A mais famosa coleção de diálogos ruins e cenas de sexo volta para a segunda de três partes com “Fifty Shades Darker”, um filme cujo título sugere um tom mais sombrio para uma história envolvendo sadomasoquismo, mas é curiosamente muito menos ameaçador do que parece. Tudo o que se espera está de volta: Dakota Johnson nua, cenas de sexo, um roteiro risível, diálogos terríveis e Jamie Dornan brincando de macho ferido com um lado sentimental. Poderia dizer que esperava algo bom dessa vez, mas não seria verdade. Não há nada aqui que pelo menos tente ser muito diferente do que “Fifty Shades of Grey” foi.
Depois de um súbito término, Anastasia Steele (Dakota Johnson) segue sua vida num novo trabalho como Assistente de Editor, mas não demora para que Christian Grey (Jamie Dornan) volte para sua vida. Logo os dois retomam seu romance de antes, dessa vez com novas regras: sem regras nem punições. O diferente para ele é o normal de qualquer relacionamento — duas pessoas estarem juntas por compartilharem um sentimento — mas nada com Christian Grey fica normal por muito tempo. Seu passado conturbado volta com promessa de atrapalhar sua vida com Anastasia.
A coisa que me fez assistir a primeiro parte dessa trilogia foi curiosidade. Nunca tive interesse para ler os livros e muito provavelmente nunca deixarei de ler algo bom por um conto erótico. Ver o filme foi uma chance de conferir do que se tratava todo o alarde sem gastar tanto tempo. Felizmente, “Fifty Shades of Grey” fez o favor de dar a certeza que eu precisava para nunca colocar as mãos nos livros, de resto ele não foi muito feliz em ser um filme decente. Já “Fifty Shades Darker” não teve o mesmo apelo. Eu já sabia que a história de Christian Grey era de tão bom gosto quanto um churrasco vegano, portanto a única possibilidade de me surpreender seria se melhorassem muito o que foi entregue em 2015 — improvável — ou se arrastassem esse fracasso ainda mais baixo. Não foi dessa vez que me surpreendi, pois mantiveram essa continuação mais ou menos no mesmo patamar de antes.
Das poucas melhorias, posso apontar a fotografia e a atuação de Jamie Dornan. “Fifty Shades Darker” abre mão da tonalidade cinza e morta, antes usada como um artifício barato para refletir o estado mental de Christian Grey — sem nada para cativá-lo em sua fortuna. Entrar numa nova fase de seu relacionamento com Anastasia traz uma gama de cores que não existia, dessa vez estando mais perto de uma imagem normal sem necessariamente estourar nos tons para evidenciar como os sentimentos estão finalmente florescendo naquele homem cheio de cicatrizes. Dornan, por sua vez, parece finalmente mais confortável no papel. Ele vai de uma interpretação vergonhosa para uma aceitável; ainda prejudicada por diálogos expositivos e evidentemente mal escritos. Nenhum dos dois conseguem se salvar de falar umas besteiras no pouco tempo que há entre as extravagâncias sexuais do casal. Tal como quando Anastasia demonstra sua percepção privilegiada ao falar que está pilotando enquanto controla o iate de Christian.
Já no lado mais sensual da história, o roteiro foi mais generoso e colocou mais sequências do casal em seus momentos interessantes. Dessa vez, Anastasia pede para mudar as regras e há um pouco menos foco na parte sadomasoquista do sexo — infelizmente para quem tinha gostado dessa parte no primeiro. Entretanto, isso também não quer dizer que a direção pega mais leve nessas sequências. Acredito que elas sejam até mais ousadas e explícitas que antes, com Dakota Johnson estando mais nua e por mais tempo do que antes. Pelo menos “Fifty Shades Darker” mostra uma noção mais clara de que seu público está ali para ver gente transando numa tela de cinema. Não é entretenimento dos melhores para quem assiste e ainda assim consegue ser o melhor que este longa tem para oferecer.
Toda parte não relacionada ao sexo não poderia ser muito pior do que é. “Fifty Shades Darker” oferece um momento lamentável atrás do outro, tentativas de aprofundar uma história pervertida num drama psicológico-sexual ou algo do tipo. Em vez da garota com tanta malícia quanto experiência na cama, temos a protagonista numa constante missão de amansar seu namorado. Agora ela quer entrar num romance e matar o único traço de originalidade que seu relacionamento tinha, ir de uma situação peculiar para algo normal. Christian Grey deve se desfazer de todas as amarras psicológicas que Jamie Dornan falhou em evidenciar no primeiro filme para se tornar um cara normal e dar a Anastasia o que ela quer: o pacote completo, sexo com amor. Uma missão rasa que já começou fracassada. Este desenvolvimento já vem falhando desde antes deste longa, portanto não há como se empolgar para ver um personagem se tornando uma pessoa diferente de quem era sendo que ele nunca foi desenvolvido para isso. Mencionar que alguém foi responsável pelos traumas não os faz existir do nada e simplesmente mostrar essa mesma pessoa não ameaça a cura dessas cicatrizes. Sem um roteiro ou um ator para representar toda essa situação, não dá para esperar que o enredo vá além de um nível risível de profundidade. Christian já se torna outra pessoa automaticamente depois de aceitar o novo acordo. Não é um processo gradual e as resistências externas e internas que jogam contra esse novo Christian nunca convencem de verdade.
Gostaria de dizer que esperava coisa melhor, mas não, sabia muito bem que pedir uma história boa de uma obra baseada na exposição de gente sem roupa era demais. Voltam os diálogos horríveis, o suspense inexistente, o conflito brando e todo o resto do pacote. Se de algum jeito alguém conseguiu gostar do primeiro, então não haverá muito do que reclamar. Para toda extravagância sádica a menos, há uma cena de sexo a mais.