Com a famosa série de filmes de dinossauro de volta ao boca a boca do público, muitos decidiram relembrar a trilogia lançada quase 20 anos antes, inclusive eu. “Jurassic Park” é quase universalmente amado e frequentemente dá as caras entre os melhores de Steven Spielberg e dos Anos 90 em geral. A continuação, chamada “The Lost World: Jurassic Park“, já não foi tão feliz. Alguns ainda conseguem gostar, já eu achei um retrocesso absurdo que é quase ofensivo ao original. Então chega “Jurassic Park III”, a segunda continuação e o alvo mais frequente do ódio alheio. A pessoa pode lembrar ter a trilogia recente na memória ou não: quase sempre este filme é considerado o pior de todos. No entanto, o estrago não é tão grande quanto pintaram ao longo dos anos.
De fato a estrutura geral do filme apresentava várias mudanças — até mais que no segundo longa — a mais explícita delas sendo a entonação, efetivamente o que querem construir com a história. Deixados de lado estão o suspense e o sentimento de perigo, que dão lugar a uma a um foco maior na ação e na aventura. “Jurassic Park III” não liga tanto para o que foi feito no original e está bem seguro disso. Seu propósito é gerar entretenimento com cenas agitadas e dinossauros para todos os lados — não muito diferente do que “Jurassic World” faz. Mas se este é o caso, por que o mais recente foi melhor recebido? Os sucessos de um não são universalmente reconhecidos para haver tanta diferença. Acredito até que “Jurassic Park III” faz algumas coisas melhor.
A crítica foi rígida com a nova postura deste longa, comparando-a frequentemente aos acertos do primeiro. Em uma coisa eles têm razão: o original é melhor como filme. Mas se essa linha for seguida até o fim o resultado será o mesmo sempre, pois nenhuma continuação supera o primeiro. Sendo assim, este longa mostra que é mais válido mudar a abordagem e ser sólido nela do que tentar reproduzir os sucessos de outra obra e falhar nisso. “The Lost World: Jurassic Park” peca exatamente neste ponto, sendo a verdadeira continuação mais fraca de todas. O terceiro longa da série abraça a mudança e esquece qualquer tipo de pretensão. Seu objetivo é fazer o melhor que pode com o que tem nas mãos, ainda que essa parte inclua personagens bidimensionais, uma trama muito simples e quase nenhum suspense.
Em “Jurassic Park” ligam duas idéias muito interessantes: a maravilha de explorar dinossauros como se fossem novidade — e conseguir isso; e o suspense do caos resultante. “Jurassic Park III” assume que o espectador conhece o plano de fundo — o que é verdade, pois o conceito do parque é bem conhecido — e não demora para apresentar uma coleção de problemas para os protagonistas. Um garoto e seu padrasto participam de um passeio de barco perto da Ilha Sorna, mas um acidente com o barco prende os dois na ilha. Os pais do garoto, preocupados, buscam ajuda do Dr. Alan Grant (Sam Neill) para guiá-los no resgate, mas o que parecia um plano simples não dá muito certo quando um Espinossauro entra na jogada.
Nem preciso dizer que esta é a premissa mais simples da série. Mas, como dito em outros textos, isso não caracteriza um defeito por si; é o que vem no pacote que costuma complicar a situação. Fica clara a decisão de simplificar tudo e trabalhar apenas com o fóssil do que foi feito antes. O lado bom disso é que alivia a tarefa de criar um material decente; o ruim é que restringe os possíveis sucessos consideravelmente. Afinal, há um limite para o número de coisas que um elenco raso de personagens pode fazer pela história. O espectador não demora para sacar todas as facetas de cada pessoa, então é só uma questão de ligar os pontos para saber quem morre, quem vive e quem vai falar o que. Do começo ao fim não há muitas surpresas. Vários momentos bons, sim, mas uma reviravolta ou evento chocante só muito raramente. Fazem o possível para criar uma experiência divertida totalmente baseada no entretenimento da ação com dinossauros, pecando apenas quando esquecem que o roteiro se resume a isso, basicamente. Todo o lance da família unida, da reunião entre pais e filho e relações de amizade é tão fraco que é impossível deixar tudo passar batido. Nesse ponto nota-se que cometem o mesmo erro de seu predecessor ao tentar reproduzir o que veio antes — de maneira falha, claro. A escolha de Téa Leoni é, talvez, o sinal mais evidente de que tentam resgatar pelo menos a fisionomia de Laura Dern, atriz do primeiro filme, já que criar uma personagem do mesmo nível aparentemente não estava nos planos.
Curiosamente, conseguem piorar ainda mais este conceito de família em “Jurassic World” quando tentam desenvolver essas relações sem criar algo bom no final. Então volto ao que disse sobre “Jurassic Park III” não ser tão ruim quanto falaram tanto ao longo dos anos. Especialmente quando existem mais similaridades com a continuação de 2015 do que muitos admitem. Considerando ao que este longa se propõe, acredito que sua proposta consegue ser bem direta ao ponto, mesmo que diferente do que veio antes.