Quando se pensa em entretenimento, se pensa em Delos: o apogeu em parques de diversão. O lugar é dividido em West World, Roman World e Medieval World, recriações fiéis de tempos históricos com robôs quase humanos tornando a experiência bem real. Quem quiser pode ser um monarca e desfrutar da mordomia de um castelo inteiro para si. Ou quem sabe mergulhar na luxúria da Roma Antiga e suas orgias regadas a frutas e vinho. Peter (Richard Benjamin) e John (James Brolin) escolhem cavalos, revólveres, uísque e prostitutas no lugar de tudo isso, aproveitando a lei do mais forte em “Westworld”. Mas quando os robôs começam a agir estranho sem muita explicação, a segurança dos hóspedes é colocada em risco.
Essa história de um parque incrível, a realização dos maiores sonhos, que dá muito errado pode parecer muito familiar; é só trocar o pistoleiro de Yul Brynner por um Tiranossauro que temos “Jurassic Park“. Mas que não haja engano: “Westworld” não chega nem perto da obra prima de Steven Spielberg. Falta orçamento, qualidade e aquele sentimento de maravilha de ver um Parque dos Dinossauros em ação. Sei que não dá para esperar o mesmo resultado de uma produção mais humilde, mas ainda assim é estranho ver um filme morno como esse dirigido por Michael Crichton, ninguém menos que o autor dos livros de “Jurassic Park”.
Até onde lembro, havia me empolgado bastante para conferir “Westworld”. Sua premissa e o pôster eram fortes atraentes para um filme não muito popular, mas relativamente bem falado em círculos mais alternativos. Então a HBO anunciou que adaptaria a obra num seriado de primeira linha — cheio de nomes como J.J. Abrams e Jonathan Nolan — e finalmente decidi ver do que essa Ficção Científica com um pouco de Faroeste e Terror se tratava. Infelizmente, o que encontrei não foi tão épico quanto o rosto meio cibernético de Yul Brynner no pôster. O resultado está mais para uma história simples, que pende para o superficial quando uma direção fraca exalta limitações técnicas e entrega sua cota de momentos dramaticamente falhos.
Não sou de olhar para orçamentos baixos com preconceito, pois é possível ter bons resultados com recursos bem administrados. Não dar uma mordida maior que a boca é um sinal de bom senso por parte do diretor. Mesmo sendo claramente um filme de baixo orçamento, a experiência mantém o espectador imerso ao esconder criativamente suas limitações. Por uma boa parte do tempo, as coisas acontecem assim em “Westworld”. Nem de longe os sets ou o clima geral do longa chegam a dar a imagem de grande produção, mas quem assiste fica ligado à história enquanto aquele grande parque é apresentado. Nesse ponto, a introdução daquele complexo, é que aparece talvez a única similaridade de verdade com “Jurassic Park“: ver as atrações funcionando antes de tudo ir para o inferno é muito divertido.
No geral, isso acontece porque existe um certo tom de sátira aqui. Os dois personagens principais curtem aquela fiel ressurreição do Velho Oeste de forma totalmente descontraída, exaltando alguns clichês do Faroeste no meio do caminho. O parque é um verdadeiro centro de exploração comercial e os filmes de bangue-bangue são mostrados como meros instrumentos de diversão; uma posição muito mais superficial perto do que foi lançado em décadas anteriores. Daqui saem duas coisas: uma crítica às obras mais comerciais do gênero e, mais do que isso, um comentário sobre a noção de progresso. Como no século 19 a corrida para o oeste era subir na vida, é apenas apropriado que esta seja a época escolhida para uma história que critica os tais avanços tecnológicos.
Então chega a hora que toda essa maravilha do futuro mostra sinais de fragilidade, basicamente, quando tudo dá errado e as pessoas começam a morrer. Esta foi outra oportunidade que poderia ter deixado “Westworld” mais perto de sua contraparte jurássica dos Anos 90, mas acaba sendo justamente o ponto em que os dois se separam. Enquanto um se torna uma aventura cheia de ação e momentos de suspense genuíno, o outro perde todo o charme e potencial que criou até então. Em uma falha de roteiro e direção, a história não consegue surpreender o espectador em grande parte das oportunidades. Não há nenhum tipo de choque quando o caos toma conta e falta sutilidade na hora de dar as pistas de que algo pode dar errado. Quando tudo desanda, resta apenas aquele sentimento de decepção diante de algo que era totalmente previsível.
Mas tudo bem, não é como se os planos deste último ato se sustentassem apenas em surpresas; há uma boa parte da trama que coloca o protagonista fugindo daquele caos, uma perseguição que tinha tudo para trazer toques de Terror e Suspense ao enredo. Tinha. Embora a audiência saiba mais do que deveria, ainda existia uma chance de impressionar através da execução dessas obviedades. Entra em ação Michael Crichton como diretor e sua falha em tornar certos momentos minimamente surpreendentes. Não existe um ângulo de câmera bem pensado ou uma edição que incite a tensão de alguém sendo caçado ou a glória de uma vitória. O roteiro esfrega as soluções para os problemas do protagonistas muito antes deles aparecerem e, finalmente, quando eles surgem o espectador já não liga mais. Não há apelo visual ou dramático numa fotografia que distancia o espectador da ação e torna a experiência impessoal, que, além de tudo, dá a “Westworld” um ar de obra amadora: mal executada, de baixo orçamento e nem um pouco marcante. Ironicamente, é por meio de seus fracassos que o filme mostra como deslizes mais próximos do clímax são mais graves. Poderia ser um caso de erros isolados, enquanto a realidade está mais para uma corrente de defeitos que vai revelando outros até então mais escondidos — como diálogos e atuações.
As coisa começam bem em “Westworld”. O espectador se diverte junto com os protagonistas conforme estes aproveitam o parque. Porém quando o jogo vira, o filme troca o caos pelo mau gosto. Mostram, mais do que nunca, a importância de um princípio clássico da escrita de roteiro: faça a audiência esperar que algo aconteça, de forma que não surja do nada, e surpreenda quando de fato acontecer. Não é ser previsível, como acontece aqui. Resta saber como a HBO vai adaptar uma história não muito rica num seriado com tanto dinheiro envolvido, uma adaptação direta dificilmente será o caminho escolhido.
1 comment
Realmente o filme deixa a muito a desejar, e eu ainda fui assistir com expectativa alta. O roteiro é simplesmente péssimo e cheio de furos, e a direção é confusa, recheada de erros de continuidade. Quase dormi assistindo.