“John Wick” foi o bom filme de ação que ninguém esperava. Agora chegou a vez da não tão inesperada continuação depois da recepção positiva do primeiro. Toda a ação belamente coreografada volta em seu arranjo de artes marciais com armas de fogo e, claro, muita violência. “John Wick: Chapter 2” é uma obra que não foge de suas origens e agradará principalmente os que gostaram do estilo do primeiro: ação mais dependente do talento de dublês do que de computação gráfica e truques de edição e direção. De todas as coisas que poderiam ter acontecido numa continuação, é bom ver que mantiveram o mesmo diretor e o mesmo nível de qualidade de antes.
Pouco tempo após os eventos do primeiro filme, John Wick (Keanu Reeves) tenta novamente voltar à tranquilidade de sua aposentadoria, mas uma figura do passado volta para cobrar uma dívida. O preço para abandonar sua carreira foi ceder um favor a ser cobrado em qualquer momento, pacto tradicional da guilda de assassinos. Wick se vê sem escolha e deve voltar ao seu trabalho antigo para se livrar de seu débito e, talvez, encontrar paz no fim de tudo. Mas nem tudo é tão simples e ele logo descobre isso quando seu trato exige mais do que o combinado.
Uma das regras não-escritas de Hollywood dita que se o público gostou da primeira, ele vai amar a segunda. Isso é mais ou menos verdade para “John Wick: Chapter 2”, pois se por um lado ele continua a tendência de repetir os sucessos do passado com mais intensidade e quantidade, ele faz isso de uma forma que não é completamente prejudicial ou favorável ao longa. Só de pensar que poderiam ter aproveitado um ou dois conceitos de antes e transformado essa coleção de tiroteios estilizados numa continuação genérica, já fico muito feliz de ver que o resultado foi esse. A desculpa que arranjam para tirar o assassino de sua aposentadoria parece até um pouco do nada, mas nunca chega a estragar o resto do filme, não quando parte dele envolve expandir a mitologia daquele sub-mundo de assassinos profissionais. No mínimo, essa expansão serve como uma alternativa à reproduzir— e falhar — a simplicidade charmosa da premissa do primeiro. Um frenesi assassino por conta de um cachorrinho e um carro é algo que só funciona uma vez.
“John Wick: Chapter 2” não é louvável por apenas conservar a glória da ação prática — com atores colocando a mão na massa e realmente realizando os movimentos — ele merece todo aplauso por melhorar praticamente todas as conquistas de seu predecessor. Não consigo lembrar de uma sequência de “John Wick” que supere os tiroteios em locais históricos na Itália, por exemplo, todas aqui melhoram os elementos que funcionaram tão bem antes. Seja dando uma polida, estilizando as execuções e adicionando detalhes mais interessantes que um tiro certeiro na cabeça; aumentando a escala da ação de forma brutalmente prática — preparando um arsenal carregado antes da missão — ou de forma criativa — usando qualquer coisa disponível com o potencial de matar. Essa missão mais explosiva mostra o protagonista finalmente chacoalhando a ferrugem para voltar ao seu velho-eu e funciona perfeitamente bem quando o assunto é entretenimento. Num filme de ação como esse, isso significa uma leva maior de inimigos, mais armas e ir ainda mais longe na arte de colocar Keanu Reeves derrubando pessoas no chão ao mesmo tempo que atira em meia dúzia de outras.
Do outro lado da moeda, apostar em cenas ambiciosas constantemente mata um pouco de um aspecto mais realista — se isso for possível num filme desse tipo — do qual havia gostado no primeiro. Nele, o protagonista do começo e o do fim são personagens notavelmente diferentes. Não por haver um desenvolvimento de sua personalidade, pois essa não é a proposta. Sendo uma obra que se caracteriza pela ação, é seu estilo de luta que se adapta ao estado do personagem e o molda no processo. Ele está totalmente descansado no começo e mostra isso na agilidade e precisão com que mata seus oponentes, o que já muda mais perto do final quando ele está ferido e cansado. “John Wick: Chapter 2” peca nesse aspecto por transformá-lo em um tipo de super-herói, incansável e dificilmente ferido. Não é incomum que ele tome tiros ou seja atropelado e continue lutando como se nada tivesse acontecido. Pensar que ele está mais em forma aqui ameniza um pouco a situação, mas não a deixa totalmente aceitável. Outro ponto negativo de apostar na ambição é aumentar a quantidade delas como se isso fosse um benefício automático, sendo que não é bem assim que funciona. Até mesmo “Mad Max: Fury Road“, um dos mais frenéticos do gênero, sabe o valor de dar uma parada de vez em quando para respirar; caso contrário a obra fica monótona, estar sempre agitada não evita que uma obra sofra disso. O próprio “Star Trek Beyond” é um exemplo recente que mostra bem isso. Outra vez, seguir o exemplo de antes e pausar a ação por um tempinho evitaria que a experiência ficasse carregada demais e, consequentemente, um pouco cansativa.
Com sua própria cota de inovações, boas e ruins, “John Wick: Chapter 2” é uma continuação que mantém o mesmo nível de seu predecessor. A ação conserva a identidade de seu predecessor, casando perfeitamente o corpo-a-corpo com armas de fogo e até aumentando a escala das sequências. São mais inimigos, situações novas e icônicas misturadas com toda a singularidade de antes; mas que por serem frequentes demais acabam prejudicando o ritmo da obra. Ainda vale a conferida.