Desde que me tornei velho o bastante para descobrir a internet, fiquei sabendo da má reputação de “Terminator 3” entre fãs e críticos. Depois de ver no cinema e comprar em DVD por ter gostado, me surpreendi ao saber que minha apreciação não era correspondida. Lendo as impressões de outras pessoas, descobri que muitos não gostam ou simplesmente odeiam a terceira rodada de Arnold Schwarzenegger como o andróide. Assistir de novo me fez notar alguns detalhes ruins que não tinha reparado antes — os mesmos que alimentam as críticas pesadas — mas estes não mudaram minha opinião. Ainda é um bom filme de ação com falhas aqui e ali.
Anos após a vinda do segundo exterminador e a destruição da Cyberdyne, John Connor (Nick Stahl) é um homem completamente diferente. A energia que tinha quando garoto já não existe mais e agora ele vive como um andarilho, um homem que passou a vida toda achando que seria um grande líder sem nunca chegar lá. Isto muda quando dois exterminadores reaparecem: T-X (Kristanna Loken), tentando matá-lo; e o T-850 (Arnold Schwarzenegger), para impedir sua morte. Dessa vez, já não há como impedir o julgamento final, apenas fazer o possível para sobreviver à ascensão das máquinas.
“Terminator 3” não é ruim como dizem. Foi uma continuação preguiçosa? Sim. A estrutura da história é praticamente a mesma de “T2” e mal tenta sair deste molde. É tudo muito similar, desde a apresentação dos personagens até a ordem de cenas antes da ação começar. Por um lado, vários dos acertos acabam sendo reproduzidos com uma cara diferente. A perseguição de caminhão não envolve uma Harley-Davidson e uma motinha, trazendo mais de um caminhão e amplificando o fator destruição. Por outro lado, a apresentação do T-850 é uma de várias situações que desnecessariamente tentam ser engraçadas. Enquanto esta continuação permanece fiel às convenções da série, não há muito do que reclamar. Mesmo que falte criatividade por ser a mesma coisa novamente, pelo menos as adições infelizes não aparecem nestas ocasiões.
Sinto-me muito tentado a começar argumentando sobre as várias coisas que me incomodam em “Terminator 3”, mas vejo que estaria fugindo do meu argumento principal a seu favor: como um filme de ação, ele é competente. Nem chego a entrar em detalhes sobre história e estrutura para não cair em comparações com seu predecessor novamente. Tratando de sequências de ação e como elas são executadas, há mais do que o suficiente para uma experiência satisfatória. Muito mais qualidade do que “Terminator Genisys” entrega em qualquer momento — o qual aproveita para ressucitar a perseguição de guindaste. Ambos os filmes tentam algo parecido ao usar qualidades de seus predecessores de uma forma mais ou menos nova. O longa de 2015 vai mais longe na história ao mesmo tempo que resgata cenas dos antigos sem muita criatividade. Já “Terminator 3” usa a estrutura do anterior — um exterminador protegendo e outro perseguindo — com uma virada de uma característica do primeiro: em vez de matar mais gente por acidente, a T-X tem outros alvos além de John Connor.
Aliás, ela mesma é uma vilã decente o bastante. Não é uma cópia do T-800 ou do T-1000, mas uma mistura entre os dois: a força bruta do primeiro com algumas capacidades do metal líquido do segundo. As melhores cenas de ação envolvem ela e seu poder claramente superior ao do T-850, que mais serve como uma redução de danos do que um oponente na mesma altura. Em suas ótimas lutas, parte do prazer é ver o robô obsoleto se esforçando para danificar sua oponente que luta sem esforço. Assim como a maioria das similaridades aqui, não chega a superar o que veio antes, embora ainda seja de bom gosto. As outras semelhanças de não tão bom gosto acontecem porque certas cenas são semelhantes demais ou simplesmente piores. O enredo, pelo menos, consegue ter uma boa parcela de originalidade, deixando de lado a parte dos exterminadores retornarem. John Connor está mais velho e acabado, seus tenentes e subordinados são alvos, o Julgamento Final é inevitável e os esforços dos personagens são feitos mais por desespero do que para cumprir alguma missão. Goste ou não da história, ache ela parecida demais ou não, é difícil dizer que o final não é excelente. De longe é a melhor parte do filme, sendo quase uma unanimidade entre quem ama ou odeia de que é um ponto alto.
Pode parecer que “Terminator 3” é muito bom pela minha descrição, afinal incontáveis outras boas continuações se encaixam neste padrão de resgatar qualidades do passado e renová-las o bastante para não ser uma cópia. O problema é que este conceito não se traduz sem vacilos. Primeiramente porque porque às vezes a estrutura é igual demais. Há uma cena do exterminador entrando num bar de beira de estrada, uma com os clássicos óculos escuros, outra operando uma metralhadora gigante contra policiais sem matar ninguém… Nada que traga um sentimento de nostalgia porque parecem estar apenas reciclando os momentos de forma desimaginativa. Por vezes, tentam mudar estas cenas e adicionar algo novo: humor. Esta é uma coisa que a série nunca precisou e não precisava ter aparecido aqui. A visita ao bar, por exemplo, é um tanto diferente a partir do momento que se entra na porta. É uma noite das mulheres e as roupas de couro são roubadas de um stripper homem, que não perde a chance de tirar sarro do andróide. Antes, o exterminador era naturalmente engraçado por conta de suas atitudes travadas, ninguém precisava tirar sarro dele. É desnecessário, então só pode ser motivo de comemoração o T-850 permanecer como um ponto forte. Interpretado por um Schwarzenegger ainda em ótima forma, o exterminador conserva as qualidades boas de “T2” e até traz alguns truques novos desde a última vez.
Mas de todas as coisas aqui, a que mais me incomodou sempre foi o John Connor sem sal. Tudo bem, em vários momentos o roteiro não ajuda com falas terríveis, mas isso é apenas um catalisador de uma performance ruim desde o começo de Nick Stahl — novamente, só não sendo pior que sua contraparte em “Genisys“. As circunstâncias apontavam para um bom resultado: John reencontra o mesmo modelo de exterminador com quem desenvolveu uma relação querida. As memórias seriam revividas e a relação funcionaria de um jeito diferente, pois o homem já não era mais o garotinho rebelde de antes. Existe exatamente uma cena que explora essa relação entre os dois e ela é muito mal executada. Em parte porque vem do nada, sem nenhuma introdução prévia; por outro lado, porque Stahl não é um bom ator. Sua interpretação transforma John Connor, antes um garoto carismático, em um personagem medíocre. A idéia era colocá-lo numa posição mais precária que antes, só que não fazem isso de uma forma relacionável. É uma oportunidade desperdiçada de continuar a história de Connor.
Um pouco menos grave é o quesito da computação gráfica. Não lembrava de “Terminator 3” ter tanta CGI. Sempre achei que toda a perseguição de guindaste tivesse sido feita com efeitos práticos, quando é bem diferente disso. Ainda é uma ótima sequência, um pouco menos impactante com todos os efeitos revelados pela alta definição. Enfim, mesmo os piores deslizes de “Terminator 3” não chegam a destruir a obra. O humor e a atuação de Nick Stahl, que são indefensavelmente ruins, têm seus deméritos limitados a demonstrações pontuais. Não tentam de toda e qualquer forma ser engraçados, assim como o ator se mantém num nível digerível e só piora muito vez ou outra. De resto, a ação apresenta-se como o maior acerto e, acredito eu, que isso pese mais num filme de ação que sátiras sobre genitais.