Loki (Tom Hiddleston) retorna com intenções questionáveis para a Terra, como sempre. Ele busca por as mãos no Tesseract, um artefato de capacidades desconhecidas, para conseguir a ajuda de um vasto exército alienígena da raça Chitauri e subjugar a Terra à sua vontade, finalmente se tornando o rei que sempre quis ser. A S.H.I.E.L.D. logo percebe a gravidade da situação e aciona o protocolo Vingadores, buscando unir o Capitão América (Chris Evans), o invencível Homem de Ferro (Robert Downey Jr.), o incrível Hulk (Mark Ruffalo) e o poderoso Thor (Chris Hemsworth) numa equipe para derrotar a ameaça ao planeta. “The Avengers”: a história dos heróis mais poderosos da Terra.
O primeiro grande evento do Universo Marvel. E que evento! “The Avengers” foi o sexto filme depois de cinco outros estabelecendo os heróis da equipe exceto pela Viúva Negra (Scarlett Johansson) e o Gavião Arqueiro (Jeremy Renner). Finalmente foi possível ver algo inédito na história dos super-heróis no cinema: primeiramente, produções grandes e de qualidade dando a atenção que cada herói merece, algo que vários filmes dos Anos 2000 para trás falharam em atingir de uma forma ou de outra; em seguida, a reunião desses mesmos heróis em uma mesma história. A princípio, só significa que entram no orçamento os salários de todas as estrelas, o que torna todo o projeto tão mais especial — ou de risco alto — para a própria Disney. Felizmente, os resultados de bilheteria se mostraram mais que satisfatórios e colocaram o longa como a maior bilheteria de 2012 e a terceira maior de todos os tempos.
Quanto ao filme, também não há do que se reclamar. Muito pelo contrário, “The Avengers” provavelmente foi o melhor filme do Universo Cinematográfico Marvel em seu lançamento e até hoje está entre os melhores. Superou quaisquer surpresas positivas proporcionadas pelas cinco histórias anteriores e causou essa exata impressão quando o assisti no cinema em 2012. Os heróis não só funcionavam juntos, mas faziam isso melhor do que separados. No entanto, muita coisa poderia ter dado errado. Poderia acontecer de um herói roubar a cena, receber mais atenção do roteiro e ter mais importância no enredo do que os outros; ou então dividir o foco de forma que todos fiquem apagados, sujeitos às suas funções plásticas de catalisadores de cenas de ação. Não é o que acontece, embora se possa dizer que a Viúva Negra fique um pouco por baixo por não ter poderes ou capacidades tão interessantes quanto seus parceiros. Até mesmo o Gavião Arqueiro, que poderia estar na mesma situação, compensa esse detalhe com uma participação mais relevante dentro do enredo.
Os outros heróis saem melhor nessa equação. Sempre há um preferido, claro, mas objetivamente todos têm seus momentos de brilho. O Capitão, por exemplo, tem a chance de mostrar sua essência primordial: embora sua força bruta possa estar muito abaixo de outros heróis, o que ele representa é maior do que tudo a respeito de si. O Homem de Ferro tem espaço para seu humor passivo-agressivo e introduzir novas modificações em sua armadura; já Thor cai de pára-quedas na história causando primeiramente uma bagunça ainda maior e depois chegando a matar um pouco a curiosidade de como seria uma briga entre os heróis. E quem melhor para contribuir para isso do que o próprio Hulk, o herói que era dor de cabeça frequente para outros heróis? “The Avengers” dosa a participação de cada um de forma que o todo seja satisfatório. Não há como dizer que o equilíbrio é absoluto porque não se trata de matemática exata, o resultado está muito acima do aceitável e não deixa evidente nenhum exagero pra qualquer lado. Ao menos os descontentes podem se alegrar porque os próximos filmes dos Vingadores mudam um pouco a participação de cada herói a cada nova aventura.
A história de “The Avengers” é relativamente simples e, acima de tudo, cumpre sua função de reapresentar os heróis de forma mais breve e em um contexto unificado, definir uma ameaça e dar motivo para os heróis se unirem para combatê-la. E, claro, há as tarefas básicas de criar um bom vilão e inserir um bom número de cenas de ação para aproveitar ao máximo o número de heróis e as possibilidades deles enfrentando uma ameaça gigante. É isso que se encontra e é isso que se pode pedir do roteiro. Existem algumas idéias ruins e pouco inspiradas? Sim. O clichê do Homem de Ferro no final, o feixe de luz no céu, o roubo do Tesseract e o deus ex machina envolvendo o doutor todos entram no grupo das cenas desnecessárias. Parecem mais clichês para amplificar o apelo de uma obra que não poderia se dar o luxo de limitar audiências, o que dificilmente aconteceria se algumas dessas idéias tivessem ficado de fora, imagino. De qualquer forma, não é de nada disso que se lembra quando os créditos sobem. Há mais qualidades do que o bastante para obscurecer estes deslizes pontuais.
Como um todo, a experiência mal dá sinais de suas 2h23 e flui sem nenhum trecho notavelmente truncado ou mal cadenciado. Há um pouco para cada gosto ao longo do filme e algo para todos quando finalmente chega o clímax. Nova York inteira se torna palco para os heróis fazerem o que sabem de melhor: destruir as coisas. Bem, não necessariamente esse é o objetivo deles, mas é o que se tem e é ótimo. Nada como ter uma das maiores cidades do mundo e tudo que há nela como ferramentas para a ação: carros arremessados e destruídos, coisas para explodir, gente para ser salva, monstros voando pelos céus, prédios arrasados… caos completo. Às vezes uma história em quadrinhos desperta a vontade de ver como uma grande luta ou evento seria no cinema, “The Avengers” preenche esse vazio demonstrando perfeitamente o que significa salvar um planeta sendo destruído a cada segundo que passa.
“The Avengers” era uma proposta simples e muito arriscada ao mesmo tempo. No geral, bastaria criar um roteiro sólido do jeito que a Marvel já havia feito antes envolvendo vários heróis ao invés de um, só que isso significa um aumento significativo de orçamento para pagar todos os salários e criar cenas grandiosas que valorizem e justifiquem a participação de tanta gente no meio. O problema é que um fracasso seria catastrófico para o estúdio. Dada a imprevisibilidade ocasional nas bilheterias, seria difícil engolir uma bomba de U$220 milhões. Não foi o que aconteceu e, felizmente, o universo Marvel seguiu doravante e está hoje em seu vigésimo segundo filme, “Avengers: Endgame”. Que venha o futuro.