uma missão de 007.
O maior problema da idade de Roger Moore não é a credibilidade das cenas de ação ou mesmo as cirurgias plásticas que modificaram um pouco sua expressão. Esse segundo aspecto só é mais notável em algumas cenas, já o primeiro não chega a ser um problema porque Moore não parece o agente de terceira idade como costuma ser sugerido, então não é esquisito imaginá-lo nas cenas até porque a execução sólida delas tira a atenção disso rapidamente. Assistindo pela segunda vez, não lembrava da ação de “A View to a Kill” ser tão boa. A primeira hora de filme traz uma energia que me fez esquecer brevemente alguns dos porquês por trás da minha opinião não tão positiva. De uma perseguição na neve até uma grande sequência em Paris e a rápida apresentação do vilão em seguida, a obra dá uma idéia de quão melhor poderia ter sido se tivesse seguido esse caminho desde o começo. Há um problema de ritmo depois dessa primeira hora que cria a famosa barriga de enredo, um trecho mais desacelerado que mina a cadência não recuperada tão cedo.
Quando finalmente a ação volta a ser muito satisfatória, o clímax chega trazendo uma coleção de cenas expositivas de simplicidade desnecessária não vistas antes, um detalhe difícil de ignorar quando há também um toque de coincidência conveniente acompanhando, além de uma reviravolta nas motivações de uma personagem que simplesmente não funciona. Faltam motivos para o espectador se importar com a pessoa em questão e uma explicação coerente dentro da própria narrativa.
O que mantém até a mais boba das cenas interessante em muitos momentos é o vilão de Christopher Walken, Max Zorin. Por pior que a opinião de uma pessoa seja a respeito de “A View to a Kill”, é extremamente raro encontrar uma crítica ao psicótico vilão de Walken, o mais interessante desde o Hugo Drax de “Moonraker“. Junto da trilha sonora de John Barry, facilmente uma de suas melhores por integrar o ótimo tema de “Duran Duran” nas melodias, o vilão é provavelmente é o aspecto mais consistente de toda a obra pelo simples fato de ter um plano de fundo e motivação simples, mas sólidos e bem trabalhados através da interpretação de um ator que as engrandece através das características peculiares do personagem. Infelizmente, assim como outras qualidades de “A View to a Kill”, o personagem está imerso em um todo bem mais extenso junto de outros aspectos negativos que atrapalham a composição de uma obra de qualidade consistente.