Achar alguém que não gosta de Slashers é tão comum quanto achar quem gosta de Terror. Se alguns filmes são criticados por tentarem algo novo, como o terror psicológico, outros são apedrejados por seguirem uma fórmula. Gosto dos filmes de “Sexta-Feira 13” porque eles oferecem justamente o que eu quero. Mas tirando críticas e resenhas, há como falar sobre eles para além do que esteve nas telonas? “Crystal Lake Memories” mostra que sim. São quase 7 horas de entrevistas, curiosidades e histórias sobre Jason Voorhees.
“Crystal Lake Memories – The Complete History of Friday the 13th” leva seu título ao pé da letra. A franquia inteira é dividida da mesma forma que o livro homônimo em que foi baseado: 14 capítulos. Não importa se o filme em questão presta, ambos os terríveis e os bons têm uma boa história por trás deles. Sim, até mesmo a coleção de mortes e idéias ruins chamada “Parte V” possui um plano de fundo interessante que data da produção da “Parte IV”. Este documentário traz um pacote generoso de informações de dentro e de fora dos sets.
Mas é claro: é preciso gostar da série “Sexta-Feira 13” para aproveitar bem a experiência. “Crystal Lake Memories” não é uma obra de nicho como os filmes dos quais fala, sua estrutura é bem acessível e as informações podem ser compreendidas por qualquer um. Sempre deixam claro quem fala e ao que esta se refere. No entanto, existem algumas coisas a se considerar: são quase 7 horas de Documentário falando de cada filme especificamente. Não é uma duração convidativa por si, muito menos se o espectador não tiver um interesse genuíno pelo assunto. Se a pessoa não vê graça em Jason quebrando vítimas ao meio, então pouco importará se ressuscitam os mortos para falar sobre os bastidores. O mesmo não pode ser dito dos que gostam de um ocasional banho de sangue. Estes mal verão o tempo passar quando suas cenas favoritas são dissecadas pelas mesmas pessoas que ajudaram a construí-las.
Em termos de ser completo, pode-se argumentar que o livro contém mais informações do que este longa-metragem. A escrita pode ser inerentemente mais concisa que uma produção audiovisual no relato de um mesmo assunto. O comentário de um produtor, por exemplo, pode ser comunicado com brevidade em um parágrafo; ao passo que pode ser mais longo quando a pessoa está em frente a uma câmera falando em seu ritmo. Extenso como é, “Crystal Lake Memories” foi extremamente completo para mim. Talvez realmente não tenha todas as informações do livro, mas fiquei extremamente satisfeito com tudo o que vi; mesmo quando o assunto não era totalmente de meu interesse, como a série de TV.
Comparações de lado, 6h40 não é uma duração curta de forma alguma. Seria uma falta de síntese ou pobreza de formatação? Não diria que este é o caso. O formato é ideal por”Sexta-Feira 13″ ser uma simples experiência de ver gente aos montes morrendo de maneiras diferentes. Não seria possível sintetizar a visão que alguém teve para a série inteira, pois uma não existe. “Friday the 13th” foi um filme cujo sucesso não era esperado nem pelas pessoas que o fizeram. A visão da equipe de produção foi ganhar dinheiro e continuou sendo. Qualquer nova visão por trás de uma continuação, como matar ou ressuscitar o personagem, tinha o lucro como objetivo. Dessa forma, falar sobre o assunto é entrar em detalhes e minúcias de cada longa. E quando se fala em 12 destes e um seriado, a duração só poderia ser incomum.
O lado bom do formato escolhido é sua flexibilidade. “Crystal Lake Memories” tem 14 segmentos diferentes: 12 focados nos longas, 1 no seriado e 1 como conclusão. Não é preciso assistir tudo de uma vez e correr o risco de adiar a assistida eternamente. Um fã com tempo nas mãos dificilmente sentirá vontade de parar na meio para fazer outra coisa, mas não perderá nenhum tipo de continuidade se este for o caso.
Dá para dizer que “Crystal Lake Memories” é uma grande coleção de making-ofs. E dos bons. Não posso dizer que houve um capítulo ou trecho sequer que me entediou. Até mesmo o que menos me interessava, sobre “Friday the 13th: The Series”, chamou minha atenção. Eu achava que a série era uma cópia barata de filmes que já não estavam mais em alta na época. Curiosamente, ela não tem nada a ver com os longas. Seu conceito é completamente novo, sendo o nome apenas emprestado para chamar audiência. Além desta, outras surpresas fazem cada capítulo ter pelo menos uma dezena de boas histórias. É o caso de quando 2 pessoas interpretaram Jason na “Parte II”, assim como Betsy Palmer só ter aceito o papel porque achou que ninguém veria o filme. Aliás, nem a Paramount esperava algum sucesso ou outras 11 continuações. Dezenas de atores compartilham suas experiências enfrentando Jason Voorhees — e às vezes, problemas no set. Corey Feldman narra, e muitas histórias interessantes surgem.
Às vezes surge uma curiosidade improvável, como o renomado Stan Winston quase trabalhar na “Parte II”; às vezes os relatos dão uma luz sobre características de cada obra. Espectadores de primeira viagem podem ter estranhado a abordagem cômica e a meta-linguagem da “Parte VI”. Mas por que foi feita assim? Foi o começo de várias tentativas de renovar a franquia. Depois de matá-la na “Parte IV”, revivê-la mal na “Parte V“, havia chegado a hora de algo novo. Ou melhor, uma sequência experimentos bruscos para renovar o interesse do público. O assassino vira um zumbi, enfrenta uma telepata, vai a Nova York, ao inferno e depois ao espaço. Tudo porque contrataram um diretor de pornô para um dos filmes. Existem vários porquês a serem encontrados em “Crystal Lake Memories”, razões por trás dos sucessos e do fracassos. Era de se pensar que os primeiros seriam mais interessantes, mas também me senti entretido vendo como se empolgam para falar dos lixos também. Tirando “Jason X”, todos os filmes são comentados com uma visível paixão. Embora os papéis não tenham rendido nenhum Oscar, os atores mostram-se felizes por terem feito parte de história de Jason. Para eles, foi uma oportunidade única e valorizada; para mim, foi muito legal ver minha empolgação compartilhada. Gente com histórias e empolgadas para contá-las? Até “Jason Vai para o Inferno” fica menos pior.
A duração assusta qualquer um, porém duvido que seja um problema de verdade. Quem gosta dos filmes provavelmente não vai pensar muito nisso e assistirá na primeira oportunidade. Já o espectador apenas familiar com a franquia nem considerará assistir porque, bem, serão longas horas falando de algo que ele nem gosta direito. Dificilmente poderia ter valido mais a pena, há dedicação demais para haver espaço para decepção. “Crystal Lake Memories” é um longo reencontro com o passado; diferente de rever os filmes por trazer tanto conteúdo novo à mesa e único por ser tão satisfatório.