A Ghost Story não tem nada a ver com terror, como pode parecer. A história contada é sobre um casal que mora numa casa simples de um subúrbio americano. Ela (Rooney Mara) quer se mudar para um lugar diferente, acostumada a não ficar em uma casa por muito tempo; ele (Casey Affleck) gosta do local e não tem intenções de sair por sentir uma atmosfera de lar ali. Logo quando as coisas estão para se ajeitar, ele sofre um acidente de carro e morre, deixando a garota sozinha. Seu fantasma, ainda não preparado para cruzar para o outro lado, fica para trás e observa a vida seguindo em frente sem ele.
Antes de qualquer coisa, vale dizer que “A Ghost Story” não tem absolutamente nada a ver com aquilo que se pode esperar quando se fala em fantasmas. Nenhum traço de Terror se encontra aqui ou mesmo de um cinema tradicional. Este é o que se chama no senso comum de filme arte, com todas as características negativas atribuídas ao termo, que, infelizmente, fazem pessoas acharem que não há como fugir da norma padrão sem cometer um grande erro. Visuais atraentes, bons atores, trama rasa, planos longos, entonação filosófica, contemplação e todo o resto estão aqui. Os poucos elementos bons são dificilmente aproveitados por estarem associados a uma narrativa incrivelmente, exageradamente e desnecessariamente enfadonha. Este é facilmente um dos filmes mais lentos e, pior, chatos de se acompanhar que vi ultimamente, uma tentativa de colocar em prática uma narrativa atípica sem ser bem-sucedida.
As partes boas de “A Ghost Story” se limitam à fotografia e à escolha do elenco. Destaque para escolha, pois os atores em si não têm muita oportunidade de interpretar seus personagens. Assim como um filme independente típico de festivais de cinema locais, os visuais se destacam por sua beleza estética. Vários filmes ruins neste estereótipo de filme arte ao menos podem se gabar de imagens bonitas, pois aparentemente é a única coisa com que se preocupam enquanto todo o resto deixa a desejar. No mínimo, dá para dizer que a narrativa visual é coerente então é tranqüilamente possível compreender o que está acontecendo na trama. Aliás, há até tempo demais para absorver os eventos em cena.
Uma das práticas comuns na construção de uma narrativa é dar um tempo para o espectador respirar e absorver informação. Em um drama, pode ser um silêncio cortante para reforçar o peso de alguma frase; em um filme de ação, serve para balancear o ritmo; em um romance, para demonstrar um sentimento que seria prejudicado por palavras e por aí vai. De qualquer forma, uma pausa aqui e ali facilita a compreensão da história como um todo. “A Ghost Story” parece levar esse princípio longe demais. Os planos são longos, a câmera fica por segundos e às vezes minutos observando o mesmo objeto. Teoricamente, qualquer mudança, por mínima que seja, poderia ser notada facilmente por conta dos olhos estarem acostumados com a imagem apresentada, tal como um tique que nem mesmo o ator deve ter percebido. Assim, não só mudanças concretas são percebidas mas também qual a intenção, o significado pretendido de cada cena.
O problema é que normalmente alguns segundos bastam, na maioria dos casos. A não ser que seja logicamente justificado, não há porque observar Rooney Mara largada no chão comendo torta durante quatro minutos e encerrar a cena com ela indo vomitar no banheiro. Não é defender a política de quadros de duração ridiculamente pequena ou algo assim, porém é difícil encontrar uma razão para uma cena tão longa quando a interpretação de Mara já deixa claros os sentimentos e mesmo se não deixasse, uma fatia dessa duração seria suficiente. Dois minutos seriam muito, talvez até um minuto já deixaria o espectador inquieto de olhar para a mesma coisa por tanto tempo.
Para piorar, “A Ghost Story” não faz isso uma ou duas vezes, é constante. O começo é um teste de determinação para o espectador: se agüentar a seqüência de cenas incrivelmente lentas, ele passa pelo resto. Gostaria de dizer que isso melhora mais adiante, mas é uma diferença de qualidade mínima. Apenas o conteúdo fica mais interessante, ao passo que a forma se mantém a mesma; o mesmo ritmo devagar, só que com a adição de um personagem fantasma dando um toque de curiosidade. O rapaz volta como uma assombração e fica observando a vida passar diante de seus olhos. Inativo na maior parte do tempo, ele vaga pela sua antiga casa observando as coisas acontecerem totalmente alheias à sua presença. Ele tem um objetivo, procura por alguma coisa. Talvez espera por alguém, talvez espera algo acontecer. Não se sabe de nada além de que ele deve estar buscando algo, caso contrário o roteiro poderia chamar o espectador de imbecil por fazê-lo esperar tanto e não concluir nada.
Felizmente, não se pode dizer que “A Ghost Story” é inconclusivo. Toda a alegoria de observar um ambiente constantemente em mudança eventualmente chega em algum lugar e faz a história funcionar como unidade. Mas era necessário mesmo se arrastar tanto para chegar na conclusão? Pode-se argumentar que a postura contemplativa sobre a existência humana demanda mais vagarosidade, o que faz sentido. Em contrapartida, é curiosa a leitura da direção de David Lowery sobre quanto tempo a audiência leva para perceber, sentir e absorver o conteúdo em cena. O forte clima esmagador de melancolia da obra é jogado fora por todo o resto simplesmente ser do caráter mais entediante e desestimulante de todos. Provavelmente é isso que acontece quando um curta tenta ser um longa.