Como muitos outros filmes por aí, o título de “Babylon 5: In the Beginning” pode enganar os desavisados. Realmente, “In the Beginning” indica corretamente que os eventos da história acontecem no começo de tudo, antes do seriado começar e da estação ser inaugurada. No entanto, que não haja engano: a ordem cronológica não é o caminho a se seguir aqui. Sua importância vai além de matar a curiosidade dos fãs, pois os eventos mostrados aqui são críticos para o que acontece ao longo das temporadas e resolvem algumas pontas soltas. Assistir tanta explicação antes da hora é como ver a noiva antes da cerimônia; as coisas perdem a graça e, neste caso, impacto dramático. Não é exatamente uma decisão inteligente, considerando o investimento de tempo que 5 temporadas exigem. Lembrando que o texto tem spoilers até o fim da quarta temporada.
No futuro previsto pelo episódio “War Without End”, da terceira temporada, uma figura conhecida surge. Este não é ninguém menos que Londo Mollari (Peter Jurasik), agora o grisalho imperador de um decadente Centauri Prime. Como previsto, o planeta está longe de seu auge, com prédios em chamas no horizonte e um clima de instabilidade. Ainda assim, Londo tira um tempo para contar um grande conto a duas crianças que entraram em seus aposentos sem querer. A história da guerra entre a humanidade e os Minbari é contada, revelando detalhes desconhecidos até então e o passado de muitas figuras conhecidas.
Quem acompanhou “Babylon 5” até o fim da quarta temporada pode se perguntar qual o propósito de um filme inteiro sobre essa guerra. Realmente, nessa altura da série o evento foi tão discutido e desenvolvido que parece não ter sobrado muito pra dizer. O vazio na mente de Sinclair já foi preenchido no começo da segunda temporada, seu destino foi mostrado na terceira e até a transformação de Delenn (Mira Furlan) teve explicação. Citando assim não parece que é muita coisa, mas essas são algumas das revelações mais importantes do seriado. Então, sim, assistir a “Babylon 5: In the Beginning” fora de ordem estraga boa parte da experiência. Mesmo falando o que já tinha dito, ainda restam alguns detalhes aos que seguiram a recomendação do Lurker’s Guide to Babylon 5 (Link).
O que chama a atenção é como uma história que supostamente só fala do passado também tem muito a dizer sobre o futuro. Assistir a “Babylon 5: In the Beginning” no momento certo funciona muito bem em meio aos episódios do seriado; diferente de “Thirdspace“, que é uma aventura entre episódios. Aqui pode-se ver em que momento personagens conhecidos entraram em jogo, aprender um pouco sobre aquele universo e ainda ficar curioso pelo que ainda não aconteceu. Antes da hora, esta obra estraga várias revelações da história; depois da hora, imagino que perde um pouco desse suspense sobre o que está por vir. Grande parte da história reconta o que o espectador já sabe: o que causou a guerra, os envolvidos, como ela se desenrolou e eventualmente acabou. O resto do tempo é preenchido com detalhes inéditos. Finalmente mostram como foi o massacre comandado pelos Minbari, incluindo alguns dos eventos mais importantes da guerra, como a derrota da Black Star nas mãos de Sheridan (Bruce Boxleitner).
A melhor parte de “Babylon 5: In the Beginning” não é essa, entretanto. Claro, vários eventos são bem interessantes quando vistos ao vivo, se posso dizer. Por outro lado, uma ilustração do que já era sido conhecido pelo boca-a-boca dos personagens não é exatamente receita pronta para entretenimento. Parte disso acontece pelos comentados efeitos especiais, que cumprem seu papel de mostrar o que acontece, mas hoje em dia falham em proporcionar a mesma empolgação de antes. Alguns acontecimentos eram melhores na minha imaginação, mais épicos do que foi mostrado. Sendo assim, o chamariz deixa de ser a ação de naves explodindo e dá lugar ao lado nostálgico da experiência. Ver Delenn de volta com o visual careca, por exemplo, foi mais interessante do que achei que seria. Seu visual de cabelo comprido sem o grande osso na nuca está há tanto tempo por aí que havia esquecido de como ela era antes. Melhor ainda é ver que Mira Furlan acompanha a mudança no visual e mostra uma Delenn diferente daquela das últimas temporadas, voltando à Minbari focada nas tradições de seu povo e menos ligada às culturas ao seu redor. Londo e G’Kar têm participações menores na história da guerra, mas não deixam de mostrar o bom trabalho dos atores que lhes dão vida. Londo é um jovem Centauri ambicioso que manipula sutilmente a Terra em suas negociações, enquanto G’Kar deixa de lado a sabedoria adquirida nos últimos tempos e volta ao personagem obcecado de antes. Mais do que um retorno às origens, é legal ver como os personagens mudaram ao longo do tempo e se desenvolveram. Em 4 temporadas “Babylon 5” foi muito longe com sua história.
Até agora o melhor filme que saiu do universo da série, “Babylon 5: In the Beginning” funciona por se encaixar muito bem entre os episódios. Não é apenas um episódio estendido, mas uma experiência que complementa o que é visto nas temporadas. Os eventos esclarecem melhor o que aconteceu no passado — com o bônus da nostalgia — e despertam a curiosidade pelo futuro: as coisas realmente serão como previsto antes? Mesmo se forem, como diabos elas chegarão naquele ponto? Não sei se tais questões foram planejadas por J. Michael Straczynski quando ele lançou este filme no meio da quinta temporada, mas o Lurker’s Guide to Babylon 5 certamente sabia o que fazia quando o colocou logo depois do fim da Quarta Temporada.