“Taken” não estava em minha agenda de filmes para ver. Se fosse colocá-lo nela, com certeza não teria sido muito em breve. Com tantas outras obras que me chamam a atenção por razões demais para listá-las aqui, não daria prioridade para um filme de ação dos Anos 2000 estrelando Liam Neeson. Neste caso, acabei assistindo puramente por acaso. Visitando um amigo em outro estado, acabei notando que algo estava para começar na televisão e não troquei de canal. Ainda não havia visto a origem da clássica ameaça por telefone, então por que não? De quebra, ainda fiz algo que não fazia há muito tempo: ver um filme na televisão e tolerar as mesmas propagandas a cada meia hora.
Bryan Mills (Liam Neeson) está aposentado. Ele largou seu antigo trabalho, o qual consumia muito tempo e disposição, para ficar mais perto de Kim (Maggie Grace), sua filha. O único problema é que ela mora com a mãe, e a mãe com um novo marido. Sem ter como competir com a petulância da ex-esposa e a fortuna do padrasto, Bryan é deixado com expectativas insatisfeitas. Mas quando Kim viaja para a França e é sequestrada em sua residência, ele tem de recorrer às habilidades obtidas em seu antigo emprego para salvar o que resta de sua família.
“Taken” tinha tudo para ser mais um filme de ação esquecível como os vários que Liam Neeson fez depois deste. Como vi alguém comentar, por que diabos o ator está sempre num papel de homem invulnerável usando uma jaqueta de couro longa e uma pistola na mão? Não posso dizer que há uma razão interessante por trás disso, mas tenho um pressentimento que Taken é o responsável. A máquina corporativa hollywoodiana não quis perder tempo e fazer outras duas continuações e várias outras obras similares, que alimentam a noção de que todos os filmes de ação são a mesma coisa. De qualquer forma, tudo começa com um longa que deu muito certo, talvez até mais do que os produtores esperavam. Neste caso, foi uma história direta ao ponto sem muitos diferenciais além de uma execução mais competente do que o resto.
Não há muita coisa diferente do que costuma se ver por aí. Bryan Mills é um homem incrivelmente capaz de superar qualquer desafio que se apresenta. Ele teve treinamento militar e muita prática para sair-se tão bem mesmo depois de aposentado. No combate corpo a corpo, ele desarma seus oponentes e às vezes usa suas próprias armas contra eles e uma outra meia dúzia que acaba aparecendo. Ele sabe onde buscar informação e quais braços torcer para obtê-la mais facilmente. Quando alguém pensa em enganá-lo, ele já está um passo à frente. No geral, já fica claro desde os primeiros momentos que esta é uma história em que o protagonista atropela todos os obstáculos até finalmente chegar em seu objetivo. O espectador sabe desde o começo para onde as coisas estão indo e como tudo acaba. Por vezes encontrar um pouco de familiaridade num filme não é ruim, contanto que façam isso de forma competente.
Quanto a isso, não posso reclamar de “Taken” porque ele cumpre sua proposta muito bem. As cenas de ação prendem a atenção mesmo que o resultado final já seja conhecido de antemão. Se o protagonista é capturado ou preso, já se espera que ele arranje algum jeito de sair daquilo, mas não exatamente do jeito que se imagina. Nas ocasiões em que James Bond é capturado e supostamente está para morrer, a audiência sabe que ele arranjará alguma saída esperta não considerada pelo vilão. Aqui é diferente. Num momento parecido, por exemplo, a situação simplesmente explode e segue adiante com a agenda de caos urbano antes do espectador se dar conta.
Basicamente, esta é a melhor característica da ação. Ela começa subitamente e intensamente. Quando Bryan Mills fala que vai procurar, achar e matar o sequestrador de sua filha, não há tempo perdido. As próximas cenas já mostram o personagem começando sua busca e virando a cidade de ponta cabeça, pouco ligando para quem ele mata ou o que ele destrói no caminho. Sem demora, “Taken” mostra outra qualidade através da variedade, a qual aproveita a invencibilidade e conjunto particular de habilidades de seu protagonista. O lado bom de Bryan Mills ser imbatível é como isso resulta na proficiência em todo tipo de situações. Depois de quebrar ossos alheios numa luta corpo a corpo, outros ossos são quebrados em interrogatório para conseguir mais informações e já engatar em novas perseguições de carro, disfarces e tiroteios. Nada está fora do alcance da capacidade do protagonista.
“Taken” sabe os ingredientes que compõem um bom filme de ação, o que não é muito difícil. Até um espectador casual sabe que tipo de coisa funciona ou pode funcionar, logo as pessoas diretamente envolvidas na produção conhecem até demais. A diferença é que o longa sabe como fazer boas cenas e quando usá-las. Tanto a variedade como um bom planejamento fazem toda a diferença na construção de um filme intenso sem ser exaustivo; objetivo por sempre seguir adiante com a simples missão de salvar uma garota e não parecer raso. Claro, pedir profundidade já é um pouco demais, mas não dá para dizer que toda e qualquer cena são elementos de uma agenda rígida e sistemática.
Num geral, dá para dizer que “Taken” entrega uma experiência orgânica e funcional, cumprindo seu dever sem estabelecer nenhum marco no gênero. A missão é salvar uma garota e é exatamente isso que o protagonista faz. Ele tem um talento único para acabar com outras pessoas e é o que ele faz na maior parte do tempo. Seu estilo não é muito sutil, mas é eficiente. De um jeito parecido, “Taken” não é o que se pode chamar de original ou inovador, porém merece destaque por executar o familiar melhor que muitos outros trabalhos sem metade do bom gosto visto aqui. A câmera instável e os inúmeros cortes, por exemplo, não são o que eu chamaria de cinema de primeira classe. Se eles não funcionassem, talvez nem de quinta, o que é algo do que eu não posso acusá-los. Em seu caos imperfeito, “Taken” ainda se sobressai.