De cabeça, não consigo pensar em coisas boas para falar de “La tierra aún se mueve”. Se existe uma definição para filme arte, acho que este chega muito perto. Claro, é um termo empregado na maior das ironias, pois de forma alguma é um bom representante do melhor que a arte oferece. Muito menos em comparação com incontáveis outras grandes obras, que fazem um papel muito melhor em mostrar o potencial do cinema de criar uma conexão sentimental com sua audiência ou, no mínimo, distraí-lo com entretenimento. Talvez o arte do termo se refira a arte moderna, seus significados ocultos e qualidade questionável. Um mictório com um nome escrito em canetinha e uma tela branca são paralelos adequados ao que mostram aqui.
A descrição na página do Olhar de Cinema fala de um estudo paisagístico de alto contraste e sons evocativos. Que tipo de filme é descrito dessa forma? Sons evocativos e paisagens? Para mim, já teria sido um alerta. Mas nem cheguei a pesquisar sobre a obra antes de assistir porque havia recebido um convite da produtora por email. Havia decidido dar uma chance independentemente da premissa. Em seguida, continuam a descrição falando de uma miríade de plantas e animais, que vão do familiar ao densamente estranho, completando com uma comparação com Michelangelo Antonioni.
Essa é uma péssima descrição. Arrancam palavras do nada e formam uma texto vago, finalizando com a comparação com um cineasta famoso na tentativa de deixar o texto apelativo. Só esqueceram que uma sinopse deve introduzir ao conteúdo da obra, dar um gosto do tema principal e seus conflitos, se aplicável. Exceto pela comparação com Antonioni, que foi gratuita e completamente inapropriada, não culpo a pessoa que escreveu o texto. “La tierra aún se mueve” é uma obra difícil de encarar e próxima de indecifrável por não apresentar nada concreto a respeito de seus temas, idéias e as aspirações das pessoas por trás dela. Dizer que não existe nada seria afirmar coisas das quais não tenho certeza, então digo apenas que, ao meu ver, não consegui acessar o conteúdo apresentado. Tenho minhas idéias, sim, mas não colocaria a mão no fogo por nenhuma. Muito menos agarraria uma delas só para poder ostentar que consegui interpretar os segredos deste longa. Não estou participando de um concurso pseudo-intelectual de desvendamento cinematográfico.
“La tierra aún se mueve” apresenta sequências de imagens variadas sem um tema amarrando as pontas. O mais próximo que se chega disso é o fato de muitas delas apresentarem cenas da natureza. A primeira, depois de uma tela preta com rumores graves na parte sonora, é um plano detalhe do que parece ser uma planta. Lentamente, a câmera mostra o resto da planta e segue o que parece ser uma teia de aranha com gotículas microscópicas de orvalho. São gastos no mínimo 5 minutos nessa cena e, até o final do filme, outros 63 que mais pareceram 2 horas. Parece muito mais longo do que é porque não vi nenhum argumento sendo construído, apenas imagens e mais imagens esteticamente bonitas. É a única coisa que posso elogiar, por sinal, pois conseguem capturar cenas incríveis da natureza em ação num nível de detalhe impressionante. Uma tartaruga pondo seus ovos extremamente próximos da câmera e uma aranha enrolando sua presa num casulo de teia são momentos dignos de “Planet Earth”, um dos melhores documentários sobre natureza.
Tirando estes e pouquíssimo outros pontos fortes, o resto das cenas não diz muita coisa. Individualmente, são enigmas. Uma sequência mostrada repetidamente apresenta uma estrada escura com apenas um poste iluminando um trecho, neblina no ar e um matinho à esquerda. De vez em quando, um carro passa ou a silhueta de uma pessoa é visível. A frustração também está presente quando as cenas são consideradas de acordo com sua organização. Existe o tema recorrente da natureza e mais nada. Comentam sobre filosofia e feitiçaria também, dedicando um tempo para comentar como as feiticeiras operam no mundo. Foi mais ou menos nesse ponto em que já não estava aguentando mais, lamentando por ter dormido bem durante a noite e estar sem sono durante o filme. Caso contrário, poderia pensar em aproveitar a oportunidade para tirar um cochilo enquanto rodavam imagens muito apropriadas para o protetor de tela do meu computador.
As únicas constantes numa disposição aleatória são a sequência da estrada e um efeito especial, o qual dá a impressão da imagem estar debaixo d’água depois de alguém agitá-la, fazendo várias ondas em sua superfície. Nenhuma das duas repetições reforça algum ponto, claro. Continuo sem algo concreto depois de assistir a “La tierra aún se mueve”. Fazendo um esforço para chegar num tema, partiria do título e diria que tentam reproduzir o movimento constante da natureza, a multiplicidade da vida operando ao mesmo tempo em tantos lugares diferentes. De uma plantinha e a aranha sobre ela até a gênese reprodutiva de uma tartaruga. Então eu lembro do lance das feiticeiras e tenho vontade de dizer que este filme é pretensioso e aleatório, o que é muito mais próximo da verdade do que minhas conjecturas sobre o tema da obra.