Mal sei dizer quanto tempo “How the West Was Won” esteve na minha lista de filmes para assistir. Quatro anos, no mínimo, sem nenhuma razão em particular para tanta demora. Então comprei o Blu-Ray há uns seis meses e havia planejado vê-lo no futuro próximo. Bem, esse futuro acabou sendo só ontem à noite, quando finalmente conferi do que se tratava esse Faroeste Épico. Não sabia que seriam quase três horas de duração, embora devesse ter suspeitado quando vi o número de estrelas no elenco. São pelo menos 13 astros numa proposta extremamente ambiciosa: englobar toda a expansão do Velho Oeste numa grande história.
Várias famílias entram no movimento de migração para o Oeste, uma terra com promessa de riqueza e novos horizontes. Entre elas está a Família Prescott, que foram fazendeiros frustrados antes de pensar em cruzar o país. Zebulon Prescott (Karl Malden), o pai, estava cansado de encontrar pedras no solo e em todo lugar que pisava. Então começa uma jornada que, sem demora, manda um filho para cada canto do país em busca de seus destinos. No caminho, encontram sucesso, decepções e aventuras conforme vivenciam os grandes eventos do Século 20 nos Estados Unidos.
“How the West Was Won” não foi um daqueles filmes que fizeram eu me arrepender de ter demorado tanto pra assistir. Não cria aquele sentimento de tempo perdido vendo outras coisas, poderia ter ficado mais uns meses sem ver tranquilamente. Por quê? Bem, ele não está entre os Faroestes que eu recomendaria se me perguntassem os melhores. É uma história longa e ambiciosa, podendo ser incluída no gênero Épico por abranger tanta coisa.; o contro de uma família inteira e seus descendentes vivendo a expansão ao oeste desde seus primeiros estágios. Começa com a promessa, progride em meio ao caos e termina com o estabelecimento da ordem. Contudo, como pode-ser ver aqui, deram uma mordida maior que a boca.
Isso não quer dizer que não existem méritos. Existem vários, a fotografia sendo o mais forte e controverso deles. “How the West Was Won” foi um de poucos filmes produzidos no formato Cinerama: três câmeras gravando em lentes grande-angulares uma mesma cena. O resultado é uma imagem incrivelmente ampla, ainda mais para a época em que o formato 4:3 dominava. Tratando de um Faroeste, um gênero com relação íntima com o ambiente, é uma vantagem e tanto. O potencial de amplificar o poder do cenário é atingido e as imagens parecem capturar o horizonte em toda sua amplitude. Detalhes estão aos montes em alta resolução, apresentando as qualidades naturais dos ambientes e enaltecendo perfeitamente o cenário do Velho Oeste como o foco do filme; ao contrário de outros Faroestes, que usam o Oeste como o contexto de uma história centrada em personagem ou enredo. Diria até que as imagens rivalizam produções reconhecidas por capturarem toda a maravilha do Monument Valley, como “The Searchers”. Entretanto, o Cinerama tem seus contratempos. Ele foi produzido para ser exibido em salas de cinema especialmente equipadas com telas largas e curvas. Numa televisão moderna — considerando as de tela plana — existem distorções e artefatos na imagem. Planos abertos com a câmera em movimento mostram montanhas e nuvens convergindo bizarramente no centro da tela; enquanto imagens mais limpas, se posso dizer, revelam linhas verticais onde os três negativos foram unidos.
Outros acertos podem ser encontrados pontualmente em diversos momentos de “How the West Was Won”. Uma sequência do começo mostra os Prescotts navegando rio abaixo em direção ao famigerado oeste. De repente, eles pegam o caminho errado e são levados pela correnteza. A família é arremessada pelo convés da jangada e todas suas coisas vão ficando à mercê das violentas águas. Malas com roupas desprendem-se, gente caindo e gritando, o barco desmoronando e os planos de navegação tranquila indo por água abaixo. O mesmo vale para a sequência dos búfalos envolvendo um conflito entre índios e o homem branco. Nela, uma manada corre em debandada e atropela o que está pela frente — um eco da clássica cena de “Red River” 14 anos antes. Cada segmento da história, ainda que sem uma divisão formal, possui seus méritos e uma parcela do gigante elenco de estrelas. O primeiro conta com Karl Malden, Debbie Reynolds e James Stewart; o próximo já foca no par de Reynolds e Gregory Peck; e assim por diante. Todos fazem um bom trabalho e cumprem sua função dentro do pequeno arco dado a eles, os quais funcionam bem individualmente.
No entanto, a matemática da qualidade de um filme não é tão simples. Uma grande quantidade de acertos individuais não necessariamente resulta em excelência. Se fosse assim, “How the West Was Won” seria incrível. Infelizmente, a dinâmica é mais complexa que somar os acertos deste trecho com os daquele. O grande problema de uma história tão ambiciosa é justamente sua ambição, não saber como apresentar um enredo gigante de forma envolvente. Colocar a Jornada para o Oeste, a Corrida do Ouro, a Guerra Civil e a Expansão das Ferrovias num mesmo filme não o torna automaticamente bom, ainda falta amarrar tudo isso numa narrativa coesa. Escolhem assuntos interessantes e um elenco forte para interpretá-los, mas Henry Fonda e James Stewart mal aparecem antes de John Wayne fazer uma ponta ainda mais breve e dar lugar a George Peppard. Ver tanta gente ir e vir desvia minha atenção para os eventos e ao contexto do enredo. Só que isso eu já vi em outras obras, melhor e mais bem feito. A imagem feminina é explorada mais a fundo em “Johnny Guitar” do que o arco inteiro de Debbie Reynolds; igualmente como o conflito contra índios, que nunca chega a ser intenso como em “Stagecoach“. Sem o investimento em personagem, sobra apenas a parte superficial. E essa é facilmente superada por outras obras que se dedicam ao mesmo assunto.
Quase três horas de filme e pouco desenvolvimento de personagem. Claro, há o fato das histórias serem protagonizadas por figuras diferentes, mas estas novas não chegam a ter tempo de conquistar o espectador. Talvez diminuindo o escopo ou interligando os segmentos melhor resolvesse o problema, difícil dizer. Minha única certeza é que este Épico não emplaca junto dos grandes do gênero. O tempo de enrolação para assistir “How the West Was Won” certamente não me trouxe arrependimentos. Quem sabe toda essa demora para assistir não tenha sido um premonição do que estava por vir? Menos mal que não criei muitas expectativas, pois não consigo vê-las correspondidas.