“Captain America: The First Avenger” traça a origem do primeiro membro da equipe que viria a ser conhecida como Vingadores décadas mais tarde. Steve Rogers (Chris Evans) só quer ir para a guerra. Com tantos rapazes dando a vida pelo dever e pelo país, ele não vê alternativa mais nobre a não ser fazer o mesmo. O problema é que ele é franzino e cheio de doenças, mas seu espírito é íntegro e o coração está no lugar certo. Após ser recusado várias vezes pelo exército, ele encontra uma alternativa num experimento secreto envolvendo a criação de um super soldado em laboratório. Steve acaba sendo escolhido e o resultado é um sucesso, transformando-o em um ser humano com capacidades muito acima do normal que finalmente pode ir à guerra e pôr a prova seu valor.
Desde que decidi rever todos os filmes do MCU de antes do Cine Grandiose existir, passei a pensar que a maioria dos que saíram antes de “The Avengers” não costumam ser muito respeitados ou apenas relegados ao status de aqueles que vieram antes. Ao menos até 2012 não era comum existir muita empolgação pelos filmes e as críticas eram bem mais freqüentes. Tudo bem, pode-se argumentar que o nível tenha melhorado com o passar dos anos e por isso os primeiros trabalhos acabaram ficando para trás. Basta ver como os favoritos de muita gente costumam ser após essa data: “Guardians of the Galaxy“, “Avengers: Infinity War” e até as continuações do próprio Capitão, “The Winter Soldier” e “Civil War“. No entanto, desde a época de seu lançamento “Captain America: The First Avenger” nunca me pareceu ruim, pelo contrário, ele é provavelmente o melhor da primeira leva antes de “The Avengers“.
Não direi que é um dos melhores do Universo Marvel porque outros melhores saíram nos próximos anos, trabalhos mais impactantes e diferentes em essência. Inclusive, uma das possíveis razões da pouca atenção para “Captain America: The First Avenger” é que se trata de mais uma história de origem. Já em 2011 a audiência estava um pouco cansada de descobrir como seus heróis favoritos vieram a ser. Por mais que a história do Capitão América ainda não tivesse sido contada no cinema — exceto pelas produções de 1979 e 1990 — o conceito, formato e estrutura de origem já eram bem conhecidas, além da história já estar conhecimento popular. Nada disso impede que seja um bom exemplo de sua proposta, de vários méritos nem sempre encontrados em ambos o passado e futuro do Universo Marvel.
O primeiro acerto é a escolha de Chris Evans no papel do Capitão. Sim, ele foi o Tocha Humana anos antes, mas muita coisa mudou desde então. Ele perde um pouco da cara de moleque, não toda, e conserva o ar de bom rapaz: cara limpa, morais íntegros, bonito sem ser sexualizado. É o cidadão que representa tudo que há de bom na sociedade e não só faz isso, como se fosse um exemplo sem atitude, pois ele de fato entra em ação e suja as mãos em combate. Não há medo de colocar o Capitão empunhando uma pistola e atirando em nazistas, por exemplo, algo que vai contra o preceito padrão de super-heróis não matarem, mas, bem, na década de 40 não existia nada como o conceito de herói. Steve Rogers só teve a sorte de ser uma pessoa ultra capacitada, como um homem muito mais forte e resistente que os outros, nada como superpoderes.
Seguindo nessa linha, a história reconhece perfeitamente algo central para a figura do Capitão América. Suas capacidades realmente não são poderes. Força, velocidade, resistência, metabolismo, saúde e tudo mais não são exatamente o mesmo que escalar paredes, ficar verde e invulnerável, ser o deus do trovão ou usar magia. Claro que Steve Rogers consegue saltar grandes distâncias, agüenta uma respeitável cota de pancada e mal sua em situações que matariam uma pessoa normal de fadiga, porém isso não é nada comparado com a força do Hulk derrubando prédios na base do murro. Quando as pessoas olham para o escudo vermelho, branco e azul elas vêem um símbolo de inspiração a ser seguidos nos tempos de maior dificuldade, alguém com quem elas podem contar e se espelhar sem medo.
“Captain America: The First Avenger” reconhece isso e integra o símbolo do herói à narrativa sem esquecer da parte concreta do trabalho. Mas não é um aspecto sem poréns. A direção de Joe Johnston comete o erro da superficialidade, se é que pode ser chamado assim, ao usar a montagem para mostrar alguns que parecem ser grandes momentos do Capitão na guerra. De fato é como se diz, uma técnica perigosa que pode funcionar se usada corretamente, mas neste caso, embora cumpra a função narrativa de mostrar que o protagonista participa ativamente do conflito, cria uma vontade de ver mais disso. Não que faltem cenas de ação ou que as existentes sejam insatisfatórias, é justamente o oposto. Ver como a ação flui bem desperta o desejo por cenas mais bombásticas, maiores em escala e aproveitando o contexto colossal da Segunda Guerra Mundial. O que se encontra aqui ainda parece um pouco contido, sem muita ambição — ou orçamento — para orquestrar seqüências maiores.
“Captain America: The First Avenger” ainda acerta num ponto em que a maioria dos filmes do Universo Marvel pecam: um ótimo vilão. Isso acontece até hoje. Obras de 2019 e 2018 ainda apostam demais no potencial de cenas explosivas e empolgantes, recheadas de efeitos especiais ou lutas complicadas; num antagonista com capacidade de causar um estrago sem ter personalidade, motivação ou carisma. O Caveira Vermelha de Hugo Weaving também não tem poderes incríveis e mostra que um acerto em todos esses outros aspectos negligenciados faz dele um personagem marcante. “Captain America: The First Avenger” de fato pode não ser o melhor do MCU, porém é um trabalho muito competente de qualquer forma.